Bibliografia recomendada 2 - Educação científica na perspectiva de letramento como prática social: funções, princípios e desafios
Santos, 2007 Letramento na perspectiva social.pdf
Documento PDF (280.7KB)
Documento PDF (280.7KB)
Wildson Luiz Pereira dos Santos
Educação científica na perspectiva de
letramento como prática social: funções,
princípios e desafios
Wildson Luiz Pereira dos Santos
Universidade de Brasília, Programa de Pós-Graduação em Educação e Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências
Introdução
Ao discutir sobre alfabetização científica, Chassot
(2003) considera-a domínio de conhecimentos científicos e tecnológicos necessários para o cidadão desenvolver-se na vida diária. Em trabalho anterior sobre o mesmo tema, Chassot (2000) apresenta a ciência
como uma produção cultural marcada principalmente por uma visão ocidental caracterizada pela nossa
educação eurocêntrica. Nessa visão, pode-se considerar que sua origem cultural remonta ao século XVI.
Em suas proposições, Francis Bacon (1561-1626) já
apontava o papel da ciência a serviço da humanidade. A partir do século XIX, tanto na Europa como nos
Estados Unidos, a ciência incorporou-se ao currículo
escolar (DeBoer, 2000). Também a partir daquele século, eram encontradas na Inglaterra e nos Estados
Unidos publicações de livros e artigos sobre ciências
destinados ao público geral, bem como artigos que
destacavam a importância do estudo da ciência pelo
público (Hurd, 1998; Layton, Davey & Jenkins, 1986;
Shamos, 1995). Layton, Davey e Jenkins (1986) citam obras científicas para o público datadas do século XVIII.
474
No início do século XX, a alfabetização ou letramento1 científico começou a ser debatido mais profundamente. Desses estudos iniciais, pode-se destacar
o trabalho de John Dewey (1859-1952), que defendia
nos Estados Unidos a importância da educação científica. Esses estudos passaram a ser mais significativos
nos anos de 1950, em pleno período do movimento
cientificista, em que se atribuía uma supervalorização
ao domínio do conhecimento científico em relação às
demais áreas do conhecimento humano. A temática
tornou-se um grande slogan, surgindo um movimento
mundial em defesa da educação científica.
1
Na revisão de estudos sobre o significado do processo de
alfabetização científica e tecnológica, tomou-se como referência
artigos da literatura inglesa que empregam o termo literacy, que
pode ser traduzido para o português como alfabetização ou como
letramento (ou literacia, no português de Portugal). Mais adiante
será apresentada uma discussão em torno de significados que podem ser atribuídos a esses dois vocábulos. Assim, neste artigo são
empregadas as duas denominações, usando o termo letramento
apenas quando o seu significado se referir ao uso social do conhecimento científico, na acepção adotada por Soares (1998).
Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 36 set./dez. 2007
Educação científica na perspectiva de letramento como prática social
No Brasil, a preocupação com a educação científica foi mais tardia. No século XIX, o currículo escolar era marcado predominantemente pela tradição
literária e clássica herdada dos jesuítas. Apesar do
incentivo de dom Pedro II (1825-1891), um cultor das
ciências, e de discursos positivistas de intelectuais
brasileiros em favor da ciência, como Rui Barbosa
(1849-1923), o ensino de ciências teve pouca prioridade no currículo escolar (Almeida Júnior, 1979). Esse
ensino passou efetivamente a ser incorporado ao currículo escolar nos anos de 1930, a partir de quando
começou um processo de busca de sua inovação
(Krasilchik, 1980). Esse processo de inovação teve
início com um processo de atualização curricular e
depois continuou com a produção de kits de experimentos na década de 1950 e com a tradução de projetos americanos e a criação de centros de ensino de
ciências na década de 1960, culminando com o início
da produção de materiais por educadores brasileiros
na década de 1970 (idem, ibidem). Foi também a partir dos anos de 1970 que teve início efetivo a pesquisa na área de educação em ciências no Brasil, a qual
se foi consolidando nos últimos 35 anos, de forma
que hoje se conta com uma comunidade científica
atuante em mais de 30 programas de pós-graduação
em ensino de ciências, com a realização regular de
congressos científicos específicos nessa área e com a
publicação de periódicos acadêmicos sobre a temática, tendo sido produzidas cerca de 1.100 dissertações
de mestrado e teses de doutorado entre 1972 e 2003,
de acordo com pesquisa de Megid Neto, Fracalanza e
Fernandes (2005).
A preocupação crescente com a educação científica vem sendo defendida não só por educadores
em ciências, mas por diferentes profissionais; seus
objetivos têm tido uma grande abrangência. Ocorre
que, tendo surgido essa temática em diferentes contextos, os autores estão longe de chegar a um consenso (Jenkins, 1990, 1997; Laugksch, 2000). Isso
pode ser explicado pelo fato de a educação científica
ser um conceito amplo que depende do contexto histórico no qual ela é proposta (DeBoer, 2000;
Laugksch, 2000) e por depender de pressupostos ideo-
Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 36 set./dez. 2007
lógicos e filosóficos (Aikenhead, 1997; Champagne
& Lovitts, 1989).
Nesse sentido, torna-se importante discutir os
diferentes significados e funções que se têm atribuído à educação científica com o intuito de levantar referenciais para estudos na área de currículo, filosofia
e política educacional que visem analisar o papel da
educação científica na formação do cidadão. No presente artigo, é apresentada uma revisão de estudos
desenvolvidos no âmbito da educação em ciências,
visando contribuir para uma reflexão sobre as suas
diferentes funções. Essa revisão fornece elementos
para estudos críticos de processos avaliativos de nível de alfabetização da população brasileira e da qualidade do ensino de ciências; de análise e proposição
de programas de reforma curricular; de estudos sobre
políticas públicas na área de formação de professores
de ciências e programas de melhoria da qualidade
desse ensino, como programas de livros didáticos. Isso
se torna essencial, no momento em que resultados de
exames nacionais apontam como grande desafio a
busca pela melhor qualidade da educação básica.
Educação científica:
enfoques e perspectivas de análise
Merton (1910-2003), em seus clássicos trabalhos
de sociologia da ciência, já considerava as condições
sociais de produção e apropriação do conhecimento.
Mesmo ao tratar a ciência do seu ponto de vista internalista, com relação às normas de seu funcionamento,
Merton (1968) destacava as pressões sociais sobre a
autonomia da ciência, sobretudo nos países de regimes
totalitários. Com diferentes perspectivas sobre as relações entre ciência, tecnologia e sociedade, os estudiosos da sociologia da ciência foram ampliando as proposições analíticas sobre a base da organização e
interação dos praticantes da ciência. Kuhn (1922-1996)
destacou o papel da comunidade científica no estabelecimento dos paradigmas científicos. Bourdieu (19302002) afirmou que “a verdade científica reside numa
espécie particular de condições sociais de produção;
isto é, mais precisamente, num estado determinado da
475
Wildson Luiz Pereira dos Santos
estrutura e do funcionamento do campo científico”
(Bourdieu, 1994, p. 122). Ampliando a análise desse
campo, outro grupo de sociólogos, como Latour e
Woolgar (1979) e Knorr-Cetina (1981), identificou as
condições sociais internas de produção do conhecimento científico, demonstrando como o fato científico é
construído no contexto sociopolítico, no qual tomam
parte vários atores, incluindo cientistas e não-cientistas, e reunindo argumentos técnicos e não-técnicos.
Fugindo do propósito de aqui fazer uma revisão
das várias correntes filosóficas que tratam da perspectiva da ciência na sociedade, pode-se tomar a caracterização de Gerard Radnitzky (1970) da ciência
como um sistema social essencialmente relacionado
ao desenvolvimento do conhecimento. Esse sistema,
ilustrado na Figura 1, é bastante útil para compreender os diferentes significados que têm sido tomados
para a educação científica. No sistema apresentado,
incluem-se, entre outros componentes, os produtores
(cientistas), o processo de pesquisa, os produtos etc.
Para Radnitzky (1970), na análise desse sistema, podese enfocar cada um de seus componentes com perspectivas diferentes. O enfoque nos produtos, enquanto sistemas simbólicos, pode levar a uma análise de
aspectos lógicos, semânticos, teóricos e epistemológicos da ciência, enquanto o enfoque nos produtores
e usuários terá uma perspectiva centrada na ciência
em sociedade, com estudos de aspectos sociológicos,
psicológicos, historiográficos, culturais e políticos.
Certamente a análise de cada um desses componentes apresentará significados e razões diversas para o
conhecimento científico.
Considerando, então, que a ciência engloba diferentes atores sociais e que a compreensão desse campo depende da análise das inter-relações entre esses
atores, pode-se considerar que a compreensão dos
propósitos da educação científica passa por uma análise dos diferentes fins que vêm sendo atribuídos a
ela pelos seus diversos atores.
Na área de pesquisa de ensino de ciências
(Gilbert, 1995), estudos sobre educação científica vêm
sendo desenvolvidos com a denominação scientific
literacy, estando também associados a estudos sobre
476
Figura 1 – O sistema ciência-sociedade
Adaptado de Radnitzky (1970).
scientific and technological literacy (STL). Essa terminologia pode ser traduzida como alfabetização científica (AC ou ACT, quando se inclui a tecnologia) –
ou como letramento científico (LC ou LCT).
Em artigo de revisão sobre AC/LC, Laugksch
(2000) identificou vários fatores que influenciam interpretações do significado da educação científica.
Para ele, tais fatores incluem a existência de diferentes grupos de atores sociais preocupados com a educação científica, diferentes definições conceituais para
os termos alfabetização ou letramento, diferentes propósitos para essa educação, assim como diferentes
estratégias que têm sido adotadas na mensuração do
nível de alfabetização das pessoas sobre ciência.
Para Laugksch (2000), o entendimento do significado de AC/LC tem sido objeto de preocupação de
educadores em ciência, cientistas sociais, pesquisadores de opinião pública, sociólogos da ciência, e
profissionais envolvidos na educação formal e nãoformal em ciências, como professores e profissionais
que trabalham com a divulgação da ciência, jornalistas e profissionais de museus, centros de ciências,
parques ambientais, jardins botânicos etc. (Figura 2).
Cada um desses grupos sociais terá enfoque diferente para os diversos contextos de AC/LC. Enquan-
Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 36 set./dez. 2007
Educação científica na perspectiva de letramento como prática social
Figura 2 – Alguns atores sociais interessados
em letramento científico e tecnológico
Todos esses argumentos, de alguma forma, estão
presentes no currículo escolar e constituem fatores
de influência no seu planejamento. Assim, se a prioridade da alfabetização for melhorar o campo de conhecimento científico, preparando novos cientistas,
o enfoque curricular será centrado em conceitos científicos; se o objetivo for voltado para a formação da
cidadania, o enfoque englobará a função social e o
desenvolvimento de atitudes e valores (Ratcliffe &
Grace, 2003).
Domínios da educação científica:
alfabetização e letramento
to os educadores em ciência se preocupam com a educação nos sistemas de ensino, os cientistas sociais
estão voltados para o interesse do público em geral
por questões científicas; os sociólogos, envolvidos
com a interpretação diária da ciência; os comunicadores da ciência, com a divulgação científica em sistemas não-formais; e os economistas, interessados no
crescimento econômico decorrente do maior consumo da população por bens tecnológicos mais sofisticados que requerem conhecimentos especializados,
como o uso da informática.
Com essas perspectivas diferentes, surgem também diversos argumentos para justificar AC/LC.
Millar (1996) agrupa esses argumentos em cinco categorias: a) argumento econômico, que conecta o nível de conhecimento público da ciência com o desenvolvimento econômico do país; b) utilitário, que
justifica o letramento por razões práticas e úteis;
c) democrático, que ajuda os cidadãos a participar das
discussões, do debate e da tomada de decisão sobre
questões científicas; d) social, que vincula a ciência à
cultura, fazendo com que as pessoas fiquem mais simpáticas à ciência e à tecnologia; e e) cultural, que tem
como meta fornecer aos alunos o conhecimento científico como produto cultural.
Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 36 set./dez. 2007
A ênfase curricular no ensino de ciências proposta pelos educadores em ciência tem mudado em
função de contextos sócio-históricos. No final dos
anos de 1950, em plena Guerra Fria, com o lançamento do primeiro satélite artificial – o Sputinik –,
houve, da parte dos Estados Unidos, uma corrida para
apressar a formação de cientistas, o que levou à elaboração de projetos curriculares com ênfase na vivência do método científico, visando desenvolver nos
jovens o espírito científico (Krasilchik, 1987). Naquela época, propunha-se uma educação científica
para a educação básica, no sentido de preparar os jovens para adquirir uma postura de cientista, pensando e agindo no seu cotidiano como cientistas.
No final da década seguinte, com o agravamento
de problemas ambientais, começou a surgir uma preocupação dos educadores em ciência por uma educação científica que levasse em conta os aspectos sociais relacionados ao modelo de desenvolvimento
científico e tecnológico. Foi assim que começou a
surgir em diversos países, no final dos anos de 1970 e
no início da década seguinte, propostas curriculares
para a educação básica com ênfase nas inter-relações
ciência-tecnologia-sociedade (CTS) (Waks, 1990;
Yager & Roy, 1993). Esses currículos apresentavam
o conteúdo de ciências da natureza com enfoque
nas ciências sociais. Tais propostas tinham uma perspectiva marcadamente ambientalista, apresentando
uma visão crítica ao modelo de desenvolvimento; por
477
Wildson Luiz Pereira dos Santos
isso, alguns a identificaram como ciência-tecnologiasociedade-ambiente (CTSA).
Outros enfoques para a educação científica continuaram a surgir. Enquanto alguns autores defendiam a educação para a ação social responsável, a
partir de uma análise crítica sobre as implicações sociais da ciência e da tecnologia, outros passaram a
defender a compreensão da natureza da atividade científica como aspecto central na educação científica.
Assim, diferentes concepções e perspectivas foram
sendo propostas sobre o que seria AC/LC. Em uma
revisão sobre essas concepções, Norris e Phillips
(2003) identificaram os seguintes significados para
essa educação: a) conhecimento do conteúdo científico e habilidade em distinguir ciência de não-ciência; b) compreensão da ciência e de suas aplicações;
c) conhecimento do que vem a ser ciência; d) independência no aprendizado de ciência; e) habilidade
para pensar cientificamente; e) habilidade de usar conhecimento científico na solução de problemas; f) conhecimento necessário para participação inteligente
em questões sociais relativas à ciência; g) compreensão da natureza da ciência, incluindo as suas relações
com a cultura; h) apreciação do conforto da ciência,
incluindo apreciação e curiosidade por ela; i) conhecimento dos riscos e benefícios da ciência; ou j) habilidade para pensar criticamente sobre ciência e negociar com especialistas.
O que sobressai da leitura dos trabalhos de AC/
LC, muitos dos quais estão na revisão de Norris e
Phillips (2003) sumarizada nos domínios anteriores,
é o fato de cada autor enfatizar determinados domínios, apresentando argumentos filosóficos diferentes
para sustentar seu posicionamento. Esses autores,
embora não coincidam com enunciados que caracterizam AC ou LC, em tese incluem sempre dois grandes grupos de categorias: um que incorpora as relativas à especificidade do conhecimento científico, e
outro que abrange as categorias relativas à função
social.
Nesse sentido, pode-se observar que os domínios
das categorias de a) a e) anteriores se referem ao conhecimento e ao desenvolvimento de habilidades em
478
relação à atividade científica. Já as categorias de f) a
k) referem-se a conhecimentos, habilidades e valores
relacionados à função social da atividade científica,
incluindo categorias de natureza cultural, prática e
democrática.
Esses dois grandes domínios estão centrados no
compreender o conteúdo científico e no compreender
a função social da ciência. Apesar de serem enfatizados de formas diferentes pelos autores que discutem
educação científica, eles estão inter-relacionados e
imbricados. Pela natureza do conhecimento científico, não se pode pensar no ensino de seus conteúdos
de forma neutra, sem que se contextualize o seu caráter social, nem há como discutir a função social do
conhecimento científico sem uma compreensão do seu
conteúdo. Afinal, como afirma Morin (2000), há um
tecido interdependente e inter-retroativo entre o objeto do conhecimento e o seu contexto.
Isso, contudo, não tem sido a característica da
educação científica na educação formal, que desde o
ensino fundamental até a pós-graduação vem sendo
abordada cada vez mais com fragmentação e especialização. Dessa forma, as discussões sobre educação científica muitas vezes acabam por priorizar um
domínio em relação a outro.
Sem querer propor uma dicotomia entre os dois
domínios, no presente artigo, caracteriza-se essa distinção adotando a mesma categorização que se vem
usando para alfabetização e letramento nas ciências
lingüísticas e em educação. Para Magda Soares (1998),
o termo alfabetização tem sido empregado com o sentido mais restritivo de ação de ensinar a ler e a escrever; o termo letramento refere-se ao “estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas
cultiva e exerce práticas sociais que usam a escrita”
(p. 47).
De acordo com essa conceituação, uma pessoa
alfabetizada, que sabe ler e escrever, pode não ser letrada, caso não faça uso da prática social de leitura,
ou seja, apesar de ler, não é capaz de compreender o
significado de notícias de jornais, avisos, correspondências, ou não é capaz de escrever cartas e recados.
Isso é o que se tem chamado de analfabetismo fun-
Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 36 set./dez. 2007
Educação científica na perspectiva de letramento como prática social
cional. Ao contrário, uma pessoa pode não ser alfabetizada, mas ser letrada se tiver contato diário com as
informações do mundo da leitura e da escrita, por meio
de pessoas que lêem ou escrevem para ela as notícias
de jornal, as cartas ou os recados (Soares, 1998).
Chassot (2000) considera inadequado o termo
alfabetização, pois carrega a primazia da óptica ocidental da escrita alfabética, desconsiderando a linguagem de outras civilizações que adotaram escritas cuneifórmica, hieroglífica e ideogrâmica. Todavia,
Chassot (2000), em sua obra, acaba adotando o termo
alfabetização, mencionando que letramento não está
dicionarizado e que letrado apresenta conotações pernósticas. Krasilchik e Marandino (2004) entendem que
o termo alfabetização científica já se consolidou na
prática social, apesar da distinção entre alfabetização
e letramento. Nesse sentido, elas consideram que a
alfabetização já engloba a idéia de letramento.
Neste artigo, adota-se a diferenciação entre alfabetização e letramento, pois na tradição escolar a alfabetização científica tem sido considerada na acepção
do domínio da linguagem científica, enquanto o letramento científico, no sentido do uso da prática social,
parece ser um mito distante da prática de sala de aula.
Ao empregar o termo letramento, busca-se enfatizar a
função social da educação científica contrapondo-se
ao restrito significado de alfabetização escolar.
Nesse sentido, a conceituação apresentada por
Krasilchik e Marandino (2004) para alfabetização
como “capacidade de ler, compreender e expressar
opiniões sobre ciência e tecnologia” (p. 26) corresponderia ao que se denomina aqui letramento científico. Note-se que essa caracterização é também muito
próxima do que Chassot (2000) considerou alfabetização: “conjunto de conhecimentos que facilitariam
aos homens e mulheres fazer uma leitura do mundo
onde vivem” (p. 34).
Deve-se observar que, enquanto a alfabetização
pode ser considerada o processo mais simples do domínio da linguagem científica e enquanto o letramento, além desse domínio, exige o da prática social, a
educação científica almejada em seu mais amplo grau
envolve processos cognitivos e domínios de alto ní-
Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 36 set./dez. 2007
vel. Shamos (1995) denominou letramento2 científico propriamente dito o processo que envolve um
conhecimento mais aprofundado dos construtos teóricos da ciência e da sua epistemologia, com compreensão dos elementos da investigação científica, do papel da experimentação e do processo de elaboração
dos modelos científicos. Letramento científico, nessa
perspectiva, consiste na formação técnica do domínio das linguagens e ferramentas mentais usadas em
ciência para o desenvolvimento científico. Para isso,
os estudantes deveriam ter amplo conhecimento das
teorias científicas e ser capazes de propor modelos
em ciência. Isso exige não só o domínio vocabular
mas a compreensão de seu significado conceitual e o
desenvolvimento de processos cognitivos de alto nível de elaboração mental de modelos explicativos para
processos e fenômenos. Esse domínio do letramento
científico foi identificado por Shamos (1995) como
“true” scientific literacy (letramento científico autêntico ou propriamente dito); por Laugksch (2000),
como erudição ou competência.
Letramento científico e a função social
O conceito de letramento no sentido da prática
social está muito presente na literatura de educação
científica. Shamos (1995) considera que um cidadão
letrado não apenas sabe ler o vocabulário científico,
mas é capaz de conversar, discutir, ler e escrever coerentemente em um contexto não-técnico, mas de forma significativa. Isso envolve a compreensão do impacto da ciência e da tecnologia sobre a sociedade
em uma dimensão voltada para a compreensão pública da ciência dentro do propósito da educação básica
de formação para a cidadania (Santos & Schnetzler,
1997).
2
Consideramos esse domínio como letramento, pois, sendo
o maior domínio na educação científica, ele confere capacidade
cognitiva ao estudante de fazer uso social do conhecimento científico.
479
Wildson Luiz Pereira dos Santos
Laugksch (2000) define LC com função social
como aquele que desenvolve a capacidade mínima
funcional para agir como consumidor e cidadão. Isso
corresponderia à categoria cívica de Shen (1975), a
qual se refere ao conhecimento essencial que as pessoas necessitam para compreender as políticas públicas, visando prepará-las para atuar na sociedade, quer
compreendendo os processos relativos ao seu cotidiano e os problemas sociais vinculados à ciência e
tecnologia, quer participando do processo de decisão
sobre questões envolvendo saúde, energia, alimentação, recursos naturais, ambiente e comunicação.
Prewitt (1983) considera que o letramento científico
para cidadão tem origem nas interações entre a ciência e a sociedade e promove o que ele chama de savvy
citizen (“cidadão prático”): aquele que, apesar de não
ser cientista ou tecnólogo, é capaz de atuar na sociedade em nível pessoal e social, compreendendo com
perspicácia a profundidade, os princípios e as estruturas que governam situações complexas, compreendendo como a ciência e a tecnologia influenciam a
sua vida. Para Fourez (1997, p. 51),
[...] as pessoas poderiam ser consideradas cientifica e tecnologicamente letradas quando seus conhecimentos e habilidades dão a elas um certo grau de autonomia (a habilidade de ajustar suas decisões às restrições naturais ou sociais), uma certa habilidade de se comunicar (selecionar
um modo de expressão apropriado) e um certo grau de controle e responsabilidade em negociar com problemas específicos (técnico, mas também emocional, social, ético e
cultural). (tradução livre)
Nesse contexto, o letramento dos cidadãos vai
desde o letramento no sentido do entendimento de princípios básicos de fenômenos do cotidiano até a capacidade de tomada de decisão em questões relativas a
ciência e tecnologia em que estejam diretamente envolvidos, sejam decisões pessoais ou de interesse público. Assim, uma pessoa funcionalmente letrada em
ciência e tecnologia saberia, por exemplo, preparar
adequadamente diluições de produtos domissanitários;
compreender satisfatoriamente as especificações de
480
uma bula de um medicamento; adotar profilaxia para
evitar doenças básicas que afetam a saúde pública; exigir que as mercadorias atendam às exigências legais
de comercialização, como especificação de sua data
de validade, cuidados técnicos de manuseio, indicação dos componentes ativos; operar produtos eletroeletrônicos etc. Além disso, essa pessoa saberia
posicionar-se, por exemplo, em uma assembléia comunitária para encaminhar providências junto aos órgãos públicos sobre problemas que afetam a sua comunidade em termos de ciência e tecnologia.
O letramento como prática social implica a participação ativa do indivíduo na sociedade, em uma
perspectiva de igualdade social, em que grupos minoritários, geralmente discriminados por raça, sexo e
condição social, também pudessem atuar diretamente pelo uso do conhecimento científico (Roth & Lee,
2004). Isso requer também o desenvolvimento de valores (Santos & Schnetzler, 1997), vinculados aos interesses coletivos, como solidariedade, fraternidade,
consciência do compromisso social, reciprocidade,
respeito ao próximo e generosidade. Eles estão relacionados às necessidades humanas e deveriam ser vistos como não subordinados aos valores econômicos.
Por exemplo: as pessoas lidam diariamente com
dezenas de produtos químicos e têm que decidir qual
devem consumir e como fazê-lo. Essa decisão poderia ser tomada levando em conta não só a eficiência
dos produtos para os fins que se desejam mas também seus efeitos sobre a saúde, seus efeitos ambientais, seu valor econômico, as questões éticas relacionadas à sua produção e comercialização. Por exemplo,
poderia ser considerado pelo cidadão, na hora de consumir determinado produto, se na sua produção é usada mão-de-obra infantil ou se os trabalhadores são
explorados de maneira desumana; se em alguma fase,
da produção ao descarte, houve geração de resíduos
que agridem o ambiente; se ele é objeto de contrabando ou de outra contravenção etc.
Outro significado que tem sido atribuído à alfabetização/letramento científico é o cultural. Esse papel dado à educação científica está presente em muitos dos estudos sobre AC/LC, de tal modo que hoje a
Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 36 set./dez. 2007
Educação científica na perspectiva de letramento como prática social
educação científica tem sido vista como processo de
enculturação. Um recente trabalho do escritório da
Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (UNESCO) no Brasil sobre educação científica intitulou-a cultura científica (Macedo,
2003). Krasilchik e Marandino (2004) caracterizam a
educação científica também como a capacidade de
participar da cultura científica da maneira que cada
cidadão, individual e coletivamente, considera oportuno. Em sua tese de doutorado, Leodoro (2005) ressalta o aspecto valorativo da educação científica no
sentido de ela ser assumida pelos educandos como
cultura científica, não apenas no sentido da vulgarização de seu conhecimento mas também do exercício crítico de seu modo de pensar.
O entendimento do significado cultural da educação científica vem manifestando-se com diferentes
conceituações. A partir do trabalho original de 1959
de Snow (1995), em que identificou a existência de
duas culturas, a científica e a humanística, Shen (1975)
identificou um tipo de letramento como LC cultural.
Para ele, essa categoria de letramento significava o
conhecimento que os indivíduos adquirem para transpor as diferenças entre as culturas científica e humanística. DeBoer (2000) apresenta, entre outros propósitos para o letramento, o ensino e a aprendizagem de
ciências como uma força cultural no mundo moderno
e a aprendizagem de ciências por seus apelos estéticos. Para Ramsey (1993), o letramento cultural lida
com a compreensão da ciência como principal realização humana e como parte de nossa cultura geral.
Fleming (1989) considera que uma pessoa letrada é
aquela que tem acesso à cultura e pode ser capaz de
mover-se além dela para criar novas formas de cultura. Arons (1983) define LC como um processo que,
além de considerar a ciência um corpo de conhecimento e habilidades, considera-a um produto da mente
humana, de natureza experimental, que tem limites e
que interage com a sociedade nos seus planos moral e
ético. Já Driver e colegas (1994)3 consideram a edu-
cação científica um processo de enculturação em que
o aluno aprende a linguagem, o modo de pensar, de
expressar-se e de justificar os seus argumentos.
Com essas perspectivas, deve-se considerar que
o processo de letramento não deve ser tomado apenas
com um caráter prático, no sentido de ter uma aplicação imediata, o que Shen (1975) denominou LC prático,4 afinal, o conhecimento científico faz parte da
cultura humana e possui valor por si mesmo. Nesse
sentido, pode-se considerar que muitos conteúdos
científicos se justificam não pelo seu caráter prático
imediato, mas pelo seu valor cultural. Contudo, não
se quer com isso justificar conteúdos que aparecem
como penduricalhos nos programas escolares, como
classificações descontextualizadas sem qualquer significado no campo científico e vocábulos obsoletos.
Há de considerar-se, ainda, que conteúdos científicos
com valor cultural, quando contextualizados, passam
a ter significado para os alunos. Ocorre que a forma
descontextualizada como o ensino de ciências é praticado nas escolas faz com que muitos dos conceitos
científicos se transformem em palavreados tomados
como meros ornamentos culturais repetidos pelos alunos sem qualquer significação cultural.
Ensino de ciência-tecnologia-sociedade
e letramento científico
Segundo Aikenhead (1997), o movimento CTS
surgiu em um contexto diferente do movimento de
LCT. Enquanto o primeiro movimento surgiu pelo
contexto marcado pela crítica ao modelo de desenvolvimento científico e tecnológico, o segundo nasceu por pressões sociais pelas mais diferentes razões,
desde as econômicas até as práticas. Apesar da diferença de contexto, tanto os estudiosos de CTS quanto
4
Para Shen (1975), o letramento prático significa a “posse
do tipo de conhecimento científico e técnico que pode ser imediatamente usado para ajudar a melhorar o padrão de vida das pes-
3
Uma tradução desse artigo foi publicada na revista Quími-
ca Nova na Escola, n. 9, p. 31-40, maio 1999.
Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 36 set./dez. 2007
soas” (p. 265), o que se relaciona com as necessidades humanas
básicas de alimentação, saúde e habitação.
481
Wildson Luiz Pereira dos Santos
os de LCT apresentam pontos em comum, quando
destacam a função social do ensino de ciências.
Cursos de CTS para o ensino de ciências têm
sido propostos tanto para a educação básica quanto
para cursos superiores e até de pós-graduação. O objetivo central desse ensino na educação básica é promover a educação científica e tecnológica dos cidadãos, auxiliando o aluno a construir conhecimentos,
habilidades e valores necessários para tomar decisões
responsáveis sobre questões de ciência e tecnologia
na sociedade e atuar na solução de tais questões
(Aikenhead, 1994; Santos & Mortimer, 2000; Santos
& Schnetzler, 1997; Solomon, 1993; Teixeira, 2003;
Yager, 1990).
Segundo Roberts (1991), currículos de ciências
com ênfase em CTS são aqueles que tratam das interrelações entre explicação científica, planejamento tecnológico e solução de problemas e tomada de decisão
sobre temas práticos de importância social. Assim,
uma proposta curricular de CTS pode ser vista como
uma integração entre educação científica, tecnológica e social (Figura 3), em que os conteúdos científicos e tecnológicos são estudados juntamente com a
discussão de seus aspectos históricos, éticos, políticos e socioeconômicos (López e Cerezo, 1996).
Figura 3 – Orientações curriculares
do ensino de CTS (Aikenhead, 1990)
No Brasil, desde a década de 1970, já havia edu-
482
cadores preocupados em inserir no currículo escolar
de ciências questões relativas aos efeitos ambientais
decorrentes do desenvolvimento tecnológico (Krasilchik,
1987). Todavia, apesar da existência de propostas
curriculares em outros países com a denominação CTS
desde a década de 1980, aqui essa denominação só
começou a surgir a partir da década de 1990 (Leal &
Gouvêa, 2002), sendo que o seu uso ainda não se popularizou. No capítulo da área de conhecimento das
ciências naturais, matemática e suas tecnologias dos
documentos Parâmetros Curriculares Nacionais do
Ensino Médio (Brasil, 1999) e PCN + Ensino Médio
(Brasil, 2002), há uma nítida proposição curricular
com enfoque CTS, que surge com a denominação de
contextualização, com várias recomendações e proposições de competências que inserem a ciência e suas
tecnologias em um processo histórico, social e cultural
e a discussão de aspectos práticos e éticos da ciência
no mundo contemporâneo.
Os currículos CTS apresentam uma contribuição
significativa para o LC, uma vez que incluem aspectos da educação tecnológica no ensino de ciências,
conforme demonstra Bazzo (1998) ao discutir a educação tecnológica e o ensino CTS. De certa forma, a
educação tecnológica não tem sido adequadamente
contemplada nas disciplinas científicas da educação
básica no Brasil. Em geral, os professores de ciências
parecem entender que essa educação se restringe ao
conhecimento de princípios de funcionamento de determinados aparatos tecnológicos. O pouco que se tem
feito em sala de aula é apresentar aos alunos como o
conhecimento científico está presente em diferentes
recursos tecnológicos de seu cotidiano. Isso está muito
longe do que se tem discutido sobre educação tecnológica em uma proposta de ensino de ciências com
ênfase em CTS.
Considerando a tecnologia como uma prática que
envolve aspectos técnicos, organizacionais e culturais (Pacey, 1990), pode-se destacar que o letramento
tecnológico implica a compreensão de como a tecnologia é dependente dos sistemas sociopolíticos e dos
valores e ideologias da cultura em que está inserida.
Segundo Fleming (1989), “uma pessoa letrada tecno-
Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 36 set./dez. 2007
Educação científica na perspectiva de letramento como prática social
logicamente tem o poder e a liberdade de usar esse
poder para examinar e questionar os problemas de
importância em sociotecnologia” (p. 393, tradução
livre). Nesse mesmo sentido, Vargas (1994) afirma:
“uma nação adquire autonomia tecnológica não necessariamente quando domina um ramo de alta tecnologia, mas quando consegue uma ampla e harmoniosa interação entre esses subsistemas tecnológicos,
sob o controle, orientação e decisão dos ‘filtros sociais’” (p. 186).
Grinspun (1999), ao discutir o que se pode entender por educação tecnológica, destaca que ela não
pode ser compreendida como apenas se referindo ao
ensino técnico-profissional. Para ela, a educação tecnológica deve ser também vivenciada em todos os
segmentos de ensino, visando à formação de cidadãos
críticos que possam transformar o modelo de desenvolvimento tecnológico de nossa sociedade atual.
Nesse sentido, cabe analisar as visões de tecnologia que Auler e Delizoicov (2001) consideram presentes em processos de LCT: a reducionista e a ampliada.
A reducionista, em nossa análise, desconsidera a existência de construções subjacentes à produção do conhecimento científico-tecnológico, tal como aquela que leva a
uma concepção de neutralidade da Ciência-Tecnologia.
Relacionamos a esta compreensão de neutralidade os denominados mitos: superioridade do modelo de decisões
tecnocráticas, perspectiva salvacionista da Ciência-Tecnologia e o determinismo tecnológico. A perspectiva ampliada [...] busca a compreensão das interações entre CiênciaTecnologia-Sociedade (CTS), associando o ensino de conceitos à problematização desses mitos. (Auler & Delizoicov,
2001, p. 105)
Pensar, então, em uma educação científica crítica significa fazer uma abordagem com a perspectiva
de LCT com a função social de questionar os modelos e valores de desenvolvimento científico e tecnológico em nossa sociedade. Isso significa não aceitar
a tecnologia como conhecimento superior, cujas decisões são restritas aos tecnocratas. Ao contrário, o
Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 36 set./dez. 2007
que se espera é que o cidadão letrado possa participar
das decisões democráticas sobre ciência e tecnologia, que questione a ideologia dominante do desenvolvimento tecnológico. Não se trata de simplesmente preparar o cidadão para saber lidar com essa ou
aquela ferramenta tecnológica ou desenvolver no aluno representações que o preparem a absorver novas
tecnologias.
Currículos de ciências e letramento científico
A educação científica na perspectiva do letramento como prática social implica um desenho curricular
que incorpore práticas que superem o atual modelo
de ensino de ciências predominante nas escolas. Entre as várias mudanças metodológicas que se fazem
necessárias, três aspectos vêm sendo amplamente
considerados nos estudos sobre as funções da alfabetização/letramento científico: natureza da ciência, linguagem científica e aspectos sociocientíficos.
Natureza da ciência
Aprender ciência significa compreender como os
cientistas trabalham e quais as limitações de seus conhecimentos. Isso implica conhecimentos sobre história, filosofia e sociologia da ciência (HFSC).
A introdução de conteúdo de HFSC no ensino de
ciências está presente em pesquisas em ensino de ciências já há algum tempo, como discutem Matthews
(1992,5 1994) e Gil-Pérez (1993). Todos esses estudos apontam para a necessidade da compreensão da
natureza da ciência nesse ensino (Barra, 1998; Nascimento, 2004; Peduzzi, 2001; Ryder, 2001), o que é
essencial para a compreensão das implicações sociais
da ciência, uma vez que o aluno passa a entender a
ciência como atividade humana e não simplesmente
como atividade neutra distante dos problemas sociais
(Stiefel, 1995). Solomon (1988) discute que, ao apre-
5
Uma tradução desse artigo foi publicada no Caderno
Catarinense de Ensino de Física, v. 12, n. 3, p. 164-214, dez. 1995.
483
Wildson Luiz Pereira dos Santos
sentar-se o caráter provisório e incerto das teorias científicas, os alunos podem avaliar as aplicações da ciência, levando em conta as opiniões controvertidas dos
especialistas. Ao contrário, com uma visão de ciência
como algo absolutamente verdadeiro e acabado, os
alunos terão dificuldade de aceitar a possibilidade de
duas ou mais alternativas para resolver um determinado problema.
Cachapuz e colegas (2005) apresentam resultados de pesquisas sobre visões de ciência no ensino de
ciências que evidenciam o que eles denominam visão
deformada de ciências. Segundo eles, o ensino de ciências tem veiculado uma imagem reducionista e distorcida da ciência, visão que a apresenta como sendo
descontextualizada, individualista e elitista, empíricaindutivista e ateórica, rígida, algorítmica e infalível,
aproblemática e anistórica e acumulativa. Isso está
relacionado à forma como esse ensino vem sendo
abordado na escola em um modelo por transmissão
em que não há reflexão epistemológica. Nesse sentido, para que ocorra o letramento científico torna-se
fundamental uma mudança de abordagem no ensino
de ciências, de forma que os estudantes desenvolvam
estudos de HFSC, compreendendo a natureza da atividade científica.
Linguagem científica
Um clássico estudo dos lingüistas Halliday e
Martin (1993) demonstra que a linguagem científica
apresenta características próprias que a distingue da
linguagem cotidiana. Mortimer (1998), explorando
esses trabalhos e de Bakhtin (1992, 1997), demonstra
que a linguagem científica é um gênero de discurso
que foi construído socialmente pelos cientistas em sua
prática. Para Mortimer (1998), enquanto a linguagem
científica é estrutural e aparentemente descontextualizada, sem narrador, nominalizando processos, a linguagem cotidiana é linear, automática, dinâmica, geralmente produzida por um narrador em uma
seqüência de eventos. Destaca ainda esse autor que a
peculiaridade do gênero de discurso científico o torna estranho e pouco acessível aos alunos. Halliday e
484
Martin (1993) apontam ainda que, além da estrutura
semântica, o discurso científico busca organizar os
fenômenos por meio de classificações e de apresentação de relatórios, que constituem um gênero de discurso marcado pelo uso de diagramas, esquemas, gráficos e ilustrações.
Ensinar ciência significa, portanto, ensinar a ler
sua linguagem, compreendendo sua estrutura sintática e discursiva, o significado de seu vocabulário, interpretando suas fórmulas, esquemas, gráficos, diagramas, tabelas etc. Além disso, Newton, Driver e
Osborne (1999) consideram que o ensino de ciências
deve ajudar o aluno a construir um argumento científico, o qual é diferente da argumentação do senso
comum. Como demonstram Osborne, Erduran e Monk
(2001), a linguagem escolar geralmente é fundamentada mais em argumentos de autoridade do que em
justificativas assentadas em valores científicos, e,
dessa forma, o ensino de ciências deveria dar maior
atenção ao desenvolvimento da argumentação científica.
Ainda nesse sentido, Brown, Reveles e Kelly
(2005) afirmam que alfabetização/letramento científico corresponde ao uso de termos técnicos, a aplicação de conceitos científicos, a avaliação de argumentos baseados em evidências e o estabelecimento de
conclusões a partir de argumentos apropriados.
Ocorre que a escola tradicionalmente não vem
ensinando os alunos a fazer a leitura da linguagem
científica e muito menos a fazer uso da argumentação científica. O ensino de ciências tem-se limitado a
um processo de memorização de vocábulos, de sistemas classificatórios e de fórmulas por meio de estratégias didáticas em que os estudantes aprendem os
termos científicos, mas não são capazes de extrair o
significado de sua linguagem.
Norris e Phillips (2003) enfatizam a necessidade
de mudança de sentido dessa alfabetização. Eles comentam que muitas discussões em torno do papel da
alfabetização/letramento científico têm enfatizado as
questões sociais e dado pouca prioridade ao ensino
da linguagem científica. Segundo eles, mesmo o ensino tradicional de ciências não está preparando os
Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 36 set./dez. 2007
Educação científica na perspectiva de letramento como prática social
estudantes para compreender o significado do conhecimento científico. Um cidadão, para fazer uso social
da ciência, precisa saber ler e interpretar as informações científicas difundidas na mídia escrita. Aprender a ler os escritos científicos significa saber usar
estratégias para extrair suas informações; saber fazer
inferências, compreendendo que um texto científico
pode expressar diferentes idéias; compreender o papel do argumento científico na construção das teorias; reconhecer as possibilidades daquele texto, se
interpretado e reinterpretado; e compreender as limitações teóricas impostas, entendendo que sua interpretação implica a não-aceitação de determinados argumentos (Norris & Phillips, 2003).
Ainda nesse sentido, Wellington e Osborne
(2001) apresentam sugestões de estratégias de trabalhar a linguagem científica a partir de textos científicos de jornais, assim como Norris e Phillips (2003)
discutem as implicações da leitura desses textos para
o ensino. Em outro trabalho, Ogborn (2003) apresentou como no curso de física “Advancing Physics”
se exploram imagens modernas da ciência, como fotos de satélites e imagens de microscópio de
tunelamento eletrônico, e como se ensina os alunos a
interpretar gráficos, esquemas e diagramas, relacionando-os à observação de fenômenos. O que se conclui de todos esses estudos é que, mais do que ensinar a ler vocábulos, os professores deveriam estar
preocupados em ensinar os alunos a ler e compreender textos científicos.
1) relevância – encorajar os alunos a relacionar suas
experiências escolares em ciências com problemas de
seu cotidiano e desenvolver responsabilidade social;
2) motivação – despertar maior interesse dos alunos
pelo estudo de ciências; 3) comunicação e argumentação – ajudar os alunos a verbalizar, ouvir e argumentar; 4) análise – ajudar os alunos a desenvolver
raciocínio com maior exigência cognitiva; 5) compreensão – auxiliar na aprendizagem de conceitos
científicos e de aspectos relativos à natureza da ciência (Ratcliffe, 1998).
A introdução de ASC, inicialmente proposta em
currículos de CTS, tinha a função de problematizar
questões sociais. Mais recentemente, os ASC têm sido
abordados na perspectiva de propiciar a compreensão da natureza da atividade científica e da argumentação (Zeidler et al., 2005). Além desses propósitos,
a inclusão de ASC no currículo tem-se dado no sentido de possibilitar uma reflexão crítica de valores (Santos, 2002).
Com essa perspectiva, pode-se afirmar um currículo que tenha a perspectiva de letramento científico
implica a ressignificação dos saberes científicos escolares que estão sendo abordados de forma descontextualizada, com uma linguagem hermética, reproduzindo uma falsa imagem de ciência. Enquanto não
se caminhar na superação dessa abordagem, a educação científica continuará restringido-se a uma precária alfabetização.
Aspectos sociocientíficos
Sistemas de avaliação do nível
de alfabetização científica escolar
Outra orientação que tem sido proposta para o
LC é a inclusão de aspectos sociocientíficos (ASC)
no currículo; esses aspectos referem-se às questões
ambientais, políticas, econômicas, éticas, sociais e
culturais relativas à ciência e tecnologia (Santos,
2002). Eles têm sido amplamente recomendados no
ensino de ciências com diferentes objetivos (Kolstø,
2001; Ramsey, 1993; Ratcliffe, 1998; Ratcliffe &
Grace, 2003; Rubba, 1991; Zeidler et al., 2005), os
quais podem ser agrupados nas seguintes categorias:
Um desafio dos estudos de alfabetização/letramento científico tem sido como medir o grau de alfabetização científica da população escolarizada. Isso
vem sendo objeto de preocupação não só no Brasil
como em outros países. Foram desenvolvidos projetos visando realizar avaliações comparativas do nível
de alfabetização entre diferentes nações, como os estudos do Third International Mathematics and Science
Study (TIMSS), o Programme for International Student
Assessment (PISA) e o The Relevance of Science
Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 36 set./dez. 2007
485
Wildson Luiz Pereira dos Santos
Education (ROSE). Esses exames têm sido questionados e criticados por seus critérios comparativos;
todavia, eles são importantes na medida em que demonstram como a imagem da ciência muda em diferentes culturas e levantam contribuições sobre prioridades a serem levadas em conta na educação científica
(Sjøberg, 2002). Apesar de alguns desses exames tentarem incorporar a avaliação da compreensão pública
da ciência e não só o conhecimento conceitual, tem
havido grande dificuldade na elaboração de questões
para medir o grau de entendimento dos estudantes em
relação à sua função social. Outro desafio nesse campo tem sido o estabelecimento do que de essencial
deve-se avaliar nesses exames. Para Shamos (1995),
nesses processos avaliativos é fundamental a definição do papel da educação escolar no sentido do desenvolvimento do interesse dos alunos em questões
sociais relativas à ciência.
De maneira, geral, o que se pode afirmar com os
resultados desses exames é que a educação científica
não vai bem, mesmo em alguns países com elevado
grau de escolarização de sua população, tanto no que
diz respeito à compreensão dos conceitos básicos
como do papel social da ciência. Shamos (1995) aponta vários índices que evidenciam uma crise na alfabetização científica dos Estados Unidos. No Brasil, a
situação é das mais críticas. Os estudantes brasileiros
tiveram, em 2003, o segundo pior desempenho em
ciências entre 41 países pesquisados pelo PISA.
Enquanto se discutem processos avaliativos do
nível de educação científica da população, as escolas
já consagraram padrões de avaliação segundo critérios bem diversos do que seria a finalidade do letramento científico. No caso do Brasil, de maneira geral, pode-se dizer que as escolas têm avaliado muito
mal seus estudantes, com exames que não envolvem
aspectos básicos do que se espera do letramento científico.
A escola brasileira continua com caráter elitista,
apesar de a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB) preconizar uma educação básica firmada no princípio da igualdade de condições. Na prática, o que se tem é ainda um sistema dual: uma esco-
486
la para a elite e outra para as camadas populares. Enquanto existem escolas, em sua maioria de caráter
privado, que têm destino determinado socialmente
para a preparação para o acesso aos melhores cursos
superiores, existem outras escolas, geralmente públicas, destinadas às classes populares que anseiam exclusivamente pela certificação básica para garantir o
acesso ao mercado de trabalho. Em ambos os casos, o
parâmetro de referência para os currículos não inclui
o que é essencial para o letramento científico.
O currículo das escolas voltadas à preparação
para exames de ingresso em cursos superiores tem-se
voltado quase que exclusivamente para os conteúdos
e modelos avaliativos adotados pelas instituições de
ensino superior às quais elas almejam direcionar seus
estudantes. Ocorre que esses exames, apesar do avanço de alguns deles, não avaliam adequadamente muitos dos aspectos essenciais do letramento científico,
os quais acabam ficando longe do currículo escolar.
O currículo da maioria das outras escolas tem-se limitado às questões bem elementares do processo de
alfabetização científica, ou seja, tem-se restringido a
conteúdos básicos escolares, geralmente prescritos em
livros didáticos que enfatizam a memorização de fórmulas, de sistemas de classificação e da nominalização
de fenômenos, bem como a resolução de questões por
algoritmos. Esses processos são facilmente avaliados
pelos professores e podem ser aprendidos com facilidade pelos alunos, simplificando a tarefa pedagógica
e atestando o conhecimento básico em ciência pela
posse do seu mais elementar saber: o reconhecimento
de alguns de seus vocábulos.
Em síntese, o ensino escolar de ciências, de maneira geral, vem sendo desenvolvido de forma totalmente descontextualizada, por meio da resolução ritualística de exercícios e problemas escolares que não
requerem compreensão conceitual mais ampla. Isso
corresponde à alfabetização superficial no sentido do
domínio estrito vocabular de termos científicos. Esse
processo escolar, tanto das escolas preparatórias para
o vestibular quanto das que se restringem aos saberes
escolares básicos, tem sido conduzido de maneira
enfadonha, sem despertar o interesse dos estudantes
Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 36 set./dez. 2007
Educação científica na perspectiva de letramento como prática social
pelo seu estudo, de forma que as disciplinas de ciências têm sido, freqüentemente, odiadas pela maioria
dos estudantes.
Considerações finais
Considerar a alfabetização e o letramento como
domínios diferentes da educação científica, mais do
que ser uma discussão semântica, evoca processos
escolares que busquem formas de contextualização
do conhecimento científico em que os alunos o incorporem como um bem cultural que seja mobilizado em
sua prática social. Ao adotar uma nova terminologia
ainda não conhecida pelos professores, busca-se destacar que se trata de uma concepção de educação científica por meio de uso social.
Assim como se busca em processos de letramento da língua materna o uso social de sua linguagem,
reivindicar processos de letramento científico é defender abordagens metodológicas contextualizadas
com aspectos sociocientíficos, por meio da prática de
leitura de textos científicos que possibilitem a compreensão das relações ciência-tecnologia-sociedade e
tomar decisões pessoais e coletivas. Nesse sentido, o
conceito de letramento científico amplia a função
dessa educação, incorporando a discussão de valores
que venham a questionar o modelo de desenvolvimento científico e tecnológico. Em outras palavras, o que
se busca não é uma alfabetização em termos de propiciar somente a leitura de informações científicas e
tecnológicas, mas a interpretação do seu papel social.
Isso implica mudanças não só de conteúdos programáticos como também de processos metodológicos e
de avaliação.
Tornar a educação científica uma cultura científica é desenvolver valores estéticos e de sensibilidade, popularizando o conhecimento científico pelo seu
uso social como modos elaborados de resolver problemas humanos. Para isso, torna-se relevante o uso
de meios informais de divulgação científica, como
textos de jornais e revistas e programas televisivos e
radiofônicos em sala de aula. Além disso, visitas programadas a espaços não-formais de educação, como
Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 36 set./dez. 2007
museus de ciência, jardins zoológicos, jardins botânicos, planetários, centros de visita de instituições de
pesquisa e de parques de proteção ambiental e museus virtuais, entre outros, são importantes estratégias para inculcar valores da ciência na prática social. Não se trata de apresentar um conhecimento
esotérico, mas de transformá-lo em conhecimento
exotérico, como preconiza Chassot (2000). Nem se
trata de imposição cultural, mas sim de reconhecê-la
na prática social abrindo as portas da formalização
ritualística das fórmulas acadêmicas de sala de aula
para seu uso por meios informais. Como já se vem
discutindo, a educação científica tem de ser difundida também em espaços não-formais (Krapas &
Rebello, 2001), que podem ser usados não simplesmente para a contemplação, mas também para o entendimento de seu papel social (Marandino, 2006; Leal
& Gouvêa, 2002).
O letramento científico significa também buscar
uma educação científica que propicie a educação tecnológica. Muito se tem discutido no meio educacional brasileiro sobre o papel dessa educação, levando
em conta argumentos sociológicos. Estando fora do
propósito deste artigo uma reflexão ampliada sobre a
educação tecnológica, o que se buscou foi apresentar
contribuições advindas de estudos de ensino de ciências sobre como essa educação pode ser pensada em
disciplinas científicas, por meio de uma abordagem
temática contextualizada.
Propiciar, portanto, a educação científica como
um processo de domínio cultural dentro da sociedade
tecnológica, em que a linguagem científica seja vista
como ferramenta cultural na compreensão de nossa
cultura moderna, é o grande desafio na renovação do
ensino de ciências.
Conforme a concepção que se tenha do papel da
educação científica, teremos diferentes concepções de
ensino. Se a alfabetização/letramento na educação
básica for vista com o papel restrito de ensinar a linguagem científica para realizar exames ou obter certificados, pode-se considerar que o modelo convencional de escolas mais tradicionais atende ao seu
propósito, ainda que não propicie aprendizagem sig-
487
Wildson Luiz Pereira dos Santos
nificativa nos moldes esperados pelos teóricos de
aprendizagem.
Se a função da educação científica na educação
básica for a formação de cidadãos letrados em ciência e tecnologia, no sentido que Shamos (1995) considerou “true” scientific literacy (letramento autêntico), será necessário instituir uma ampla reforma no
sistema educacional. A situação socioeconômica de
nosso país, com mais de 20 milhões de iletrados na
própria língua nacional, indica ser esse um objetivo
que ainda demandará longo tempo para concretizarse. Na verdade, esse nível elevado de letramento, no
sentido do domínio da capacidade de compreensão
de modelos científicos, talvez não se venha consolidando nem mesmo em cursos de graduação em ciências, que em geral também mais enfatizam domínio
vocabular e resolução de problemas do que compreensão da natureza da atividade científica.
Dentro desses dois extremos de pobreza formativa e mito utópico de letramento ideal, existe um espaço curricular a ser ocupado por meio de ações educativas transformadoras em sala de aula, que está no
resgate da função social da educação científica. Para
isso, não são necessários laboratórios sofisticados,
grade horária ampliada e incorporação de novos conteúdos, mas sim mudanças de propósitos em sala de
aula.
Com a caracterização apresentada para o ensino
atual de ciências nas escolas, evidenciou-se o que já
foi constatado por Barros (1998): a popularização do
letramento científico é ainda um mito não atingido e
o efeito do currículo formal de ciências parece ser
desprezível. Todavia, ao contrapor letramento ao processo elementar de alfabetização, buscou-se demonstrar como esse mito ainda pode ser realizável.
Shamos (1995) também chega a considerar que
tornar o público sensível e informado em ciência talvez seja um mito difícil de alcançar. No entanto, refletir sobre concepções de educação científica que
estão sendo demandadas pela nossa sociedade pode,
de alguma forma, contribuir com aqueles que acreditam que ainda é possível transformar o ensino vocabular ritualístico de preparação para exames em uma
488
educação científica para o domínio da compreensão
da ciência como prática social. Afinal, esse é um desafio para curriculistas, avaliadores do sistema educacional, filósofos, sociólogos da educação e, sobretudo, para os professores de ciências que desejam
mover-se de uma alfabetização descontextualizada
para o letramento científico como prática social.
Certamente não será o modelo de ensino por
transmissão do conhecimento como um ornamento
cultural para legitimar uma determinada posição social de exclusão da maioria que propiciará a formação de cidadãos conscientes de seu papel na sociedade científica e tecnológica. Nem seriam também livros
didáticos – sobrecarregados de conteúdos e socioculturalmente descontextualizados, que apenas ilustram
as maravilhas das descobertas científicas, reforçando
a concepção de que os valores humanos estão a reboque dos valores de mercado – que iriam contribuir
para a formação de cidadãos críticos.
Nesse sentido, mais importante do que a discussão terminológica entre alfabetização e letramento está
a construção de uma visão de ensino de ciências associada à formação científico-cultural dos alunos, à
formação humana centrada na discussão de valores.
Referências bibliográficas
AIKENHEAD, Glen S. Science-technology-society. Science
education development: from curriculum policy to student learning.
In: CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE ENSINO DE
CIÊNCIAS PARA O SÉCULO XXI: ACT – Alfabetização em ciência e tecnologia, 1., Brasília, 1990. Anais… Brasília: MEC, 1990
(mimeo.).
. What is STS science teaching? In: SOLOMON, Joan;
AIKENHEAD, Glen (Eds.). STS Education: international perspectives on reform. New York: Teachers College Press, 1994. p. 47-59.
. STL and STS: common ground or divergent
scenarios? In: JENKINS, Edgar (Ed.). Innovations in science and
technology education, vol. VI. Paris: UNESCO Publishing, 1997.
p. 77-93.
ALMEIDA JÚNIOR, João Baptista de. A evolução do ensino de
Física no Brasil. Revista de Ensino de Física, v. 1, n. 2, p. 45-58,
out. 1979.
Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 36 set./dez. 2007
Educação científica na perspectiva de letramento como prática social
ARONS, A. B. Achieving wider scientific literacy. Daedalus:
literacy: a concept in search of definition. In: CHAMPAGNE, Audrey
Journal of the American Academy of Arts and Sciences, v. 112,
B.; LOVITTS, Barbara E.; CALINGER, Betty J. (Eds.). This year
p. 91-122, 1983.
in school science 1989: scientific literacy. Washington: American
AULER, Décio; DELIZOICOV, Demétrio. Alfabetização cientí-
Association for the Advancement of Science, 1989. p. 1-14.
fico-tecnológica para quê? Ensaio: pesquisa em educação em ciên-
CHASSOT, Áttico. Alfabetização científica: questões e desafios
cias, v. 3, n. 1, p. 105-115, 2001.
para a educação. Ijuí: Editora UNIJUÍ, 2000.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1992.
. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fon-
. Alfabetização científica: uma possibilidade para a
inclusão social. Revista Brasileira de Educação, ANPEd, n. 26,
p. 89-100, 2003.
tes, 1997.
DeBOER, George E. Scientific literacy: another look at its
BARRA, Eduardo Salles O. A realidade do mundo da ciência: um
historical and contemporary meanings and its relationship to
desafio para a história, a filosofia e a educação científica. Ciência
science education reform. Journal of Research in Science Teaching,
& Educação, v. 5, n. 1, p. 15-26, 1998.
v. 37, n. 6, p. 582-601, 2000.
BARROS, Susana de Souza. Educação formal versus informal:
DRIVER, Rosalind; ASOKO, H.; LEACH, John; MORTIMER,
desafios da educação científica. In: ALMEIDA, Maria José P. M.
Eduardo Fleury; SCOTT, Phil. Constructing scientific knowledge
de; SILVA, Henrique César da. (Orgs.). Linguagens, leituras e
in the classroom. Educational Research, v. 23, n. 7, p. 5-12, 1994.
ensino da ciência. Campinas: Mercado de Letras/Associação de
FLEMING, Reg. Literacy for a technological age. Science
Leitura do Brasil, 1998. p. 69-86.
Education, v. 73, n. 4, p. 391-404, 1989.
BAZZO, Walter Antônio. Ciência, tecnologia e sociedade: e o con-
FOUREZ, Gérard. Science teaching and the STL movement: a
texto da educação tecnológica. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1998.
socio-historical view. In: JENKINS, Edgar (Ed.). Innovations in
BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, Renato.
science and technology education, v. VI. Paris: UNESCO
Pierre Bourdieu: sociologia. São Paulo: Ática, 1994. p. 122-155
Publishing, 1997. p. 43-57.
(col. Grandes Cientistas Sociais).
GILBERT, John K. Studies and fields: directions of research in science
BRASIL. Ministério da Educação (MEC), Secretaria de Educa-
education. Studies in Science Education, n. 25, p. 173-197, 1995.
ção Média e Tecnológica (SEMTEC). Parâmetros Nacionais para
GIL-PÉREZ, Daniel. Contribución de la historia y de la filosofía
o Ensino Médio. Brasília: MEC/SEMTEC, 1999.
de las ciencias al desarrollo de un modelo de enseñanza/aprendizaje
. Ministério da Educação (MEC), Secretaria de Edu-
como investigación. Enseñanza de las Ciencias, v. 11, n. 2, p. 197-
cação Média e Tecnológica (SEMTEC). PCN + Ensino Médio:
212, 1993.
orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curri-
GRINSPUN, Mírian Paura Sabrosa Zippin. Educação tecnológi-
culares Nacionais – Ciências da Natureza, Matemática e suas Tec-
ca. In: GRINSPUN, Mírian Paura Sabrosa Zippin (Org.). Educa-
nologias. Brasília: MEC/SEMTEC, 2002.
ção tecnológica: desafios e perspectivas. São Paulo: Cortez, 1999.
BROWN, Bryan A.; REVELES, John M.; KELLY, Gregory J.
p. 25-73.
Scientific literacy and discursive identity: a theoretical framework
HALLIDAY, M. A. K.; MARTIN, J. R. Writing Science: literacy
for understanding science learning. Science Education, v. 89, n. 5,
and discursive power. London: University of Pittsburgh Press,
p. 779-802, 2005.
1993.
CACHAPUZ, António; GIL-PEREZ, Daniel; CARVALHO, Anna
HURD, Paul DeHart. Scientific literacy: new minds for a changing
Maria Pessoa de; PRAIA, João; VILCHES, Amparo. Superação
world. Science Education, v. 82, n. 3, p. 407-416, 1998.
das visões deformadas da ciência e da tecnologia: um requisito
JENKINS, Edgar. Scientific literacy and school science education.
essencial para a renovação da educação científica. In: ______.
School Science Review, v. 71, n. 256, p. 43-51, 1990.
(Orgs.). A necessária renovação do ensino das ciências. São Pau-
. Scientific and technological literacy: meanings and
lo: Cortez, 2005. p. 37-70.
rationales. In: JENKINS, Edgar (Ed.). Innovations in science and
CANIVEZ, Patrice. Educar o cidadão? Campinas: Papirus, 1991.
technology education, v. VI. Paris: UNESCO Publishing, 1997.
CHAMPAGNE, Audrey B.; LOVITTS, Barbara E. Scientific
p. 11-39.
Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 36 set./dez. 2007
489
Wildson Luiz Pereira dos Santos
KNORR-CETINA, Karin D. The manufacture of knowledge: an
MATTHEWS, Michael. R. History, philosophy, and science
essay on the constructivist and contextual nature of science. Oxford:
teaching. Science & Education, v. 1, n. 1, p. 11-47, 1992.
Pergamon Press, 1981.
. Science teaching: the role of history and philosophy
KOLSTØ, Stein D. Scientific literacy for citizenship: tools for
of science. New York: Routledge, 1994.
dealing with the science dimension of controversial socio-scientific
MEGID NETO, Jorge; FRACALANZA, Hilário; FERNANDES,
issues. Science Education, v. 85, n. 3, p. 291-310, 2001.
Rebeca Chiacchio Azevedo. O que sabemos sobre a pesquisa em
KRAPAS, Sonia; REBELLO, Lúcia. O perfil dos museus de ciên-
educação em ciências no Brasil (1972-2004). In: ENCONTRO NA-
cia da cidade do Rio de Janeiro: a perspectiva dos profissionais.
CIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, 5.,
Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 1,
Bauru, 2005. Atas… São Paulo: Abrapec, 2005. 10p. 1 CD-ROM.
n. 1, p. 68-86, 2001.
MERTON, Robert K. Sociologia: teoria e estrutura. São Paulo:
KRASILCHIK, Myriam. Inovação no ensino das ciências. In:
Mestre Jou, 1968.
GARCIA, Walter Esteves (Org.). Inovação educacional no Bra-
MILLAR, Robin. Towards a science curriculum for public
sil: problemas e perspectivas. São Paulo: Cortez; Campinas: Au-
understanding. School Science Review, v. 77, n. 280, p. 7-18, 1996.
tores Associados, 1980, p. 164-180.
MILLER, Jon D. Scientific literacy: a conceptual and empirical
. O professor e o currículo das ciências. São Paulo:
review. Daedalus: Journal of the American Academy of Arts and
EDUSP, 1987.
Sciences, v. 112, n. 12, p. 29-48, 1983.
KRASILCHIK, Myriam; MARANDINO, Martha. Ensino de ciên-
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futu-
cias e cidadania. São Paulo: Moderna, 2004.
ro. São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2000.
LATOUR, Bruno; WOOLGAR, Steve. Laboratory fife: the
MORTIMER, Eduardo Fleury. Sobre chamas e cristais: a lingua-
construction of scientific facts. London: Sage, 1979.
gem cotidiana, a linguagem científica e o ensino de ciências. In:
LAUGKSCH, Rüdiger C. Scientific literacy: a conceptual
CHASSOT, Áttico; OLIVEIRA, Renato José de (Orgs.). Ciência,
overview. Science Education, v. 84, n. 1, p. 71-94, 2000.
ética e cultura na educação. São Leopoldo: Ed. UNISINOS, 1998.
LAYTON, David; DAVEY, Angela; JENKINS, Edgar. Science for
p. 99-118.
specific social purposes (SSSP): perspectives on adult scientific
NASCIMENTO, Viviane Briccia do. A natureza do conhecimento
literacy. Studies in Science Education, n. 13, p. 27-52, 1986.
científico e o ensino de Ciências. In: CARVALHO, Anna Maria
LEAL, Maria Cristina; GOUVÊA, Guaracira. Narrativa, mito, ciên-
Pessoa de Carvalho (Org.). Ensino de ciências: unindo a pesquisa e
cia e tecnologia: o ensino de ciências na escola e no museu. En-
a prática. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. p. 35-57.
saio: pesquisa em educação em ciências, v. 2, n. 1, p. 5-36, 2002.
NEWTON, Paul; DRIVER, Rosalind; OSBORNE, Jonathan. The
LEODORO, Marcos Pires. Pensamento, cultura científica e edu-
place of argumentation in the pedagogy of school science.
cação. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação,
International Journal of Science Education, v. 21, n. 5, p. 553-
Universidade de São Paulo, 2005.
576, 1999.
LÓPEZ, José L. Luján; CEREZO, José A. López. Educación CTS
NORRIS, Stephen P.; PHILLIPS, Linda M. How literacy in its
en acción: enseñanza secundaria y universidad. In: GARCÍA, Marta
fundamental sense is central to scientific literacy. Science
I. González; CEREZO, José A. López; LÓPEZ, José L. Luján.
Education, v. 87, n. 2, p. 224-240, 2003.
Ciencia, tecnología y sociedad: una introducción al estudio social
OGBORN, Jon. Advancing physics: contributions of communication
de la ciencia y la tecnología. Madrid: Editorial Tecnos, 1996.
and culture to a new physics curriculum (Conferência: Lingua-
p. 225-252.
gem, cultura e cognição: influências no desenho de um novo cur-
MACEDO, Beatriz (Org.). Cultura científica: um direito de to-
rículo de Física). In: ENCONTRO INTERNACIONAL LINGUA-
dos. Brasília: UNESCO Brasil, OREALC, MEC, MCT, 2003.
GEM, CULTURA E COGNIÇÃO, 2., Belo Horizonte, 2003.
MARANDINO, Martha. Perspectivas da pesquisa educacional em
Anais… Campinas: Graf. FE, 2003. 12p. 1 CD-ROM.
museus de ciências. In: SANTOS, Flávia Maria Teixeira dos;
OSBORNE, Jonathan; ERDURAN, Sibel; MONK, Martin.
GRECA, Ileana Maria (Orgs.). A pesquisa em ensino de ciências no
Enhancing the quality of argument in school science. School
Brasil e suas metodologias. Ijuí: Editora UNIJUÍ, 2006. p. 89-122.
Science Review, v. 82, n. 300, 2001.
490
Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 36 set./dez. 2007
Educação científica na perspectiva de letramento como prática social
PACEY, Arnold. La cultura de la tecnología. Cidade do México:
SHAMOS, Morris Herbert. The myth of scientific literacy. New
Fondo de Cultura Económica, 1990.
Brunswick: Rutgers University Press, 1995.
PEDUZZI, Luiz O. Q. Sobre a utilização didática da história da
SHEN, Benjamin S. P. Science literacy. American Scientist, v. 63,
ciência. In: PIETROCOLA, Maurício (Org.). Ensino de física:
n. 3, p. 265-268, 1975.
conteúdo e epistemologia numa concepção integradora. Florianó-
SJØBERG, Svein. What can we learn from the learners? Some
polis: Ed. da UFSC, 2001. p. 151-170.
results and implications from “science and scientists” a
PREWITT, Kenneth. Scientific literacy. Daedalus: Journal of the
comparative study in 22 countries. In: INTERNATIONAL
American Academy of Arts and Sciences, v. 112, n. 2, p. 49-64,
ORGANIZATION FOR SCIENCE AND TECHNOLOGY
1983.
EDUCATION, Symposium, 10., Foz do Iguaçu, 2002.
RADNITZKY, Gerard. Fundamental Schools of Metascience.
Proceedings... São Paulo: IOSTE, 2002, v. 2. p. 557-568.
Göteborg: Akademiforlaget, 1970.
SNOW, C. P. As duas culturas e uma segunda leitura: uma versão
RAMSEY, John. The science education reform movement:
ampliada das duas culturas e a revolução científica. Trad. de Ge-
implications for social responsibility. Science Education, v. 77,
raldo Gerson de Souza e Renato de Azevedo Rezende Neto. São
n. 2, p. 235-258, 1993.
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1995.
RATCLIFFE, Mary. Discussing socio-scientific issues in science
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo
lessons: pupils’ actions and the teacher’s role. School Science
Horizonte: Autêntica, 1998.
Review, v. 79, n. 288, p. 55-59, 1998.
SOLOMON, Joan. The dilemma of science, technology and society
RATCLIFFE, Mary; GRACE, Marcus. Science education for
education. In: FENSHAM, Peter J. (Ed.). Development and
citizenship: teaching socio-scientific issues. Maidenhead: Open
dilemmas in science education. London: The Falmer Press, 1988.
University Press, 2003.
p. 266-281.
ROBERTS, Douglas A. What counts as science education? In:
. Teaching science, technology and society.
FENSHAM, Peter J. (Ed.). Development and dilemmas in science
Buckingham: Open University Press, 1993.
education. Barcombe: The Falmer Press, 1991. p. 27-55.
STIEFEL, Berta Marco. La naturaleza de la ciencia en los enfo-
ROTH, Wolff.-Michael; LEE, Stuart. Science education as/for
ques CTS. Alambique Didáctica de las Ciencias Experimentales,
participation in the community. Science Education, v. 88, n. 2,
v. 2, n. 3, p. 19-29, 1995.
p. 263-291, 2004.
TEIXEIRA, Paulo Marcelo M. A educação científica sob a pers-
RUBBA, Peter. Integration STS into school science and teacher
pectiva da pedagogia histórico-social e do movimento CTS no
education: beyond awareness. Theory into Practice, v. 30, n. 4,
ensino de ciências. Revista Ciência & Educação, v. 9, n. 2, p. 177-
p. 303-315, 1991.
190, 2003.
RYDER, Jim. Identifying science understanding for functional
VARGAS, Milton. Para uma filosofia da tecnologia. São Paulo:
scientific literacy: implications for school science education.
Editora Alfa-Ômega, 1994.
Studies in Science Education, n. 36, p. 1-44, 2001.
WAKS, Leonard J. Educación en ciencia, tecnología y sociedad:
SANTOS, Wildson Luiz Pereira dos. Aspectos sociocientíficos em
orígenes, desarrollos internacionales y desafíos actuales. In:
aulas de química. 2002. Tese (Doutorado em Educação) – Facul-
MEDINA, Manuel; SANMARTÍN, José (Eds.). Ciencia, tecnología
dade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
y sociedad: estudios interdisciplinares en la universidad, en la
Horizonte, 2002.
educación y en la gestión política y social. Barcelona: Anthropos;
SANTOS, Wildson Luiz Pereira dos; MORTIMER, Eduardo Fleury.
Leioa (Vizcaya): Universidad del País Vasco, 1990. p. 42-75.
Uma análise de pressupostos teóricos da abordagem C-T-S (Ciên-
WELLINGTON, Jerry; OSBORNE, Jonathan. Language and
cia-Tecnologia-Sociedade) no contexto da educação brasileira. En-
literacy in science education. Buckingham e Philadelphia: Open
saio: pesquisa em educação em ciências, v. 2, n. 2, p. 133-162, 2000.
University Press, 2001.
SANTOS, Wildson Luiz Pereira dos; SCHNETZLER, Roseli
YAGER, Robert. Science, technology, society: a major trend in
Pacheco. Educação em química: compromisso com a cidadania.
science education. In: UNESCO. New trends in integrated science
Ijuí: Editora da UNIJUÍ, 1997.
teaching. Belgian: UNESCO, 1990. p. 44-48.
Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 36 set./dez. 2007
491
Wildson Luiz Pereira dos Santos
YAGER, Robert E.; ROY, R. STS: most pervasive and most radi-
co com essa perspectiva. Principais publicações nessa área de pes-
cal of reform approaches to “science” education. In: YAGER,
quisa: Educação em química: compromisso com a cidadania, em co-
Robert E. (Ed.). The science, technology, society movement.
autoria com Roseli Pacheco Schnetzler (Ijuí: Editora da UNIJUÍ,
Washington: National Science Teachers Association – NSTA, 1993.
1997); Uma análise de pressupostos teóricos da abordagem C-T-S
p. 7-13.
(ciência-tecnologia-sociedade) no contexto da educação brasileira,
ZEIDLER, Dana L.; SADLER, Troy D.; SIMMONS, Michael L.;
em co-autoria com Eduardo Fleury Mortimer (Ensaio: pesquisa em
HOWES, Elaine V. Beyond STS: a research-based framework for
educação em ciências, v. 2, n. 2, p. 133-162, 2000); e Química e
socioscientific issues education. Science Education, v. 89, n. 3,
sociedade, livro didático para o ensino médio, escrito em colabora-
p. 357-377, 2005.
ção com professores do ensino médio, do qual é um dos coordenadores com Gerson de Souza Mól (Nova Geração: São Paulo, 2005).
WILDSON LUIZ PEREIRA DOS SANTOS, doutor em edu-
Coordena pesquisa sobre abordagem de aspectos sociocientíficos em
cação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) na área
aulas de ciências, financiada pelo Conselho Nacional de Desenvol-
de ensino de ciências, é professor dos Programas de Pós-Graduação
vimento Científico e Tecnológico (CNPq). E-mail: wildson@unb.br
em Educação e Pós-Graduação de Ensino de Ciências da Universidade de Brasília (UnB). Desenvolve há mais de dez anos estudos
Recebido em fevereiro de 2007
sobre educação científica e cidadania e produção de material didáti-
Aprovado em maio de 2007
492
Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 36 set./dez. 2007
Resumos/Abstracts/Resumens
Wildson Luiz Pereira dos Santos
Educação científica na perspectiva
de letramento como prática social:
funções, princípios e desafios
A partir de visões sociológicas e filosóficas sobre ciência, apresenta-se como
vêm sendo discutidas historicamente
concepções sobre o papel da educação
científica. Em seguida, apresenta-se
uma revisão da literatura de ensino de
ciências sobre significados da educação científica que podem ser entendidos como processos diferenciados de
alfabetização e letramento científico.
Daí, discute-se como pode ser entendido o processo de letramento científico
como prática social, contrapondo-se ao
processo elementar de alfabetização
científica que vem sendo desenvolvido
no ensino atual de ciências. Apresentando contribuições do movimento
ciência-tecnologia-sociedade e discutindo aspectos curriculares relativos à
natureza e à linguagem científica e aos
aspectos sociocientíficos, discutem-se
princípios da educação científica voltada para a formação de cidadãos. Ao final, são levantados desafios para o resgate da função social do ensino de
ciências, que tem sido visto por alguns
como um mito inalcançável.
Palavras-chave: alfabetização científica; letramento científico; ciênciatecnologia-sociedade; ensino de ciências para a cidadania
Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 36 set./dez. 2007
Scientific education in the
perspective of literacy as social
practice: functions, principles and
challenges
Starting from sociological and
philosophical visions of science, this
article expounds how conceptions on
the role of scientific education have
been discussed historically. This is
followed by a literature review on the
teaching of science concerning
meanings of scientific education which
can be understood as differentiated
processes of literacy and scientific
literacy. Then it discusses how it is
possible to understand the process of
scientific literacy as a social practice,
in contraposition to the elementary
process of scientific literacy which has
been developed in current science
teaching. After presenting
contributions of the sciencetechnology-society movement and
discussing curricular questions related
to the nature and language of science
and to socio-scientific aspects,
principles of scientific education
directed at the formation of citizenship
are raised. Finally, challenges for the
recovery of the social function of
science teaching which have been seen
by some as an unreachable myth, are
broached.
Key words: scientific literacy; sciencetechnology-society; science education
for citizenship
La educación científica en la
perspectiva del letramiento como
práctica social: funciones, principios
y desafíos
A partir de visiones sociológicas y
filosóficas sobre ciencia, se presenta
como vienen siendo discutidas
históricamente concepciones sobre el
papel de la educación científica. En
seguida se presenta una revisión de la
literatura de enseñanza de ciencias
sobre significados de la educación
científica que pueden ser entendidos
549
Resumos/Abstracts/Resumens
como procesos diferentes de
alfabetización y letramiento científico.
De ahí, se discute como puede ser
entendido el proceso de letramiento
científico como práctica social,
contraponiéndose al proceso elemental
de alfabetización científica que viene
siendo desarrollado en la enseñanza
actual de ciencias. Presentando
contribuciones del movimiento cienciatecnología-sociedad y discutiendo
aspectos curriculares relativos a la
naturaleza y al lenguaje científico y a
los aspectos sociocientíficos, se
discuten principios de la educación
científica dirigida para la formación
de ciudadanos. Al final, son levantados
desafíos para el rescate de la función
social de la enseñanza de ciencias, que
ha sido vista por algunos como un mito
inalcanzable.
Palabras claves: alfabetización
científica; letramiento científico;
ciencia-tecnología-sociedad;
enseñanza de ciencias para la
ciudadanía
550
Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 36 set./dez. 2007
