Patrícia Borsato Satírio
Título da dissertação: O IDEÁRIO EDUCACIONAL CATÓLICO DO SÉCULO XX NA PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA DO PADRE TEÓFANES (1930 -1960).
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
CENTRO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO BRASILEIRA
LINHA DE PESQUISA: HISTÓRIA E POLÍTICA DA EDUCAÇÃO
Patrícia Borsato Satírio
O IDEÁRIO EDUCACIONAL CATÓLICO DO SÉCULO XX NA
PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA DO PADRE TEÓFANES
(1930 -1960)
Maceió - AL
2009
Patrícia Borsato Satírio
O IDEÁRIO EDUCACIONAL CATÓLICO DO SÉCULO XX NA
PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA DO PADRE TEÓFANES
(1930 -1960)
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa
de Pós–Graduação em Educação da Universidade
Federal de Alagoas – Mestrado em Educação
Brasileira – Linha de Pesquisa “História e Política
da Educação”, como requisito para obtenção do
grau de Mestre em Educação.
Orientadora: Profa. Dra. Maria das Graças Loiola Madeira
Maceió – AL
2009
RESUMO
Este trabalho expõe o ideário católico conservador e empreendedor no terreno
educacional do padre alagoano Teófanes Augusto de Araújo Barros (1912 -2001),
tratado na sua produção intelectual, situada nos anos de 1960. O debate pretendeu
articular tal ideário do ponto de vista local, nacional e internacional, de modo a
seguir as temáticas desenvolvidas nas três obras examinadas: Na Missão de
Educar(1961), Na Missão de Afirmar (1981) e Alocuções (1989). Trata-se de um
estudo que teve como apoio teórico-metodológico a produção intelectual da Escola
dos Annales, em especial March Bloch (2001). Esta orientação teórica permitiu
retirar a figura do padre de uma leitura ora apologética ora condenadora, e ampliar o
raio de alcance de seu pensamento educacional para os propósitos do catolicismo
da época, cuja intenção era promover a recristianização do povo brasileiro em pleno
embate com o Liberalismo e com o Comunismo. O estudo divide-se em três partes:
na primeira encontra-se sua trajetória no terreno educacional, iniciada com a
fundação do Colégio Guido de Fontgalland, em 1939. Em seguida, ressalta sua
contribuição na Campanha Nacional dos Educandários Gratuitos – CNEG, por volta
dos anos de 1940, na qual ergue mais de 50 colégios secundários em terras
alagoanas. No início dos anos de 1950, ele foi responsável pela criação da
Faculdade de Filosofia de Alagoas, na década seguinte integrada à Universidade
Federal de Alagoas. Incentivou também a criação de faculdades de formação de
professores nas cidades de Penedo e Arapiraca. Fundou em 1974 o Centro de
Estudos Superiores de Maceió - CESMAC, com destaque para a inauguração do
ensino superior noturno em Alagoas. A segunda parte do texto aborda as demandas
educacionais da Igreja Católica no Brasil para as décadas de 1930 e 1960, com
destaque para um tipo de catolicismo conservador-empreendedor, tendo as bases
do pensamento intelectual cristão, com representantes internacionais, como
Jacques Maritain, e nacionais como D. Sebastião Lemme, Jackson de Figueiredo e
Alceu Amoroso Lima. Na terceira e última parte, analisou-se sua produção
bibliográfica, em especial, duas obras: Na Missão de Educar (1961) e Alocuções
(1989), pelo fato de suas abordagens se identificarem mais de perto com o terreno
educacional. Destacam–se temáticas recorrentes e eleitas como foco da análise:
educação secundária, a educação do adolescente, a educação pela fé católica e a
questão da “neutralidade” da Igreja na condução da educação privatista. Constatouse a defesa pela educação que priorizava a escolha da família na educação formal
de seus filhos, pela educação na fé cristã, não gratuita e não obrigatória.
Apresentava o olhar no universo do adolescente e na formação do adulto no
contexto da educação secundária. Posicionava–se em defesa no interesse da Igreja
na privatização do ensino. Este estudo nos permitiu a ampliação da visão dos
vínculos sempre existentes entre o contexto local e nacional, e o alargamento da
abrangência do universo que envolvia o padre educador alagoano.
PALAVRAS – CHAVE: História da Educação –– Igreja e educação – Alagoas Padre Teófanes.
ABSTRACT
The present study presents the catholic, conservative and entrepreneurial
educational ideas of the Alagoas-born Father Teóphanes Augusto de Araújo Barros
(1912-2001), in the 1960s. His ideology was examined from the local, national and
international perspectives. Three topics were developed in his books: The Teaching
Mission (1961), The Assertive Mission (1981) and Allocutions (1989)*. Our study was
based on the theories and methodologies from the Annales School, especially on the
works of March Bloch (2001). Such approach made it possible to move away from
the either apologetic or condemning attitudes towards Father Teóphanes works and
look at the wider scope of his ideias on Christian education. His intention at the time
was to promote a re-Christianization of the Brazilian people in opposition to the
growing threats of Communism and Liberalism. The study consists of three parts.
Firstly, his experience as an educator, which started with the foundation of the
Colégio Guido de Fontgalland in 1939. His contribution to the National Free Schools
Campaing (CNEG in portuguese) in the 1940s, when more than 50 secondary
schools were opened in Alagoas. In the early 1950s, his was responsible for the
creation of the Philosophy College of Alagoas, which was later incorporated by the
Federal University of Alagoas. He also contributed to the creation of Teacher Training
Colleges in the cities of Penedo and Arapiraca. In 1974, he founded the Higher
Studies Center of Maceió. The second part of the study, deals with the Brazilian
Catholic Church demands in the 1930s and 1960s. The focus then was on an
entrepreneurial, conservative and catholic orientation based on international writers
such as Jacques Maritain an national authors such as D. Sebastião Leme, Jackson
Figueiredo and Alceu Amoroso Lima. In the third and last part, his writings were
analyzed, in especial two of his books: The Educator’s Mission (1961) and
Allocutions (1989)*, which were chosen because of their educational approaches. His
books deal with recurring themes such as secondary education, teenage education,
catholic-oriented education and the issue of Church neutrality in private education.
Our conclusion was that Father Teóphanes believed the family had a central role in
the formal education of their children. He also defended paid, non-compulsory,
Christian-oriented education. He was interested in teenage development and adult
formation in the secondary school. He also supported the position of the Church in
favor of privative education. The present study reveals the links between the local,
national and international scenarios and the universality in the ideias of this educator
born in Alagoas.
*our translation
KEYWORDS: History of Education – Church and Education – Alagoas – Father
Teóphanes
AGRADECIMENTOS
Agradeço a crença na força criadora de Deus que me alimenta, e não me permitiu
desistir quando acreditei não conseguir chegar ao fim.
Aos meus pais Orlando e Luci, que me ensinaram a não ter medo da vida e
caminhar pelas próprias pernas.
Ao meu marido Ricardo, que sempre me apóia em meus projetos, sendo paciente
com minhas ausências e emocionando-se com minhas vitórias.
A Professora Dra. Maria das Graças Loiola Madeira, pela simplicidade, sabedoria e
dedicação na condução da orientação deste estudo. Propiciando-me a reconstrução
do saber, e um novo olhar sobre a pesquisa em História da Educação.
E a todos os meus familiares, amigos e colegas de trabalho que me incentivaram e
apoiaram nesta jornada.
DEDICATÓRIA
Dedico as minhas filhas Rebeca e Isadora, que me desafiam a enxergar o mundo
com um novo olhar.
SUMÁRIO.
Introdução
8
Capítulo 1 - Padre Teófanes: um exame de sua trajetória
na Educação Alagoana
16
Capítulo 2 - Padre Teófanes e o Pensamento Católico Conservador
do Século XX
28
2.1 As Bases do Pensamento Conservador Educacional de
Jacques de Maritain
28
2.2 O Pensamento Católico Conservador no Brasil
35
2.3 As Demandas Educacionais da Igreja Católica no Brasil
para os anos de 1930 a 1960
40
Capítulo 3 - As proposições conservadoras e empreendedoras da Igreja
Católica de Alagoas na produção bibliográfica de Padre Teófanes
48
3.1 Na Missão de Afirmar
51
3.2 Na Missão de Educar
62
3.3 Alocuções
70
3.4 O pensamento e as proposições do Padre Teófanes na Educação em
Alagoas – uma análise dos elementos destacados
77
3.4.1 Educação Secundária
77
3.4.2 A Educação do adolescente
82
3.4.3 A promoção da Educação pela fé católica
85
3.4.4 A Questão da “neutralidade” da Igreja na condução de uma
educação privatista
91
Considerações Finais
96
Referências
100
8
INTRODUÇÃO
Estudar o pensamento do educador alagoano Padre Teófanes nos permite
discutir
as
matrizes
modernas
e
conservadoras
e,
ao
mesmo
tempo,
empreendedoras da Igreja Católica brasileira no século XX .e como este foi se
constituindo no cenário educacional. Deste modo é possível compreender como as
orientações educacionais da Igreja Católica foram se efetivando nos vários estados
brasileiros, a exemplo de Alagoas e da figura do Padre Teófanes, num cenário que
vivenciava a correlação de forças entre Igreja e liberais, Igreja e comunistas ou entre
comunistas e liberais pela contraposição da pedagogia tradicional conservadora
católica, que ocupava várias faces aquela época, e as ideias de uma educação
laica, pública e obrigatória defendida pelos liberais. Contraposição que também
acontecia entre o grupo católico e o comunista, de forma diferente, pois para a
Igreja, o Comunismo significava uma força demoníaca pela condenação da crença,
cuja propaganda não favorecia a existência do debate, motivo pelo qual era
totalmente rechaçado pelos católicos, que desconsideravam qualquer preocupação
com este embate.
A proposta desta pesquisa é fazer um exame da produção bibliográfica do
educador e padre alagoano Teófanes Augusto de Araújo Barros (1912 -2001),
publicada na segunda metade do século XX: Na Missão de Educar (1961), Na
Missão de Afirmar (1981) e Alocuções (1989). O que permitiu a ampliação da visão
dos vínculos sempre existentes entre o contexto local, nacional e internacional, as
diretrizes católicas e a educação.
Optamos em organizar este estudo em três partes. A primeira parte
pretende analisar a trajetória do padre alagoano, apresentando uma retrospectiva de
sua atuação, principalmente nos ensinos secundário e superior, entre as décadas de
1930 e 1960, em Alagoas. Logo após, abordaremos as demandas educacionais da
Igreja Católica no Brasil, entre as décadas de 1930 e 1960, bem como o
pensamento católico conservador empreendedor, para esclarecer o contexto
brasileiro. Em seguida, a análise de suas publicações bibliográficas, pouco
socializadas no nosso Estado com a comunidade acadêmica e com a sociedade
9
alagoana de forma geral, revelando o pensamento que permeia a postura e seu
agir na educação.
A importância de se considerar a inserção do Padre Teófanes na
educação escolar em Alagoas, deve-se à abrangência de suas ações, perpassando
pelo ensino secundário, com a fundação de um colégio particular,
a sua
participação ativa na Campanha Nacional dos Educandários Gratuitos,
e pelo
ensino superior com a fundação da Faculdade de Filosofia nos anos de 1950 e da
Fundação Educacional Jayme de Altavila em 1974.
Alagoano de nascimento, envolveu-se na educação aos 16 anos, como
docente; no entanto, suas
iniciativas empreendedoras
passaram a ser
representativas com a fundação, no final da década de 1930, do Colégio Guido de
Fontgalland e na
década seguinte (1940) com a Campanha
Nacional dos
Educandários Gratuitos – CNEG, pela qual peregrinou no interior do Estado de
Alagoas fundando mais de 50 colégios secundários.
Incentivou também, no mesmo período, a criação das faculdades de
formação de professores nas cidades de Penedo e Arapiraca. Fundou nos primeiros
anos da década de 1970 o Centro de Estudos Superiores de Maceió - CESMAC,
com quatro unidades de ensino e nove cursos, propiciando a oportunidade do ensino
superior noturno às pessoas inseridas no mercado de trabalho.
A motivação para o desenvolvimento da pesquisa justifica-se pelas
observações feitas no período da graduação (decáda1980), pelo fato de tê-la
cursado no CESMAC e posteriormente em 2001, ano de sua morte, tendo
testemunhado depoimentos sobre sua presença em ações voltadas à educação.
Padre Teófanes participou de um momento importante em nossa
formação profissional, a colação de grau de conclusão do curso de Bacharelado em
Administração, no início de 1991, compondo a mesa dos trabalhos, por ser o Diretor
Geral do Centro de Estudos Superiores de Maceió – CESMAC, instituição na qual
concluímos os estudos de nível superior. Naquele momento a nossa percepção1 do
fato foi de mera formalidade, e o pouco alcance da compreensão do poder por ele
ocupado na educação de Alagoas, inclusive da longa trajetória percorrida. Talvez
influenciada pelo fato de não sermos natural de Alagoas, não tínhamos contato nem
1
Resultante de conversas informais com alguns contemporâneos do Padre Teófanes.
10
ligação mais estreita com os acontecimentos locais. Somente passamos a atentar
para a figura do padre educador no nosso retorno ao CESMAC em 2001 para
desempenhar a função de docente, coincidentemente no ano de seu falecimento.
Esta pesquisa justifica-se também, pelo interesse em investigar sua
posição no contexto da educação em Alagoas, para retirar do lugar comum em que
pusemos a figura do padre educador, seja pelo discurso laudatório, seja
condenador. Laudatório, presente nas pessoas que,
pelo convívio com Padre
Teófanes, sentem-se prestigiadas ou beneficiadas por ele; e condenador, permeado
pelo fato de, em sendo religioso, apresentar um poder de articulações políticas com
a sociedade, na obtenção do êxito em suas iniciativas empreendedoras. Com isto
busca-se recuperar rastros históricos pouco trilhados no sentido de compreendê–lo
no contexto histórico vivido, considerando a correlação de forças no Estado de
Alagoas e pela possibilidade de conhecer a atmosfera educacional no século XX, em
que a Igreja apresenta-se como uma das principais organizações formadoras do
país.
Constata-se que tal investigação não foi feita até então, considerando–se
a produção publicada e o fato da ausência de publicações específicas que
pudessem dar pistas sobre o itinerário do Padre Teófanes.
No momento em que nos interessamos em desenvolver um estudo sobre
o Padre Teófanes no Programa de Mestrado em Educação, a intenção inicial
propunha investigar a contribuição de suas ações
na Educação do Estado de
Alagoas. No entanto, em uma pesquisa preliminar, pudemos nos deparar com um
universo amplo que envolvia a figura do padre educador, que se apresentou com um
leque de opções de objetos de estudo para o desenvolvimento de pesquisas: o
ensino superior, o ensino secundário, as ações da CNEG em Alagoas, sua atuação
no Conselho Estadual de Educação, entre outras possibilidades. Isso conduziu-nos
à escolha da opção de estudar sua produção bibliográfica para revelar seu
pensamento no terreno educacional.
O objetivo do presente estudo está pautado em investigar as ideias do
Padre Teófanes Augusto de Araújo Barros referente à educação, por meio de suas
publicações bibliográficas e elaborar uma leitura mais larga em âmbito nacional e
internacional para
educação.
melhor compreender suas reflexões e proposições
para a
11
A investigação foi desenvolvida com o apoio de fontes bibliográficas,
documentais e em periódicos, utilizadas como base para o desenvolvimento deste
estudo, selecionadas por apresentarem
elementos para o entendimento das
reflexões e proposições do Padre Teófanes, de onde foi possível constituir a base
para a efetivação deste trabalho.
No âmbito da história da educação brasileira, nos apropriamos de autores
que se debruçaram sobre as relações entre Igreja e a educação no século XX. E
para que fosse possível entender o contexto histórico da época, outros
pesquisadores foram contemplados: Dionísio (2009), Mesquida (2008), Silva (2008),
Saviani (2007), Chrispim (2007), Ghiraldelli Jr.(2006), Fávero (2005), Rocha (2004),
Neves (2002), Nunes (1999) e Cury (1984).
Para conhecer as bases filosóficas e educacionais do Padre Teófanes,
revisitamos o pensamento de Amoroso Lima (1936) e do filósofo e educador francês
Jacques Maritain (1968), importante nome internacional ligado à Igreja, pela
referência frequente do padre educador em suas obras, bem como autores que
optaram por voltar seu olhar para Alagoas, a exemplo de Élcio de Gusmão Verçosa
(2001) e Teomirtes de Barros Malta (2004). A última referência, apesar de faltarlhe o rigor da crítica
acadêmica, traz detalhamentos da vida do Pe. Teófanes,
contribuindo para a efetivação deste estudo.
No percurso de análise das obras do Padre educador utilizamos Na
Missão de Educar (1961), Na Missão de Afirmar (1981) e Alocuções (1989), todas
publicações de sua autoria, que retratam o seu pensar e
o seu fazer
na
educação,considerando que, apesar de não estarmos tratando de uma biografia,
tomamos como base de estudo um universo particular e local que se relaciona com
um contexto coletivo e nacional.
A orientação teórico-metodológica desta pesquisa foi pautada em autores
que desenvolveram estudos abordando a pesquisa em História, apoiados na Nova
História, Pesavento (2005), Le Goff (1998) e Reis (1994). A Nova História surgiu a
partir da Escola dos Annales (1929) que, de acordo com Reis (1994,p. 46), se
consolida ainda na primeira metade do séc.XX, com Marc Bloch, um dos primeiros
fundadores.
12
A concepção da historiografia, a partir da Escola dos Annales, iniciou um
repensar no ofício do historiador e propiciou um novo olhar
contribuindo com
sobre as fontes,
as premissas de uma nova postura do pesquisador. Renova a
leitura das fontes e do tempo histórico, a concepção do tempo relacionada à longa
duração e da permanência ou da repetição dos fenômenos. A investigação do
passado justifica-se para responder as perguntas do presente.
A história de longa duração apresenta o entendimento de que o tempo
longo propicia a compreensão da correlação de forças sociais que se estabelecem,
as permanências e as mudanças, pois conforme Le Goff (1998, p.45) “A história do
curto prazo é incapaz de apreender e explicar as permanências e as mudanças”.
A Nova História retirou da centralidade o sujeito político, e pôs outros
sujeitos considerados de pouca relevância; trata-se de se ter mais atenção com
relação às estruturas mentais dos grupos sociais, que vivenciam e constroem a
História, desconstruindo a imagem cristalizada de sujeitos associados a marcos
referenciais na História positivista .
A historiografia promove a valorização de fontes relacionadas à memória,
à história cotidiana, ao símbolo e ao significado observados nos objetos e nos
movimentos culturais, além de permitir a releitura de velhos temas encerrados em
lugar comum, a exemplo da figura do padre alagoano, pelo efeito quase cristalizado
de sua imagem, seja apologético, seja condenador.
A nova postura do pesquisador em relação às novas fontes parte da
valorização de algumas anteriormente desconsideradas, ou analisadas sob um outro
olhar, a exemplo dos documentos. Construindo o coletivo a partir do individual, “O
objeto da história, insiste, são os homens, no plural. A história é a ciência dos
homens no tempo. A história pensa o humano em suas durações”(REIS, 1994,p.54).
A concepção trazida pela Escola dos Annales considera uma variedade de
documentos para responder a pergunta principal. Seus elementos devem ser
complementados pelas ações dos indivíduos e a vivência cotidiana. A pesquisa
documental surge como instrumento norteador para a composição do objeto de
pesquisa, ampliando a composição das fontes, principalmente quando estamos
trabalhando com um objeto de estudo pouco explorado, como o Padre Teófanes.
13
Apesar de que, neste estudo, sua produção bibliográfica ter se configurado fonte
principal.
Destacamos a importância em desenvolver estudos de uma figura como o
Padre Teófanes, o qual deve ser alvo de uma revisitação constante para além desta
pesquisa. Ressaltamos que o objeto escolhido, não foi pelo viés de sujeitos
“politicamente corretos”, e sim o interesse em se apropriar da história da educação
brasileira e alagoana no século XX, a partir de uma grande força educativa: a Igreja
Católica.
O caminho da pesquisa, segundo Pesavento (2005, p. 75), parte da microhistória para facilitar o entendimento da macro-história. O meio de captação da
realidade passa pela decodificação dos olhares que a vivenciam, o que não
dispensa o cultivo de um capital cultural, a fim de articular o local e o nacional. Tratar
sobre o campo metodológico nos ajuda a compreender melhor as posturas teóricas
e a nortear o desenvolvimento da pesquisa a que nos propomos.
A definição de alguns elementos torna-se importante para encaminhar a
investigação, pelo fato de estarem presentes no universo do padre educador. São
eles: o pensamento católico conservador empreendedor da Igreja e seus
desdobramentos no âmbito educacional, bem como a educação secundária e
superior . Não propomos estreitar o universo construído pelo pesquisador a partir
dos indícios encontrados, mas estudar os elementos relevantes na resposta à
motivação da pesquisa.
Esta pesquisa não intenciona ter como resultado uma biografia do padre
educador, pois, baseado na afirmação de Le Goff ( 1998, p.261),
A decisão em escrever uma biografia implica a crença na capacidade
de se chegar até a individualidade, até a personalidade do
personagem que constitui o tema da biografia, porque se pode dispor
dos meios documentais e instrumentos metodológicos para tanto.
Apesar de não ser uma biografia, em alguns momentos torna-se inevitável
um entrelaçamento do seu pensamento com suas características particularizadas,
pela impossibilidade de desassociação do sujeito e do seu pensar.
No entanto ,
mesmo diante do que comenta Jacques Le Goff (1998) quanto ao desenvolvimento
14
de uma biografia, esta “[...] não pode ser senão a tentativa de descrever uma figura
individual, sem logicamente separá-la de sua sociedade, e seu contexto cultural, pois
não há oposição entre indivíduo e sociedade e, sim, uma permanente interação
deles”. O nosso olhar está voltado para as reflexões, argumentações e o
pensamento do padre educador traduzidos em suas publicações, refletindo as
proposições conservadoras e empreendedoras da Igreja Católica para o século XX.
No percurso da pesquisa percebemos a amplitude do universo a ser
estudado tomando como base o padre educador . Optamos então em definir nosso
objeto de estudo por meio da análise de suas publicações bibliográficas. Foram
eleitos como elementos transversais o ensino secundário e o superior, pela grande
contribuição na Campanha Nacional dos Educandários Gratuitos com a fundação de
aproximadamente cinquenta escolas, como também a criação de faculdades.
Foram desenvolvidos três capítulos, com o entendimento de que
estaríamos abrangendo o universo para atender ao objetivo desta pesquisa. O
primeiro intenciona fazer uma retrospectiva biográfica do Padre Teófanes,
destacando sua trajetória na educação e o conjunto de elementos envolvidos no seu
percurso que o caracterizaram como educador e empreendedor.
No segundo capítulo será abordado o pensamento de Jacques Maritain,
como orientador das reflexões filosóficas e educacionais do Padre Teófanes,
norteadas pelo pensamento católico conservador, e as demandas da Igreja Católica
no Brasil entre os anos 30 e 60. Período este delimitado por concentrar as iniciativas
do Padre educador e estabelecer
o entendimento do cenário que propiciou o
fortalecimento de sua forma de pensar e agir.
No terceiro capítulo nos debruçamos sobre as três publicações
bibliográficas pouco conhecidas do educador alagoano: Na Missão de Educar
(1961); Na Missão de Afirmar (1981) e Alocuções (1989), as quais trouxeram o
registro de reflexões e proposições no contexto da educação, bem como do seu
itinerário em Alagoas.
A primeira obra, Na Missão de Educar (1961), apresenta um registro da
história do Colégio Guido de Fontgalland, desde o início das atividades até o final da
década de 1950, acompanhada de uma coletânea dos discursos proferidos por ele
como paraninfo das turmas concluintes do colégio. Disserta sobre as circunstâncias
15
da instalação do Conselho Estadual de Alagoas da Campanha Nacional dos
Educandários Gratuitos, bem como algumas alocuções no papel de paraninfo das
turmas concluintes dos Ginásios instaurados pela Campanha.
Alguns discursos
para as turmas da Faculdade de Filosofia nas solenidades de conclusão de curso
também são publicados.
Em Na Missão de Afirmar (1981), Padre Teófanes traz uma coletânea de
48 pequenos artigos, os quais, segundo ele, foram publicados na imprensa, em
momentos que não são referenciados na obra. Faz apreciações sobre o
Cristianismo, abordando o seu papel no mundo moderno, quando questiona em
“Cristianismo e o Mundo Moderno”, se o mundo moderno tem condições de se
adequar ao que estabelece o evangelho cristão.
Trata da filosofia tomista, como também do existencialismo sartriano,
analisando em “Sartre e seu Existencialismo” o fato de a Igreja determinar que as
suas obras fossem incluídas no “Índice dos Livros Proibidos”. Apresenta também,
entre outras análises, o pensar de alguns escritores da modernidade convertidos ao
catolicismo, a exemplo de Jacques Maritain, e desenvolve um exame sobre o papel
da igreja na construção de uma sociedade melhor.
Em Alocuções(1989) retoma sua trajetória
educacional, por meio da
reprodução de discursos feitos em solenidades na Universidade Federal de Alagoas,
no Centro de Estudos Superiores de Maceió, na Campanha Nacional de Escolas da
Comunidade, em Faculdades no interior do Estado, em sua posse no Instituto
Histórico, na Academia Alagoana de Letras, na Comenda Desembargador Mário
Guimarães, conferida a ele pela Prefeitura Municipal de Maceió. São discursos
através dos quais poderemos nos aproximar de seu pensamento e suas proposições
na educação.
16
CAPÍTULO 1
PADRE TEÓFANES: UM EXAME DA SUA TRAJETÓRIA NA
EDUCAÇÃO ALAGOANA
Entendemos ser importante abordar a biografia do
educador e padre
alagoano, para que tenhamos o conhecimento geral de quem foi Teófanes Augusto
de Araújo Barros na educação alagoana, e assim dimensionarmos seu universo.
Devido à exiguidade de publicações contendo o detalhamento de sua
trajetória, reunimos algumas que subsidiaram este apanhado de informações.
Tivemos acesso a uma obra publicada por sua irmã Teomirtes Malta em 2004,
intitulada Padre Teófanes: Caminhos de uma vida, a única obra que se propõe
exclusivamente ao relato da vida do padre educador. O informativo comemorativo
aos 90 anos do natalício do Padre Teófanes Barros – “ O Semeador da Mocidade”,
anuncia duas outras iniciativas realizadas: 1. no livro “ Literatura e Vida” (1976) de
Antônio Carlos Vilaça, a apresentação de um artigo publicado no Jornal do Brasil,
que inclui Padre Teófanes como uma das personalidades típicas e características do
Nordeste e; 2.
um capítulo dedicado ao sacerdote educador de Alagoas,
na
publicação “Quem é Quem no Brasil” (1995). Além de publicações de alguns artigos
alusivos a sua pessoa, em jornais de circulação local, a exemplo de: “Cônego
Teófanes: Colégio Guido“ (SURUAGY, 2001), “Teófanes de Barros, educador das
Alagoas” (FRANÇA, 1998), e “O Gigante da Laje” (ALBUQUERQUE, 2001). Não
temos notícia de haver algum trabalho acadêmico que trate do universo que
compreenda o sacerdote.
Teófanes Augusto de Araújo Barros (1912 -2001) era natural de São José
da Laje (AL), de onde saiu para Maceió, com a finalidade de compor sua formação
de sacerdote com dois anos de estudos em Filosofia e três de Teologia, de acordo
com o abordado por sua irmã Malta (2004, p.4). Formou-se pela Faculdade de
Filosofia de Alagoas, mantida pela Sociedade Colégio Guido de Fontgalland, de
onde foi o segundo diretor (MADEIRA e VERÇOSA, 2005, p. 13)
17
Segundo artigo publicado por Ranilson França (1998) Padre Teófanes
iniciou na educação pela via da docência, aos 16 anos no seminário, tendo acesso
aos mais prestigiados estabelecimentos de ensino ligado à Igreja e ao Estado, em
Maceió.
Sua primeira disciplina a lecionar foi Psicologia. Entretanto, iniciou sua
brilhante carreira lecionando Matemática, Latim, Português, Italiano e
Filosofia no Colégio Guido de Fontgalland. Professor de Liturgia,
História da Filosofia, Biologia, Química, Física, Cosmografia,
Sociologia e Psicologia no Seminário Arquidiocesano de Maceió. É
ainda catedrático em Latim do Colégio Moreira e Silva, através da tese
„A Métrica na Poesia Latina‟. Professor de Sociologia e Estética,
Português, Francês, Alemão, Latim, na Faculdade de Educação de
Alagoas. Professor de Psicologia e Lógica do curso complementar do
Lyceu Alagoano até 1938. Professor de História Geral, de Inglês, no
ginásio Imaculada Conceição. Professor de Geografia do Colégio de
São José. Professor de História do Colégio Diocesano e também
professor de Psicologia da antiga escola de serviço social Padre
Anchieta. Foi ainda professor de Astronomia no Seminário
Arquidiocesano de Maceió, além de professor de Teologia do Colégio
Santíssimo Sacramento. Professor de Literatura Grega do Instituto de
Letras da Universidade Federal de Alagoas. Encerrou sua carreira
como professor da disciplina Estética no curso de Ed. Artística da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Maceió. (FRANÇA,1998,
[s/p] )
Teve um papel de destaque na educação do Estado de Alagoas entre as
décadas de 1930 e 1970, e seu perfil poderia ser caracterizado como grande
empreendedor pelas ações idealizadas e implementadas. Sua iniciativas surgiram no
final da década de 30 até a primeira metade dos anos 70.
Seu itinerário
primeiramente foi pautado na oferta de educação para quem não tinha condições
financeiras. Teófanes organizou uma escola para adultos. Posteriormente passou a
ocupar-se com a estruturação de cursos noturnos para atender às necessidades de
formação de pessoas já inseridas no trabalho, pois tanto no ensino secundário
quanto no superior,
não se tinham notícias desta possibilidade
em Maceió.
Segundo Suruagy ( 2001,[s/p]):
O curso noturno, em nosso estado, fora uma iniciativa feliz desse
homem de Deus e educador emérito, a quem Alagoas tanto deve, o
cônego Teófanes Barros. A ideia transformada em realidade graças a
uma vontade férrea possibilitou que milhares de alagoanos
ampliassem seus conhecimentos [...]. O sucesso levaria outros
estabelecimentos de ensino a seguirem seu exemplo.
18
Sua trajetória educacional apresentou um marco inicial significativo, com
a fundação de um colégio, em um momento no Brasil,
de fortalecimento de
iniciativas privadas na educação, aliado ao movimento de recristianização do país,
encabeçado por Dom Sebastião Leme, desde meados de 1920, assunto que
trataremos com mais amplitude no capítulo seguinte. O colégio foi nominado Guido
de Fontgalland, iniciativa compartilhada pelo seu tio, Monsenhor Luiz Barbosa.
Conforme Malta (2004, p.26), “Foi na manhã de 6 de Fevereiro de 1939, numa
modesta casa à rua Boa Vista em Maceió, que o Colégio Guido começou a existir.
Era tudo muito simples, modesto. O Colégio São José, fundado pela Arquidiocese,
emprestou algumas carteiras e a Igreja do Rosário também”.
Logo as instalações do colégio começaram a ficar inadequadas para a
quantidade de alunos que o procuravam, demanda gerada pela ineficiência
apresentada pelo Estado em não possibilitar a quantidade de vagas suficiente para
atender a demanda da sociedade, em consonância com o conservadorismo da
Igreja, que entendia a autonomia da família em poder escolher e manter a educação
de seus filhos . Além desta questão, havia também o interesse do Padre Teófanes
de fundar o curso de ginásio. A estrutura física existente não atendia a possibilidade
de ampliação de vagas, sendo necessária a mudança. “Assim em fevereiro de 1940,
foi realizado o primeiro exame de admissão com 40 candidatos. Também foram
abertas as matrículas para as primeiras séries do então curso secundário.” ( MALTA,
2004, p.29).
Encontramos o registro da história do Colégio relatada no primeiro livro
publicado por Padre Teófanes, Na Missão de Educar (1961?), no qual aborda toda
a trajetória de concepção, implantação e desenvolvimento da instituição citada no
terceiro capítulo.
A partir da década de 1940, o sacerdote educador envolveu-se na
Campanha Nacional dos Educandários Gratuitos - CNEG, denominação anterior à
atual Campanha Nacional de Escolas da Comunidade. Segundo Albuquerque (2001,
[s/p]);
19
Era ele diretor da Educação no governo de Arnon de Melo 2 e quando
tomou conhecimento de que havia a Campanha dos Educandários
Gratuítos deixou a Diretoria, fez amizade com Felipe Thiago, o
fundador da Campanha , e a trouxe para Alagoas.
A CNEG foi criada em Pernambuco pela iniciativa do estudante de Direito
Felipe Tiago Gomes. Conforme registro no portal da CNEC,
Em 29 de julho de 1943, no Recife - Pernambuco, o estudante de
Direito Felipe Tiago Gomes, impulsionado pela solidariedade, fundou,
juntamente com um grupo de universitários, a primeira Escola
Cenecista do país, num momento histórico de total desassistência ao
jovem trabalhador. Na época, as Escolas de 2º grau apenas atendiam
as elites, não havendo Escolas noturnas.
Deu-se início, portanto, a esta Instituição, com a finalidade de levar o
desenvolvimento e o progresso às comunidades, através das Escolas
Cenecistas, oportunizando aos jovens a aquisição de conhecimentos e
habilidades necessárias para vencer os obstáculos, numa sociedade
em constante mudança. (CNEC, 2009)
Revendo os anos anteriores ao surgimento da Campanha, na década de
30 “A escola chamada secundária – de tipo acadêmico ou pré-acadêmico – não
tinha caráter popular, constituindo simples escolas preparatórias ao ensino superior
[...]” (TEIXEIRA, 1969, p. 68) propiciando a formação e preparação dos filhos da
elite, em busca do ensino superior. Nesse momento histórico, em que Padre
Teófanes passou a ser protagonista em Alagoas, este nível de ensino ainda era
caracterizado pelo atendimento das elites da época e pela exiguidade de oferta de
Escolas de 2º grau noturnas.
Francisco Campos, no início dos anos 30, com a Reforma que trazia seu
nome, propôs garantir a organização deste nível de ensino. De acordo com
Dallabrida (2009, p. 1),
A chamada “Reforma Francisco Campos” (1931) estabeleceu
oficialmente, em nível nacional, a modernização do ensino secundário
brasileiro, conferindo organicidade à cultura escolar do ensino
secundário por meio da fixação de uma série de medidas, como o
aumento do número de anos do curso secundário e sua divisão em
dois ciclos, a seriação do currículo, a frequência obrigatória dos alunos
às aulas, a imposição de um detalhado e regular sistema de avaliação
discente e a reestruturação do sistema de inspeção federal.
2
Padre Teófanes foi Diretor de Educação no governo Arnon de Melo, em 1951.
20
No entanto, não havia a intenção de popularizar o acesso ao ensino
secundário, mas um fortalecimento de um ensino de caráter elitista,
devido ao
tempo ampliado de estudos na área de cultura geral. A conjuntura brasileira, de
grande expansão de atividades produtivas para o desenvolvimento do país,
apresentava a necessidade de preparação de trabalhadores para fazer face a essa
realidade, sendo considerado plausível uma reordenação do ensino secundário na
tentativa de suprir essa lacuna. Segundo Nunes (1999, p.96),
A educação secundária, dada sua importância, era justamente onde
se fazia sentir o desequilíbrio ante a realidade do país. Esta já não
comportava ensino formalista, arcaico, visando à formação de uma
elite, mera passagem para as escolas superiores.
A Reforma Capanema, nome pela qual as Leis Orgânicas do Ensino
decretadas de 1942 a 1946 ficaram conhecidas, foi pautada nessa possibilidade; em
1942, afetou o ensino industrial e secundário. No entanto, da mesma forma que era
premente a reestruturação desse nível de ensino, apresentava-se como deficiência a
quantidade de colégios que o ofertavam, pois, de acordo com Nunes (1999, p.45),
[...] a expansão desse ensino se fez pelo estabelecimento de ginásios
nas localidades onde, anteriormente, o ensino secundário era
inexistente; pelo aumento de matrícula nas mesmas unidades
escolares e pela criação de novos ginásios em locais onde já havia
estabelecimentos de ensino secundário.
Em Alagoas, essa ampliação ocorreu a partir do final da década de 1940,
e com maior efetividade na década seguinte, por meio das ações da CNEG, pois
anteriormente havia a restrição da oferta de cursos secundários, segundo atestam
Madeira e Verçosa (2005,p.13):
A expansão das escolas secundárias, ocorrida no âmbito nacional, a
partir dos anos de 1930, contudo, somente tornou-se visível em
Alagoas entre os anos de 1940 e 1950, assim mesmo devido ao forte
impulso da Campanha Nacional dos Educandários Gratuitos, nascida
em Pernambuco por iniciativa de um grupo de estudantes e fundada
em Alagoas na data de 15 de outubro de 1948. Somente a partir de
então, começou a surgir uma quantidade razoável de colégios,
ginásios e escolas técnicas ministrando o ensino secundário,
sobretudo na sede de municípios do interior do Estado. De acordo
21
com relatório da Faculdade de Filosofia de Alagoas, de 1954, neste
ano havia mais de trinta estabelecimentos desse nível de ensino no
estado [ ... ].
A ampliação da oferta do ensino secundário deu–se principalmente no
interior do Estado, no antigo nível ginasial, por meio da Campanha, tendo como
condutor o Padre Teófanes, como presidente, desde sua fundação em 1943 até
1962. Em Maceió, no entanto, havia a concentração no nível colegial, prevalecendo
a oferta na iniciativa privada.
O sacerdote educador fundou mais de 50 escolas, nomeando-as em geral
com nomes de santos, para que não configurasse nenhuma intervenção de políticos
ou uso dessas ações como propaganda de campanhas eleitorais, embora a criação
dessas instituições nos mais diversos municípios tenha sido fruto de articulações
com o poderes políticos locais.
Apresentaremos a listagem das escolas, por Município e com os
respectivos anos de fundação, por meio do quadro um (Q1) para melhor
visualização, à exceção do Ginásio Francisco Cavalcante (Palmeira dos Índios) e
Colégio Senhora do Perpétuo Socorro (Maribondo), das quais não foi possível obter
a data de fundação (VENHA VER , 2004, p.27).
Município
Nome do Colégio
Ano de
Fundação
Arapiraca
Colégio Nossa Senhora do Bom
1949
Conselho
Pilar
Ginásio Nossa Senhora do Pilar
1949
Santana do Ipanema
Ginásio Santana
1949
São José da Lage
Ginásio São José
1949
São Miguel dos Campos
Ginásio São Miguel
1951
Pão de Açúcar
Ginásio Dom Antônio Brandão
1952
Murici
Ginásio Nossa Senhora das
1953
Graças
União dos Palmares
Ginásio Sta. Maria Madalena
1952
22
Município
Nome do Colégio
Ano de
Fundação
Capela
Ginásio Maria Imaculada
1954
Olho D‟Água das Flores
Ginásio Santo Antônio
1954
Quebrangulo
Ginásio de Quebrangulo
1954
Arapiraca
Escola Técnica de Comércio
1955
Nossa Senhora do Bom Conselho
Matriz do Camaragibe
Ginásio Comercial Nossa Senhora
1955
da Conceição
Santana do Ipanema
Escola Técnica de Comércio São
1955
Tomaz de Aquino
Viçosa
Escola Técnica de Comércio de
1955
Viçosa
Maceió
Colégio Élio Lemos
1956
Santana do Ipanema
Escola Normal Padre Bulhões
1956
São José da Lage
Escola Técnica de Comércio São
1956
José
São Luís do Quitunde
Ginásio São Luís
1956
União dos Palmares
Escola Técnica de Comércio
1956
Santa Maria Madalena
Anadia
Ginásio Nossa Senhora da
1957
Piedade
Batalha
Ginásio Nossa Senhora da Penha.
1957
Delmiro Gouveia
Ginásio Vicente de Menezes
1957
Maceió
Ginásio Santa Luzia
1957
Marechal Deodoro
Ginásio Tavares Bastos
1957
Pão de Açúcar
Escola Técnica de Comércio de
1957
Pão de Açúcar
Piaçabuçu
Ginásio Elio Lemos França
1957
Pilar
Escola Técnica Dr. Manoel Ramos
1957
Traipu
Escola Comercial Francisco
1957
Mangabeiras
23
Município
Nome do Colégio
Ano de
Fundação
Arapiraca
Escola Normal Manoel André
1958
Água Branca
Ginásio Barão de Água Branca
1959
Cajueiro
Ginásio Nossa Senhora do
1959
Livramento
Colônia de Leopoldina
Ginásio Pedro Francisco
1959
Coruripe
Ginásio Imaculada Conceição
1959
Junqueiro
Ginásio Nossa Senhora da Divina
1959
Pastora
Maceió
Colégio Padre Brandão Lima
1959
Ginásio Crispiniano Portal (1959)
1959
Ginásio Pio X
1959
Mata Grande
Ginásio Félix Moreno
1959
Paulo Jacinto
Ginásio Antônio Farias
1959
Penedo
Ginásio Dr. Anfrisio Freire Ribeiro
1959
Porto Real do Colégio
Colégio São Francisco
1959
São José da Lage
Escola Normal Otília de Barros
1959
União dos Palmares
Escola Normal Correia de Oliveira
1959
Maribondo
Colégio Nossa Senhora do
-
Perpétuo do Socorro
Palmeira dos Índios
Ginásio Francisco Calvacante
-
Observa-se maior concentração de fundação de escolas secundárias nos
anos de 1957 e 1959, em números de 09 e 14 respectivamente, comprovando a
ampliação substancial no quantitativo de oferta de vagas, cujo crescimento
acompanhava o passo dos demais estados brasileiros.
Além da função que assumiu frente à CNEG (1943 a 1962), Padre Teófanes
ocupou cargos locais de importância em organizações voltadas para a educação,
por meio de funções representativas. Segundo registro em Malta (2004, p. 76), sua
trajetória perpassou pelos seguintes cargos:
24
- Membro do Conselho Fiscal da Sociedade Nossa Senhora do Bom
Conselho;
- Fundador e Presidente do Sindicato dos Diretores3, 1955-1975;
- Fundador e Presidente do Conselho de Educação do Estado de
Alagoas- 1962;
[...]
- Diretor Geral do Departamento de Educação – Hoje Secretaria de
Educação – do Governo Arnon de Melo – 1951;
- Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, cadeira nº 16
[...] – 01.12.1969;
- Membro da Academia Alagoana de Letras, cadeira nº 3 [...];
- Fundador da AEC – Associação de Educação Cristã – Seção de
Alagoas.
No entanto, podemos afirmar, por observações informais, que apesar das
funções mencionadas, seu nome sempre foi mais fortemente associado ao ensino
superior devido ao seu envolvimento desde 1950.
Ele foi o responsável pela criação da Faculdade de Filosofia de Alagoas,
que conforme atestam Madeira e Verçosa (2005, p.13) criada, em 17 de junho de
1950, pela Sociedade Colégio Guido de Fontgalland, sendo posteriormente
congregada a outras Instituições de Ensino Superior Privadas em prol do surgimento
da Universidade Federal de Alagoas no início da década de 1960. De acordo com
Tavares e Verçosa ( 2006, p.173, grifo nosso),
[...]a educação superior em Alagoas é um fenômeno tardio, mesmo
para os padrões brasileiros . A sua criação, porém, não é apenas, fruto
do senso de oportunidade de um grupo de professores das escolas
existentes, sob a liderança do Professor Aristóteles Calazans Simões.
Ela responde a pressões estudantis, dos poderes públicos locais e da
sociedade como um todo, frente à modernização do aparelho do
Estado ocorrido em Alagoas, durante a década de 1950, que estava a
demandar profissionais formados em nível superior num volume maior
do que havia se dando até essa década.
Em Alagoas, como no Brasil, os anos 1950 e 1960 são caracterizados por
um processo de mudança denominado “desenvolvimentismo”, marcado pela
esperança em presenciar a minimização de conflitos nas relações políticas. No setor
educacional observou-se que havia uma oferta maior de vagas nas várias
modalidades de ensino, tanto na iniciativa pública quanto na privada, com tendência
3
Não foi possível, durante o estudo, constatar de que organizações são os diretores que fizeram
parte deste sindicato, supõe-se estar se tratando das escolas privadas.
25
de ampliação, marcada pelo movimento de modernização do ensino superior, apesar
de que, conforme Cunha (apud FÁVERO, 1991, p. 150):
O movimento da modernização do ensino superior no Brasil, embora já
se faça sentir nos anos 50, vai ter sua culminância com a criação da
Universidade de Brasília (UnB), que visava dois propósitos: a. manter
junto ao Governo uma reserva de especialistas altamente qualificados
e b. criar um paradigma moderno para o ensino superior no País, [...]
por abranger todos os campos do saber.
Nesse período, em pleno desenvolvimento e expansão das cidades, o país
apresentava a necessidade de preparar especialistas em diversas áreas, para
atender as mais diversas possibilidades de vagas e postos de emprego. Questão
ampliada por Fávero (apud MOROSINI, 1994, p.153), quando aborda os acordos
pós-64:
Em relação ao ensino superior, chamamos a atenção para alguns
aspectos presentes nos acordos, sobretudo no pós-64:
a. a educação é vista como fator estratégico, numa política de
desenvolvimento, e deve ser entendida como eficiente instrumento
para conter os conflitos sociais e eliminar os obstáculos que se
antepunham ao crescimento econômico;
b. os convênios assinados entre MEC e USAID visam a formação de
recursos humanos para consolidação do capitalismo dependente, bem
como a implantação de nova estrutura acadêmica e organização
administrativa , objetivando maior eficiência e produtividade nas
instituições de ensino superior.
Como parte deste caminho, não se pode deixar de citar dois documentos
importantes para as discussões relativas ao ensino superior, e que foram
responsáveis por diretrizes traçadas na reforma universitária de 1968, são eles: o
Plano Atcon4 e o Relatório Meira Matos5, o primeiro, resultado de um estudo
realizado por Rudolph Atcon à convite do Ministério da Educação, e o segundo,
proveniente de um estudo da Comissão Meira Matos, criada pelo governo com o
objetivo de pareceres relacionados às atividades estudantis. Ambos, conforme
4
Atcon direcionava o plano para a implantação de uma visão empresarial de mercado nas
universidades brasileiras, cuja base sustentava-se no rendimento e na eficiência, envolvendo toda
uma reforma estrutural, hierarquização e direcionamento dos processos operacionais (FÀVERO,
1991).
5
O relatório Meira Matos trazia propostas de mecanismos voltados ao controle e monitoramento do
comportamento estudantil da época, pós-64 (FÀVERO, 1991).
26
Fávero (1991), trazem a concepção de modernização e reforma para uma
adequação aos propósitos da nação.
O Ensino Superior fez parte do percurso do Padre Teófanes. Suas
iniciativas empreendedoras em Alagoas também se inseriram no contexto deste
nível de ensino, pelo fato de que, no início dos anos de 1970, fundou o Centro de
Estudos Superiores de Maceió – CESMAC (09 de setembro de 1974), contando na
época com quatro unidades de ensino e nove cursos, com funcionamento autorizado
pelo Decreto nº 74.520/74.
Alegava-se a necessidade de oferta de cursos
superiores noturnos para atender aos alunos já inseridos no mercado de trabalho,
configurando indiretamente a preocupação pela ampliação da qualificação para o
trabalho que permeava as intenções em nível nacional nesse período.
No mesmo ano, em 27 de novembro, foi instituída por escritura pública a
FEJAL – Fundação Educacional Jayme de Altavila, como a fundação mantenedora
do CESMAC, tendo como instituidores Teófanes Augusto de Araújo Barros e João
Sampaio Filho a época Prefeito Municipal de Maceió, atual presidente da FEJAL e
diretor geral do CESMAC. Estas iniciativas de Padre Teófanes propiciaram a
oportunidade do ensino superior noturno às pessoas inseridas no mercado de
trabalho, pois apesar de ser um ensino pago, no período que foi instituída, até o
início da década de 1990, não se registra em Alagoas alternativas de ensino
superior noturno. A Universidade Federal de Alagoas somente iniciou a implantação
de cursos naquele turno no ano de 1990 durante a gestão da então reitora Delza
Leite Góes Gitaí.
A relevância no registro de tais aspectos neste estudo justifica-se pelo
fato de ajudarem a compor o conteúdo das obras publicadas pelo padre educador, já
mencionadas: Na Missão de Educar (1961?), Na Missão de Afirmar (1981) e
Alocuções (1989).
De forma geral, podemos afirmar que as três obras apresentam uma linha
condutora no sentido de registro de sua trajetória e seu modo de compreender o
mundo, o homem e sua relação com a divindade. Na Missão de Educar (1961?) e
Alocuções (1989) apresentam uma identificação maior com nosso objeto de estudo,
trazendo mais especificamente seu universo voltado para a educação, e Na Missão
de Afirmar (1981), apresenta uma coletânea de 48 artigos, como já foi citado, com
27
assuntos diversificados, com um sentido reflexivo sobre a existência humana e o
cristianismo, em linhas gerais.
O então conhecido educador alagoano, Padre Teófanes Augusto de
Barros, veio a falecer em 21 de julho de 2001. Sua morte foi amplamente anunciada
em jornais de circulação local.
28
CAPÍTULO 2
PADRE TEÓFANES E O PENSAMENTO CATÓLICO
CONSERVADOR DO SÉCULO XX
2.1 AS BASES DO PENSAMENTO CONSERVADOR EDUCACIONAL DE
JACQUES DE MARITAIN
Entendemos ser necessário tratar do pensamento do filósofo francês
Jacques de Maritain, pelo fato de suas ideias terem sido tomadas como suporte do
pensamento católico conservador no Brasil no período de que trata este estudo
(1930 – 1960), apresentando várias faces do catolicismo à época: ultra conservador
(integralistas), de direita, de centro e de esquerda.
Abordar as bases do pensamento conservador educacional apoiando-se
no filósofo francês justifica-se por dois motivos: 1. Suas ideias sobre educação eram
respeitadas e incorporadas pelos integrantes da Igreja Católica no período
destacado neste estudo, nacional e internacionalmente, visto ter sido diplomata na
condição de embaixador francês no Vaticano (1945-1948), além de representante
da França na UNESCO e na ONU (1948); foi um dos mentores da redação universal
dos Direitos Humanos; 2. De forma recorrente, no estudo das obras do
Padre
Teófanes, encontrarmos passagens do pensamento de Maritain, em que apoia suas
reflexões, realizando a defesa da postura e do ideário educacional defendido pelo
filósofo francês de forma ampla, amparado no contexto da educação, principalmente
na fé cristã católica.
De fato, nas obras estudadas, o pensamento norteador presente nas
abordagens feitas por Teófanes tem lastro consolidado em Jacques de Maritain. Em
Na Missão de Educar (1961?)
percebe-se elementos presentes nos discursos
publicados, como aliar a instrução à formação de o homem na concepção cristã. Em
Na Missão de Afirmar (1981) cita Maritain para tratar do caminho do homem
progredir e, em um dos artigos denominado “Maritain e seus Inimigos Gratuitos”,
29
vem em sua defesa desenvolvendo um contraponto entre as suas ideias e as críticas
publicadas na imprensa que aliam o maritainismo à tendência colaboracionista com
Satanás .
De Maritain tomaremos como base, especificamente a obra Rumos da
Educação, publicada em 1968, por condensar seu pensamento voltado à educação.
Trata da filosofia de São Tomás de Aquino, tornando-se, mais tarde, um dos mais
respeitados intérpretes do neotomismo do século XX.
A visão tomista de Maritain reconhece no homem a sua essência que é
Deus, e com base nessa essência, apresenta o homem dotado de razão, advinda de
uma revelação divina. Todo o entendimento humano é uma revelação de Deus, e
seus instintos são guiados por essa sabedoria. Tal forma de compreensão do mundo
social no século XX estimulava discussões de duas vertentes: o Liberalismo, pelo
traço utilitário e laico, e o Comunismo, por se consolidar como uma doutrina ateia,
vista pela Igreja como uma criação demoníaca.
De acordo com Santos (1999, p.31), “Maritain propunha uma revolução
espiritual interior e profunda que faria novamente renascer na civilização ocidental os
valores esquecidos da antiga tradição greco-romano-judeu-cristã.”
O Humanismo apregoado configurava-se como uma possibilidade de
evolução moral capaz de alterar a consciência social promotora de um espírito de
comunhão, paz e justiça social entre os homens. Um novo Humanismo que define a
relação do homem com a sociedade na educação contemporânea,
alterando a
relação desse indivíduo com o trabalho, que passa a ser considerado como um
elemento colaborador para o desenvolvimento do espírito, ao proporcionar alegria,
expansão e prazer.
Cury (1984, p.57) traz uma reflexão que discute a diretriz tomista de
Maritain, aliada ao papel da Igreja em relação à educação: “À Igreja compete
educar, porque recebeu esta missão de Jesus Cristo, a fim de elevar o homem da
natureza à graça”.
Na passagem em que Maritain (1968) apresenta os fins da educação,
este aspecto torna-se mais evidente:
30
a.
A tarefa principal da educação é primeiramente formar o
homem, dirigir o desenvolvimento dinâmico pelo qual ele vem a ser
homem,
b.
O homem como um ser de cultura e histórico e que necessita
de disciplina e tradição para atingir a liberdade;
c.
A educação como arte moral.(MARITAIN, 1968, p.26)
Maritain direciona o reforço na essência do homem, o qual necessita de
disciplina para ser livre, assimilando e perpetuando o papel da família junto à Igreja,
tradicionalmente passada por gerações, de pai para filho, pondo–se contrário à
repressão
das
energias
e
virtudes
naturais,
intelectuais
e
morais,
mas
aperfeiçoando-as pelo amor de Deus, considerando que esta liberdade é dádiva
divina, que só poderá ser atingida se a essência do homem for entendida e
orientada a seguir o caminho do bem.
A libertação sem educação não seria possível, sendo aquela que promove
o florescimento no homem de todas as suas virtudes e a relação do homem com
seus valores espirituais. A educação deve promover que o homem seja capaz de
pensar com retidão e desfrutar da liberdade e da beleza. São elementos presentes
na obra de Padre Teófanes, Na Missão de Educar ( 1961?), quando transcreve seus
discursos aos formandos do Colégio Guido de Fonttgaland, referindo-se à conduta
adequada para o jovem. Afirma Barros (1961, p.176);
Sois perpétuamente um projeto, um anseio, uma aspiração e sereis
tiranos para vós próprios se vos chaumbardes à fatalidade da vida
terrena, se engradardes vosso espírito, em vez de fazê-lo subir aos
píncaros para os quais foi chamado [...]. Cultivai vossa sede de infinito
e saciai-vos da plenitude da vida.
A linha condutora do pensamento moderno da Igreja no contexto da
educação apresenta-se também como substrato para o liberalismo, propiciando um
diálogo com a Escola Nova, mesmo caracterizando-se, a princípio, contra a defesa
de uma educação estatal e laica.
O tema da educação utilitária é trazido à tona,
a preocupação com a
forma como a criança, quando adulta, direciona sua sobrevivência, e a busca da
perfeição, apesar de que, na concepção de Maritain (1984,p. 53), o ser humano já
vem com a predisposição ao conhecimento pela via da revelação divina, e quanto
mais o indivíduo se aperfeiçoa, mais se aproxima de Deus e conduz os
31
conhecimentos para o bem, representado pelo Catolicismo. Conforme Cury (1984,
p.179),
As cosmovisões são avaliadas, não em função da realidade, mas em
função do maior ou menor grau de alinhamento com o „Bem‟ (que é o
Catolicismo) ou em função de seu maior ou menor grau de
aproximação do „Mal‟ (que é o Comunismo).
A disciplina dispensada pela predisposição à obediência ao divino, no
contexto de sala de aula, é valorizada neste período, como meio de legitimar a
autoridade dos professores. Fortalecida no recorte temporal feito no estudo em tela,
devido a estar o Brasil em um período de redemocratização, a reeducação moral
surge como elemento disciplinador da juventude protegida, de certa forma, dentro
das estruturas físicas das escolas.
Mantém-se o pressuposto de que o homem é bom por obra divina, e que
precisa ser orientado a manter-se no caminho do bem e na busca da verdade.
Crença recorrente defendida nos vários discursos publicados por Padre Teófanes
na obra “Na Missão de Educar” :
Engrandecei-vos interiormente. Fugi à mediocridade. Nasceste para o
alto, para a Verdade, para o Bem. Sois chamados para a luz. Onde
quer que vivais, conservai aceso em vosso coração a chama do ideal.
Não procureis as vitórias fáceis e os caminhos escusos.
(BARROS,1961?, p.132)6
Considera, ainda segundo Maritain (1968, p.167), a necessidade da
renovação da consciência cristã e de um trabalho de evangelização como base
fundamental necessária para dispor das condições ideais na reeducação moral
imprescindível ao homem.
Aliada à crítica, conforme Maritain (1968,p.28), a educação moderna, para
se chegar aos fins, demonstrava um apego aos meios sem uma visão geral do
processo, apresentando uma leitura negativa da modernidade pelo caráter utilitário
da educação, caracterizando um descolamento do liberalismo da época dos
preceitos da Igreja no âmbito educacional. Conforme Daros e Pereira ( [S/D],p.5 ); “a
6
Fragmento do discurso intitulado “ Dignos de um Futuro”, pronunciado por Padre Teófanes aos
concluintes colegiais de 1950.
32
militância católica [...] empenhava-se, em impedir a difusão das novas pedagogias,
depurando-as de tudo o que não fosse coerente com a moral cristã”.
As finalidades da educação definidas por Maritain envolvem a conquista
da liberdade ligada ao espírito, que pode ser propiciada pelo conhecimento, da
sabedoria, da boa vontade e do amor; e aborda que,
O fim último da educação, consiste em desenvolver a pessoa dentro
da perspectiva de progresso espiritual, não tendo como foco principal
suas relações com a sociedade, não se referindo a um isolamento do
meio mas o fim no indivíduo, na educação deste, para posteriormente
garantir a educação da comunidade. (MARITAIN, 1968, p.42)
Algumas preocupações são pontuadas: 1. o processo que envolve a
educação; 2. o desenvolvimento da inteligência pela proximidade com Cristo,
advinda da revelação divina; 3. o seu fortalecimento no âmbito escolar, por meio do
fomento da leitura do evangelho para alimentar a vida espiritual. A integração da
comunidade estudantil na liturgia da Igreja faz–se primordial para a consolidação
dos objetivos definidos por Maritain. Constatamos que essa prática era incentivada e
vivenciada pela população estudantil do colégio dirigido pelo Padre Teófanes, que
mantinha uma capela dentro de suas instalações, onde promovia celebrações de
missas e primeiras eucaristias.
Outra preocupação envolve o que para Maritain (1968, p.244) representa
as três exigências da educação cristã: o programa escolar, o desenvolvimento da
inteligência cristã e o modo pelo qual o conhecimento religioso e a vida espiritual
podem ser fortalecidos.
É importante salientar que a juventude apresenta-se como ponto central
da Igreja Católica da época, bem como do olhar de Maritain e do Padre Teófanes,
conforme revelado em suas obras. Maritain revela a necessidade de condução de
uma educação que venha a ser condizente com as características do jovem dentro
da Educação Secundária e Colegial . O universo do adolescente é caracterizado,
segundo Maritain (1968, p. 106), como:
[...] ansioso e mutável evolui sob a ordem dos impulsos e tendências
naturais da inteligência – de uma inteligência que não possui ainda a
maturidade e a força devidas a essas poderosas atividades internas
33
que são as ciências, as artes e a sabedoria, mas que é fresca,
penetrante, ávida de julgar sobre todas as coisas, confiante e exigente
ao mesmo tempo, e faminta de visão intuitiva.
A metodificação da condução da educação para o adolescente deve ser
considerada a partir do conhecimento de sua essência, da essência do espírito que
dentro da perspectiva apresentada por Maritain, encontra-se no interior de cada
indivíduo e precisa ser racionalizado e disciplinado, compreendendo o entendimento
de significados e a busca da verdade. Segundo afirma Maritain (1968, p.108),
O objetivo da educação é zelar para que a juventude apreenda essa
verdade ou essa beleza, pela capacidade e dons naturais de seu
espírito e pela energia natural e intuitiva de sua razão animada por
todo seu dinamismo sensível, imaginativo e emocional.
Em sua condução, cabe a defesa de uma educação para o jovem,
objetivando a melhor preparação para a vida do trabalho, e a partir desta fase, no
curso colegial, escolher as especialidades. O contexto da educação liberal permite e
provoca que o homem pense, e atende a necessidade da juventude que segundo
Maritain (1968, p. 110), “ [...] deve ser educada nas artes liberais a fim de melhor se
preparar para o trabalho e as diversões humanas. Mas uma especialização
prematura mata uma tal educação”.
Há preocupações em dois níveis de ensino, sendo coincidente com Padre
Teófanes o nível secundário, retratado pela força de sua obra educacional na
criação de mais de quarenta colégios secundários pela Campanha Nacional dos
Educandários Gratuitos, e o nível superior, quanto à fundação da Faculdade de
Filosofia e do Centro de Estudos Superiores de Maceió.
A preocupação de Maritain abrangia a sistemática da educação na sua
condução de jovens adolescentes e um plano de universidade ideal. “[...] podemos
dizer que o fim da universidade é complementar
a formação da juventude,
conduzindo ao seu termo a aquisição da força e maturidade do raciocínio e das
virtudes intelectuais.” ( MARITAIN, 1968, p.126)
A criação de cursos superiores permeava a desconfiança de instituições
não católicas. Maritain estabeleceu o plano de universidade ideal que consistia nas
seguintes premissas:
34
a. Ensinar o conhecimento humanista, contraponto com o conteúdo utilitário;
A Universidade deveria, no entanto, manter seu caráter essencial de
universalidade e ensinar “o conhecimento universal “. Universal não só
porque todos os domínios do saber humano estavam representados
em seu plano de ensino, mas também porque o próprio plano teria
sido concebido em conformidade com a hierarquia interna e qualitativa
do conhecimento humano e porque, desde a base até o cume, as
artes e as ciências deveriam ser agrupadas e organizadas conforme
seu valor crescente em universalidade espiritual. ( MARITAIN, 1968,
p.128)
b. Divisão em Institutos, considerados de primeira, segunda e terceira ordem;
[...] Os Institutos da primeira ordem constituiriam uma Cidade
Universitária ocupada com os meios técnicos da vida humana, ou do
domínio e utilização práticos da matéria. Os da segunda ordem
constituiriam uma Cidade Universitária ocupada com os meios que
tratam da vida humana, para seu sustento e progresso. Os institutos
da terceira ordem
constituiriam a Cidade Universitária do
conhecimento puro, ocupada com os fins intelectuais da vida humana
[...] Os institutos de quarta ordem constituiriam a Cidade Universitária
do conhecimento superior e intrínsecamente universal, ocupada com
os fins intelectuais supremos da vida humana, que são atingidos pela
conquista do domínio imaterial do Ser, do Espírito e da Realidade
Dívina, e do domínio ético dos fins, das condições e da ordenação
racional da liberdade e da conduta humanas.(MARITAIN, 1968,p.130)
Maritain aprofunda a definição de humano no conceito cristão e sua
influência sobre a educação, contribuindo com a ação da Igreja católica em nível
amplo. Os pressupostos do cristianismo abordado por ele são a imortalidade da
alma, a unidade corpo e alma, que são transpostos para a educação no sentido de
entender que a fé cristã faz parte da natureza do homem, e na educação a relação
corpo e alma se estabelece no contexto do corpo servir de instrumento, para a
revelação do poder espiritual da razão, que se efetiva pelo papel da escola e
diretamente da relação professor aluno. O autor explicita que “ [...] o princípio vital
que existe no estudante é o „agente principal‟ enquanto a causalidade exercida pelo
educador é comparada à do médico, uma atividade apenas cooperadora e auxiliar
[...] ” (MARITAIN, 1968,p.241)
O pensamento de Maritain sinaliza para a convergência em relação ao
pensamento e proposições do grupo católico no Brasil, a partir da década de1920,
apesar de estarmos tratando de contextos diferenciados. De acordo com Cury (1984,
35
p.46), “Para o grupo católico, a questão inicial básica é a natureza do homem.
Entendendo o homem como elemento substancial da sociedade, uma ordem social
cristã almejada implica no desvendamento do que seja a natureza do homem”,
adquirindo a consciência da verdade objetiva e universal.
2.2 O PENSAMENTO CATÓLICO CONSERVADOR NO BRASIL
O debate diante da necessidade de recristianização do povo brasileiro
passava pelo contexto da educação, por ser responsável pela formação da
juventude, fortalecido pelo fato de a Igreja ter representado um poder extraordinário,
quando da instalação das faculdades católicas.
O pensamento católico conservador no Brasil apresentou alguns
representantes de destaque como: Dom Sebastião Leme, Jackson de Figueiredo,
Pe. Leonel Franca, Fernando Magalhães, Alceu Amoroso Lima, conhecido também
como Tristão de Ataíde, entre outros. Entendemos ser pertinente tratar das ideias
defendidas no contexto brasileiro, e por serem referência de estudo para o padre
educador alagoano, inclusive evidenciando alguns desses atores, registrados em
sua obra. Mencionando em Na Missão de Educar (1961?) a instalação do Centro
Acadêmico dos alunos da Faculdade de Filosofia, denominado “Jackson de
Figueiredo”, em Na Missão de Afirmar (1981) o autor dedica um dos quarenta e oito
artigos publicados ao registro de uma viagem de Alceu Amoroso Lima à cidade do
Recife .
Centraremos nossa atenção em Dom Sebastião Leme, Jackson de
Figueiredo e em Alceu Amoroso Lima (Tristão de Ataíde), pelo fato de terem
assumido lideranças significativas e ocupado cargos representativos no movimento
de recristianização do Brasil, pela Ação Católica. Objeto de nossa abordagem logo
em seguida, quando trataremos sobre as demandas da Igreja católica no Brasil dos
anos de 1940 a 1960.
Dom Sebastião Leme (1882 – 1942) assumiu o arcebispado de Olinda
em 1916, pelas mãos do Papa Bento XV,
iniciando então sua jornada na
recristianização do Brasil, a partir do seu relato em suas cartas pastorais.
36
Segundo Mesquida ( 2008,p.32) :
Dom Sebastião Leme, a partir de 1916, desencadeará uma ação
nacional, inicialmente, a partir do Nordeste (Recife), depois, tendo
como centro irradiador da dinamização da Igreja, o Rio de Janeiro, no
sentido de apressar a restauração. Dom Leme irá centrar sua ação no
chamamento dos intelectuais católicos. Para tanto, funda no Rio de
Janeiro, em 1921 e 1922, a revista A Ordem e o Centro Dom Vital,
respectivamente, órgãos de difusão do pensamento católico e de
preparação de intelectuais.
O fortalecimento iniciado no Nordeste configura-se em uma conveniência,
devido
ao campo de ação da Arquidiocese de Olinda, e posteriormente a
abrangência nacional, tendo como centro irradiador o Rio de Janeiro. No intuito de
consolidar uma maior adesão dos católicos ao movimento de restabelecer os
espaços ocupados pela Igreja, tanto na prática cotidiana dos denominados fieis,
como na consolidação do pensamento católico.
A fundação da revista A Ordem(1921) e o Centro Dom Vital (1922), desde
sua fundação com Jackson de Figueiredo, e após seu falecimento, com Alceu
Amoroso Lima, fortaleceu o movimento junto aos intelectuais. De acordo com
Dionísio (2009, p.2),
A Revista, fundada em 1921, foi inicialmente dirigida por Jackson de
Figueiredo, e a sua produção era seriada, mensal. Sediada no Rio de
Janeiro, era de responsabilidade do Órgão Editorial do Centro Dom
Vital, por influência do Cardeal Dom Leme, que desejava ver erigido
pela Igreja Católica um meio de influência capaz de agir face às
transformações que se anunciavam nas primeiras décadas do século
XX. Com o falecimento repentino de Jackson de Figueiredo em 1928,
o recém-convertido Alceu de Amoroso Lima (Tristão de Athayde)
encarregou-se de dirigir o periódico, que chegou a possuir cerca de 12
representações em todo o país.
A congregação dos intelectuais católicos em torno de uma finalidade maior
fez-se necessário, para propiciar a popularização das diretrizes da Igreja,
alcançando a grande massa social em todos os níveis instrucionais e nas várias
camadas da sociedade, bem como ampliar a sua influência no Estado, prevendo a
intervenção em iniciativas deste, se não forem condizentes com os objetivos da
Igreja Católica, ponderando o fato de os representantes religiosos serem
considerados “neutros” na resolução de conflitos. Visualiza-se a possibilidade de
recristianização de todo o conjunto social incluindo sobretudo o Estado.
Segundo Baldin (2009, p. 4),
37
[...] Dom Leme insistia em condensar não apenas o regime político às
orientações católicas, não apenas catolicizar o espaço político, mas
perenizá-lo como um novo tempo histórico agora sob a égide da
soberania do Cristo de Pio XI, uma etapa que antecipa as agruras do
homem moderno e o coloca na linha certa, extinguindo o conflito
social, político e econômico em função da nova era religiosa na qual
entrava a nação.
[...] Dom Leme afirma categoricamente: “Ou o Estado reconhece o
Deus do povo, ou o povo não reconhecerá o Estado.” (apud. AZZI,
1978 p.64). Dom Leme não lança apenas um desafio ou uma
provocação ao governo. Quer enquadrá-lo à causa da restauração
católica.
Dom Leme defendia uma ação efetiva dos católicos no contexto social que
perpassassem os ritos, mas vivenciando a concepção católica no cotidiano,
elevando a pessoa humana e garantindo a minimização das mazelas sociais. De
acordo com Silva (2008, p. 549),”[...] o prelado afirma que o País era unanimamente
católico, mas de extraordinária inoperância dos fiéis no cenário político e social
nacional”.
Este pensamento é referendado por Alceu Amoroso, na sua obra datada
de 1936, Indicações Políticas: da revolução à constituição, onde configura-se um
tratado orientador para as práticas dos católicos no país.
As linhas condutoras da militância de Dom Leme encontram-se refletidas
em sua Carta Pastoral, conforme registro em Silva (2008, p. 550):
Dom Sebastião Leme propunha uma ação dos fiéis em novos termos.
Urgente. Disciplinada. Combatente. Inteligente. Teve especial atenção
pela formação de uma intelectualidade católica. Em 1921, aprovou a
fundação do Centro Dom Vital, cuja função seria estender o
apostolado intelectual por todo o Brasil. Dentre seus colaboradores
mais íntimos estavam intelectuais como Alceu Amoroso Lima e padre
Leonel Franca.
O fortalecimento dos apostolados e o incentivo às práticas cristãs
católicas, vêm no sentido de não valorização de ações destrutivas do homem contra
o homem, por conta da 1ª Grande Guerra.
O que pretendemos é agitar as idéias, inspirar iniciativas, alimentar
apostolados, despertar dedicações e, da nossa parte, não cair no
pessimismo desumano que mata todas as empresas, mal vêem elas à
concepção. A consciência nos doeria se, por falta de lançarmo-las,
morressem ideias de obras que se impõem. Há dificuldades? Onde
não as há? Ponhamos a mão naquilo que julgamos dever fazer, certos
38
de que aos bem intencionados não falta Deus com sua graça.
(MOURA apud SILVA, 2008, p. 550)
A obra de Alceu Amoroso Lima já citada, Indicações Políticas : da
revolução à constituição (1936), foi dedicada a memória de Jackson de Figueiredo,
seu mentor intelectual de quem “herdou”, se podemos assim afirmar, a direção da
revista a Ordem e do Centro Dom Vital. Jackson Figueiredo contribuiu efetivamente
para o movimento iniciado por Dom Leme.
Segundo Daros e Pereira ( [s/d], p.4), “a militância católica, onde Alceu
Amoroso Lima era uma das principais figuras, empenhava-se em impedir a difusão
das novas pedagogias, depurando-as de tudo o que não fosse coerente com a moral
cristã”.
Em Indicações Políticas (LIMA, 1936), Tristão de Ataíde apresenta a ação
católica, retratando a posição da Igreja no mundo moderno, dentro da perspectiva de
uma postura desassociada da política partidária e considerando os princípios
católicos como prioridade.
Elabora praticamente um código de postura relacionado ao dever político
católico, abordando os preceitos negativos e positivos, que orientam
o
comportamento do católico na política do país. Envolve o que não podem fazer em
política, segundo Lima (1936, p. 182),
O que não podem os católicos fazer em política.
a) ter uma consciência política oposta à consciência católica;
b) ficar inativos e indiferentes;
c) fazer intervir a Ação Católica na política partidária.
A intenção publicizada configura uma postura de consciência católica, sem
a intervenção declarada na política partidária. Promovendo ações empreendedoras
em todos os campos, inclusive na educação, refletida na fundação de vários
espaços de prestigiada formação, por meio de iniciativas do clero, a exemplo do já
citado Centro Dom Vital (1921 Jackson de Figueiredo/ Dom Leme), da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (Pe. Leonel Franca), entre outros.
Vale ressaltar que se visualiza a defesa de uma postura
de
monitoramento das ações do Estado, sugerindo ações de colaboração com os
governos, conforme regulamenta:
39
O que podem os católicos fazer em política.
a) intervir em assuntos políticos;
b) desempenhar cargos públicos mesmo de Estados Leigos; não de
Estados hostis (a não ser em caso de salvação pública) (LIMA,
1936, p.184)
Além de expôr o que os católicos têm a permissão de efetivar, traz seus
deveres na contribuição da transformação em Estado cristão:
O que devem os católicos fazer em política
a) Interessar-se pela vida pública;
b) Colaborar com seu voto, nos regimes eleitorais representativos;
c) Estar sempre prontos a colaborar com os governos honestos e
bem intencionados;
d) Cumprir suas obrigações cívicas além do voto, a saber: impostos,
júri, serviço público (militar ou civil), etc.
e) Unir-se aos demais católicos nos momentos difíceis, mesmo com
sacrifícios dos respectivos partidos e de suas opiniões políticas
livres;
f) Unir-se sempre a eles, em torno dos princípios fundamentais.
(LIMA, 1936, p.184)
O fato de a Igreja condenar as atividades político–partidárias não significa
total neutralidade, visto que em todos os momentos da História ela toma partido ou
apoia grupos com ideários que se aproximam das diretrizes estabelecidas por ela.
Alceu Amoroso estabelece também as ações proibitivas, quando anuncia o que os
católicos não devem fazer em política, refletindo a necessidade da Igreja em não
participar de situações que venham a representar interesses particularizados.
O que não devem os católicos fazer em política.
a) Confundir a Igreja ou a Ação Católica com qualquer partido,
mesmo católico;
b) Utilizar-se da Religião para patrocinar qualquer partido político;
c) Subordinar os interesses católicos aos interesses de um
partido;
d) Cooperar para revoluções injustas ou meramente pessoais e
partidárias;
e) Praticar a abstenção e a oposição sistemáticas.
(LIMA, 1936, p.183)
A Ação Católica deve
ser considerada como uma organização
suprapartidária. No entanto, é alimentada a permanência junto ao Estado e a
colaboração aos governos denominados bem intencionados no sentido de pactuar e
promover a preservação dos interesses católicos.
Baldim (2009, p.55) aborda :
Para ilustrar essa condição,
40
Na crise da Revolução de 1930, quando as forças liberais queriam a
renúncia de Washington Luís, Dom Leme se recusa a ser mediador,
um ator de recados, mas quis se fazer interlocutor de um acordo no
qual ele ganhasse destaque. Não é por menos que propõe ceder asilo
ao Presidente no Palácio Episcopal. A Sede Episcopal acaba
representando o ponto neutro, mas performático, que gera as
convergências derivadas, a comunidade de destino de quem quer
determinar de fora da história os rumos dos acontecimentos.
Alceu Amoroso assume, na obra citada, uma postura de conselheiro para
atender a demanda dos católicos quanto ao comportamento e à postura adequados,
face a algumas questões em debate: em relação a política partidária e
ao
movimento integralista defendido por seu antecessor, Jackson de Figueiredo na
direção da revista católica A Ordem (1921). O movimento foi fundado em 1932, em
defesa da trilogia Deus, Pátria e Família: “DEUS dirige os destinos dos Povos, e que
o HOMEM deve praticar sobre a terra as virtudes que o elevam e o aperfeiçoam. O
homem vale pelo trabalho, pelo sacrifício em favor da FAMÍLIA, da PÁTRIA e da
Sociedade” (INTEGRALISMO, 2009 – grifos no original).
Diferente de Figueiredo, Tristão de Ataíde não se define quanto à adesão
ao movimento, mas não se contrapõe, explicitando: “ Devo, entretanto, dizer que as
“diretrizes” integralistas, já publicadas, nada contêm que entre em choque com a
orientação social da Igreja.” (LIMA, 1936, p.218)
Tendo como lastro o pensamento católico conservador no Brasil, tomando
força a partir da década de 1920, disseminado por líderes como Dom Leme, Jackson
de Figueiredo, Alceu Amoroso Lima entre outros, a intenção foi ampliar a percepção
de entendimento do pensamento de Padre Teófanes, como integrante da Igreja,
norteador do seu pensar e agir na educação.
2.3 AS DEMANDAS EDUCACIONAIS DA IGREJA CATÓLICA NO BRASIL DOS
ANOS DE 1930 A 1960
Com a preocupação de aprofundar o entendimento da época abrangida
por nosso estudo, vislumbramos a necessidade de pesquisar o cenário concernente
à educação e as demandas da Igreja Católica existentes no Brasil, para que
possamos compreender as ações e as diretrizes que moviam o Padre Teófanes, um
41
educador e religioso, cujos princípios norteadores estavam sob a luz dos preceitos
cristãos católicos.
Na década de 1930, período que marca o início das iniciativas do padre
educador alagoano, com a fundação de um colégio, juntamente com seu tio,
também religioso, Monsenhor Luiz Barbosa, o debate presente no Brasil envolvia
segundo Ghiraldelli Jr. (1994, p. 39), a construção de um novo país, por meio de
quatro projetos distintos envolvendo grupos com características e interesses
próprios. Eram eles: os liberais, os católicos, os integralistas e os comunistas.
Os comunistas apresentavam particularidades, sobretudo pelas profundas
divergências com o grupo católico, visto que sua ideologia era vista pelos católicos e
integralistas como o sinônimo do mal, contrário ao bem (Deus). Os escolanovistas
eram rechaçados por eles pelo fato de os mesmos acreditarem que a escola
burguesa não poderia propiciar uma educação com a realidade da vida. De acordo
com Neves (apud GHIRALDELLI JR., 2006, p.70) “será capaz a educação burguesa
de fazer com que a criança conheça de perto um sindicato proletário de luta, as mil e
uma peripécias no desenrolar de uma greve de trabalhadores?“.
Neste sentido,
segundo os comunistas argumentavam, a proposta liberal (escolanovistas) induzia o
aluno ao ajuste aos ditames do capital.
Os liberais foram responsáveis pelo Manifesto dos Pioneiros da Educação
Nova (1932). E o mesmo grupo que ficou conhecido como profissionais da educação
na década de 1920 e passaram a ser chamados escolanovistas. O entendimento
deste grupo girava em torno da proposta de construção do país em bases urbanoindustrial. Esse grupo fazia parte da elite intelectual que apoiou a ascensão de
Getúlio Vargas ao poder, e sua primeira iniciativa em prol da educação brasileira foi
efetivada pelo Decreto nº 19.402, de 14 de novembro de 1932, que criou uma
Secretaria de Estado com a denominação de Ministério dos Negócios da Educação
e Saúde Pública. Esta contribuía para cuidar dos assuntos relativos ao ensino, à
saúde pública e à assistência hospitalar, tendo como ministro nomeado Francisco
Campos, conforme Ghiraldelli Jr. (2006,p.40)
Os integralistas, apesar de se fundamentarem no conservadorismo
extremo e na trilogia Deus, pátria e família, considerando Deus dentro da concepção
do catolicismo, não se configuram em um projeto único, o que é possível constatar
pelo fato de não terem gerado a fusão da LEC (Liga Eleitoral Católica) e a AIB (Ação
42
Integralista Brasileira) . Mesmo porque, segundo Ghiraldelli Jr (2006, p.64), “[...] as
simpatias de vários sacerdotes com os integralistas não foram reprimidas pela
Igreja.[...] A Igreja Católica utilizou da AIB para sua pregação anticomunista até mais
ou menos 1937[...]” . O ideário integralista no contexto da educação defendia uma
política profissional voltada para a necessidade de um ensino que atendesse a
demanda do desenvolvimento da indústria, configurando-se utilitário, pelo fato de
estar voltado à necessidade de um mercado de trabalho que ressalta a técnica,
necessitando da preparação de mão de obra para atender a necessidade de
desenvolvimento do país.
Os católicos eram representados, à época, por intelectuais que
mantiveram o posicionamento da Igreja Católica desde a modernidade, em oposição
ao pensamento liberal, que defendia um ensino público e laico. O oposto do grupo
católico pregava uma pedagogia tradicional e o lugar da Igreja no ensino privado,
norteado pela hierarquia das agências educativas, considerando o comunismo como
o pior inimigo.
É importante reafirmar que Jackson de Figueiredo e Alceu Amoroso são
referências importantes na constituição das publicações do Padre Teófanes. O
primeiro, na obra Na Missão de Educar (1961?), onde se registra a instalação do
Centro Acadêmico denominado Jackson de Figueiredo, pertencente à Faculdade de
Filosofia, fundada pelo Padre. E outra referência em Na Missão de Afirmar (1981)
apresenta um artigo para publicizar a estada de Alceu Amoroso Lima na cidade do
Recife, durante o 50º aniversário da “Tribuna”, órgão católico da arquidiocese de
Olinda.
A denominada pedagogia tradicional, herdeira da Igreja Católica, pregava
uma hierarquia no contexto da educação de forma geral, caracterizada
de
hierarquia das agências educativas. Segundo Saviani (2007, p.257):
Conforme a doutrina pedagógica da igreja, apresentada na encíclica
do papa Pio XI, Divini illius magistri , promulgada em 31 de dezembro
de 1929 e explicitada por Alceu Amoroso Lima no prefácio do livro
Debates Pedagógicos7, publicado em 1931, estabelecia-se uma
hierarquia clara entre as três agências educativas: família, Igreja e
Estado.
7
Não houve a possibilidade de acesso a esta obra durante a pesquisa.
43
Os católicos entendiam que à família cabia a educação norteada pelas
diretrizes religiosas cristãs, o que para eles significava a não concordância com o
monopólio estatal, a laicidade, a gratuidade e a obrigatoriedade. Ainda nos aponta
esse pesquisador para a “precedência da família em relação ao Estado”, afirmando
ainda que “a visão católica defende o direito dos pais de decidir livremente sobre a
educação dos filhos”.
Jacques Maritain, em sua obra Rumos da Educação (1968), já condenava
a hegemonia partidária que poderia trazer de volta o totalitarismo, na versão do nazifascismo ou comunista (Stalin). Defende ainda o autor o direito à propriedade e não
pleiteia uma sociedade igualitária como o comunismo, e acredita nas políticas que
respeitam as diferenças individuais, de uma sociedade meritocrática.
Neste caminho várias ações foram empreitadas para fortalecimento do
movimento de oposição, incluindo a formação da LEC – Liga Eleitoral Católica com
o objetivo de garantir os interesses do grupo na
condução da elaboração da
constituição de 1934, conforme descreve Ghiraldelli Jr. (1994, p. 40).
A formação da LEC resultou do desligamento dos católicos da Associação
Brasileira de Educação – ABE, criada anteriormente em 1924 para dar voz ao
movimento renovador da época. A ABE realizou várias Conferências Nacionais de
Educação, no entanto, na década de 1930,
[...] no plano ideológico, as conferências realizadas pela ABE
representavam o confronto de duas correntes opostas: a dos
reformadores [...] e a do grupo chefiado pelos católicos, que viam na
interferência do Estado um perigo de monopólio e na laicidade, e coeducação uma
afronta aos princípios da educação católica
(ROMANELLI, 1987, p.130) .
Segundo Saviani (2007, p. 262) a Liga foi “organizada em âmbito
nacional, foi arquitetada
como um instrumento suprapartidário justificado com o
objetivo de esclarecimento do eleitorado católico”. Dos dez pontos apresentados
pelo grupo, três deles foram considerados prioritários. O primeiro relacionava-se à
defesa da indissolubilidade do casamento, o segundo quanto à incorporação legal
do ensino religioso facultativo nas escolas, e o terceiro referia-se à regulamentação
da assistência religiosa facultativa às classes armadas, entre outras demandas. No
entanto, foi possível a inserção de praticamente todas as propostas devido à grande
intensidade de articulação, o que gerou novo fôlego para o grupo dos católicos.
Ainda de acordo com Saviani (2007, p.264), “com esse resultado os católicos obtêm
44
um reconhecimento, de certo modo, oficial, por prevalecer o princípio da colaboração
recíproca nas relações entre Estado e Igreja”, tentativa presente desde a década de
1910, atestado por Rocha (2004, p. 143), “[...] com a manifestação de D. Sebastião
Leme, na Arquidiocese de Olinda, onde haverá a tentativa de uma agregação dos
católicos para a intervenção política e cultural no cenário nacional”.
Outro foco do olhar de D. Leme foi o fortalecimento da relação entre leigos
e o clero, segundo afirma Chrispim ( 2007, p.3):
Em sua tentativa de converter os católicos em força de influência nos
destinos da nação e salvaguardando a nacionalidade, D. Leme
proclamava a necessidade de que se revigorassem os laços entre os
leigos e a hierarquia eclesiástica. Assim, juntos, ainda que sob uma
estrita subordinação dos primeiros aos comandos da cúpula
eclesiástica, desferissem a ação católica.
Entendemos que as conquistas do grupo que formava a Liga Eleitoral
Católica, aliadas à afirmação de que os
representantes do ideário católico na
década de 1930, conforme Ghiraldelli (2006), apresentaram ações que promoviam
dificuldades de ampliação social do espaço das pedagogias, não se distanciaram
dos escolanovistas, visto que os pensamentos de ambos não se apresentavam em
total antagonismo. Conseguiram manter viva a proposta da Igreja Católica diante do
ideário da Escola Nova, atestado, de certa forma, por Cury (1984, p. 180):
O reconhecimento oficial da autonomia relativa do Estado em suas
novas formas , obrigava a Igreja Católica a aceitar os processos de
representação inerente à essas formas . Daí a tentativa de alianças,
„concordatas‟ etc. Com isto, alguns de seus princípios, especialmente
os referentes aos aspectos sociais da doutrina social católica, foram
aceitos por grupos de si não-católicos com influência no Estado”
A relação entre Igreja e Estado sempre esteve presente no contexto da
educação brasileira como desdobramento das ações civilizatórias dos colonizadores,
desenvolvidas pela ação jesuítica no Brasil Colônia.
A perpetuação da relação Estado e Igreja no final do séc. XIX e no séc.
XX, deu-se principalmente no foco de debates em torno da inserção e permanência
do ensino religioso nas escolas, e a manutenção da rede particular de ensino.
Embora a República anunciasse o descolamento do vínculo com a Igreja, esta se
manteve nas diretrizes educacionais do país. Com o governo Vargas, as velhas
forças oligárquicas de apoio aos chefes políticos das cidades, especialmente
45
nordestinas, continuaram definindo as políticas de Estado,
e a força da Igreja
ajudava a preservar a correlação de forças entre liberais e conservadores, além de
consolidar uma espécie de “cimento mental” nos grupos sociais, em especial com
relação à educação. Daí o embate com os liberais no sentido de não permitir a
inteira retirada da família nas obrigações de escolarização dos filhos, como
defendiam os escolanovistas.
Situação presente em várias Constituintes brasileiras, a exemplo de 193334, na qual a temática é presente no apoio às emendas religiosas, em que a Igreja
tentou incluir o ensino religioso facultativo nas escolas públicas. Obteve êxito pelo
fato de, estrategicamente, os renovadores não acirrarem as discussões sobre a
matéria, resultando constitucionalmente na inclusão do ensino religioso nas escolas
públicas , de caráter facultativo, e fazendo parte dos horários escolares regulares.
De acordo com Cury (1984, p. 176) há “a recuperação do caráter „conatural‟ do Catolicismo como „constitutivo formal nacional‟” . No entanto, o cerne da
questão não era apenas a inclusão ou não do ensino religioso, mas de a família ter a
liberdade de assumir a educação dos filhos e não delegar este papel ao Estado.
Na maioria dos estados, poucos ajustes foram feitos, pois já haviam
incluído a disciplina nas escolas, sendo muitas fora do horário normal de aula.
Houve também o afrouxamento das regras por Vargas
para alargar a rede de
ensino privado. Segundo Cury (1984, p. 182),
As reivindicações dos católicos foram atendidas, umas porque
reforçavam a política de Vargas, outras por serem consideradas não
tão substanciais, mas apenas funcionais. Afinal, se a Igreja Católica
assume, pelas escolas particulares, parte do ônus, de si, cabível ao
Estado, por que não permitir o Ensino Religioso nas escolas públicas
oficiais?
Na Assembleia Constituinte de 1946 o foco de discordância, além de
outras matérias, apresentava-se sobre a permanência do ensino religioso nas
escolas, baseando-se na necessidade de laicização deste ensino, visto que, em
geral, era baseado nos postulados católicos e não incluíam abordagens baseadas
em outras religiões, sendo facultado à Igreja e às famílias esta tarefa, respeitando-se
o credo de cada indivíduo.
Um fragmento da obra de Fávero ( 2005, p. 166) ilustra bem esta questão:
46
A oposição a este ensino utilizava dois tipos de argumentos:
a) A República separou o Estado da Igreja e o ensino religioso na
escola pública – bem como as demais emendas religiosas –
seria um retrocesso em relação ao lema republicano da “Igreja
Livre num Estado Livre”. O ensino de religião seria tarefa dos
templos e da família, não da escola.
[...] b) Outra variante da postura contrária ao ensino de religião
partia da certeza de sua aprovação. Centrava suas objeções em
medidas que o tornariam de mais difícil execução. Tal ensino
deveria ser ministrado “ fora do horário normal de aulas”, “sem
ônus para os cofres públicos”, “ministrado por pessoa estranha ao
corpo docente do estabelecimento de ensino” etc.
Uma especificidade interessante no texto da Constituição de 1946 é que o
ensino religioso, em sendo facultativo, deve ser ministrado de acordo com a
confissão religiosa do aluno, demonstrando uma preocupação em adequar as
características dos discentes à diversidade de crenças religiosas, característica do
povo brasileiro, e reduzindo a intensidade da discussão quanto à laicização do
ensino religioso.
A Constituição de 1946 já não atendia mais as necessidades da Nação.
Esta precisava ser ajustada às exigências do modelo militar–tecnocrático em vigor
desde o golpe militar de 1964.
Em abril de 1966, começam as discussões e articulações em prol de uma
nova constituição, que foi promulgada em 1967. Durante todo o processo de
construção e debates para que a nova lei tomasse corpo, os debates sobre o ensino
religioso pautaram–se na forma pela qual seria ofertado, e na questão referente à
remuneração dos professores. Pelo disposto por Fávero (2005), não tiveram
opositores quanto a questão da sua existência nas escolas.
Congregando todas as discussões sobre o ensino religioso até a década
de 1960, pode-se apontar que os debates em todo o percurso perpassaram por
questões voltadas à obrigatoriedade, à garantia de serem incutidos valores
religiosos, morais e cívicos, à laicização do ensino pela diversidade de credos, à
remuneração de professores pautada na quantificação do ônus para a União e a
preocupação com a formatação e condução dos conteúdos.
Os debates então apresentados foram provocados pelos católicos, tendo
como base as diretrizes de que a prerrogativa da educação é dentro de um contexto
47
hierárquico da família, Igreja e Estado, nessa mesma ordem. Não se
podendo
desassociar do fortalecimento, enfraquecimento ou rompimento da relação Igreja e
Estado, considerando os interesses dos atores componentes de cada cenário da
história, a qual não se resume ao contexto da educação, mas ao contexto muito
mais amplo, envolvendo as questões políticas, políticas- partidárias e econômicas.
48
CAPÍTULO 3
AS PROPOSIÇÕES CONSERVADORAS E EMPREENDEDORAS DA
IGREJA CATÓLICA DE ALAGOAS NA PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA
DE PADRE TEÓFANES
Cabe-nos, neste momento, reafirmar o objetivo geral do presente estudo,
que está pautado em investigar as ideias do Padre Teófanes Augusto de Araújo
Barros referentes à educação, registradas por ele em sua publicação bibliográfica:
Na Missão de Educar (1961?), Na Missão de Afirmar (1981) e Alocuções (1989),
fontes que deram suporte a esta investigação. Debruçamo-nos sobre sua obra para
dar resposta às nossas inquietações, e atender ao que definimos como
desdobramento desta pesquisa: estudar suas obras
publicadas e elaborar uma
leitura mais larga de suas reflexões e proposições para a educação.
Apesar de suas obras terem sido publicadas nas décadas de 1960 e 1980,
o recorte temporal deste estudo, envolvendo o período entre as décadas de 1930 e
1960, justifica-se pelo fato de se configurar o suporte do pensamento e das
proposições conservadoras e empreendedoras da Igreja Católica no âmbito
educacional, por intermédio de Padre Teófanes como um de seus representantes
em Alagoas.
Sistematizamos este capítulo apresentando o conteúdo geral das obras
citadas, o que permitirá a visualização dos temas abordados como um todo. Ao
tempo em que promovemos uma leitura crítica dos elementos direcionados à
educação, sob a luz das proposições conservadoras e empreendedoras da Igreja
Católica, estabelecemos, na medida do possível, um diálogo a partir dos autores
que alicerçaram nosso estudo.
As obras Na Missão de Educar(1961?) e Alocuções(1989) alicerçaram
nosso estudo no âmbito da educação pelos conteúdos apresentados. Ambas trazem
uma coletânea de discursos proferidos pelo Padre Teófanes em ocasiões que
marcam sua trajetória no contexto da Educação em Alagoas.
49
Em Na Missão de Afirmar(1981), devido à constituição da obra, não
conseguimos subsídios para atender ao objetivo de nossa pesquisa, mas
representou um referencial importante para reafirmar as influências consolidadas no
pensamento de Padre Teófanes,
principalmente o filósofo francês Jacques de
Maritain.
As proposições conservadoras e empreendedoras da Igreja Católica de
Alagoas são refletidas na produção bibliográfica de Padre Teófanes, até mesmo
pelo motivo de que no recorte cronológico estabelecido no estudo havia uma diretriz
nacional e
internacional a ser seguida pelos membros da Igreja, conforme
estabeleciam as encíclicas papais, que determinavam como princípio norteador a
manutenção do poderio da Igreja como um possível instrumento de controle social.
Isso foi retratado no empenho da Igreja Católica com relação à educação
brasileira, em sincronia com o movimento orientado pelas intencionalidades de Dom
Leme, e seus principais seguidores, Jackson de Figueiredo e Alceu Amoroso Lima
(Tristão de Ataíde), consolidados pelas funções que ocuparam na Revista “A Ordem”
e no “Centro Dom Vital”. Como vimos, promove a aproximação e o fortalecimento da
intelectualidade católica, para o grande movimento de recristianização do Brasil no
século XX .
Em Alagoas, a consolidação dessa movimentação da Igreja no âmbito da
educação teve como agente fortalecedor do processo o Seminário de Nossa
Senhora da Assunção, pois, segundo Verçosa (2001, p.113), influenciava a
sociedade alagoana, pela quantidade crescente de padres formados que
disseminaram este saber . Afirma ainda que:
Essa influência seria inclusive muito mais específica e confessional do
que, por exemplo, o Seminário de Olinda, [...] na medida em que
estava voltado para a formação de clérigos e leigos, enquanto aquele
destinava-se unicamente à preparação do clero e, portanto, veiculava
especialmente um saber eclesiástico. (VERÇOSA, 2001, p. 113)
A disseminação deste saber acontecia em várias instâncias, ainda de
acordo com Verçosa (2001, p.114):
Se o saber escolástico, através dos egressos do seminário, estava
constantemente presente nos púlpitos e nas demais instâncias
utilizadas pela Igreja para impor a sua pedagogia, ele não deixava de
ter curso também através da presença de padres e leigos formados
pelo Seminário que, oriundos em geral de famílias oligárquicas e tidos
como de notório saber, ocupavam posições importantes, sobretudo no
50
magistério, no funcionalismo público e na política. A presença
especificamente eclesiástica na direção de escolas e no magistério em
Alagoas daria um estudo à parte, tal é o número de padres como
donos de escolas e professores, no início deste século8 e mesmo
depois, acompanhando o processo de crescimento urbano no Estado.
Padre Teófanes passou a pertencer a esse grupo, primeiro como docente,
iniciando no Seminário, atuando em diversas disciplinas, depois, como diretor de
escola de educação primária e secundária, quando fundou o Colégio Guido de
Fontgalland, como mentor e diretor de instituições de ensino superior, no caso da
Faculdade de Filosofia e do Centro de Estudos Superiores de Maceió, e ocupando
cargos públicos importantes, a exemplo da Diretoria de Educação no governo de
Arnon de Melo e ainda da presidência do Conselho Estadual de Educação de
Alagoas. Posições de destaque que agregaram credibilidade às articulações
lideradas pelo padre educador na consecução de suas ações empreendedoras.
Retratadas por ele quando afirma:
Vimos contando com o apoio integral da sociedade alagoana, a
começar pelos nossos dirigentes. Temos já um prédio próprio, que nos
foi doado pelo Governo de Alagoas na gestão Divaldo Suruagy por lei
estadual aprovada em nossa Assembléia graças ao interesse por
nossa causa manifestado pelo então presidente daquela Câmara
Legislativa, o deputado, hoje governador Guilherme Palmeira.
Conseguimos com grandes esforços construir o edifício de 5 andares
ao qual demos o nome do então Ministro da Educação Ney Braga.
Tivemos o apoio entusiástico e a cooperação decidida de homens
públicos do quilate de Tarcísio de Jesus, João Sampaio, Afrânio
Lages, Benedito de Lira, Murilo Mendes, sem esquecer de modo
algum a atuação eficaz do Senador Arnon de Mello, que foi decisiva
para a autorização de nosso funcionamento.
Jamais deixaremos de tributar nosso reconhecimento a estes vultos
tutelares de nosso empreendimento. Não podemos deixar de
reconhecer a profícua atuação, quando lutávamos pela nossa
autorização, do Conselheiro Padre José Vasconcelos, então
presidente do Conselho Federal de Educação, e, na batalha do
reconhecimento, dos Conselheiros D. Serafim Fernandes de Araújo,
Prof. Nathanael Pereira de Sousa e Reitor Caio Tácito, que souberam
fazer justiça a nossa iniciativa.
Nossos empreendimentos a tão insignes mestres e a todos quantos
nos ajudaram e vêm realizando nesta obra que é menos nossa do que
de Alagoas e do Brasil. (BARROS, 1989,p.103)9
8
O autor refere-se ao século xx.
Fragmento do discurso proferido por ocasião da colação de grau da primeira turma de bacharéis da
Faculdade de Direito de Maceió [s/d].
9
51
Tal abordagem sugere a efetivação de um elevado grau de articulação,
propiciado também pelo fato de ser o Padre Teófanes um representante da Igreja,
por uma trajetória que se prolonga desde a década de 1930. Aspecto fortalecido em
nível nacional pela presença de religiosos na condução do Conselho Federal de
Educação, órgão regulador maior da educação brasileira.
Partindo do contexto histórico apresentado, procederemos ao estudo e à
análise dos elementos presentes na produção bibliográfica do padre alagoano no
âmbito da educação, iniciando pela sua segunda publicação, se considerarmos o
aspecto cronológico, Na Missão de Afirmar (1981), visto que somente a
apresentaremos no sentido de fortalecer o entendimento das bases do pensamento
do Padre Teófanes em termos gerais. Em seguida, aprofundaremos nosso olhar nas
duas obras que abordam a problemática a que este estudo se dispõe: Na Missão de
Educar (1961?) e Alocuções ( 1989).
Para que possamos desenvolver nossa análise sobre o pensamento e
proposições do Padre Teófanes, expostos na produção bibliográfica já mencionada,
estabelecemos e priorizamos eixos temáticos que permeiam o contexto das obras
analisadas. São eles: educação secundária, o adolescente e a educação, a
promoção da educação através da fé católica, a questão da “neutralidade” da Igreja
na condução de uma educação privatista, ensino superior privado e a educação
como sacerdócio.
3.1 NA MISSÃO DE AFIRMAR
A obra de Teófanes publicada em 1981, Na Missão de Afirmar, contém
160 páginas, e apresenta um direcionamento de conteúdos diferenciada da primeira,
Na Missão de Educar (1961?). Enquanto a obra publicada em 1961 trouxe como
destaque a história e trajetória do Colégio Guido e os discursos do Padre Teófanes
aos alunos, em
Na Missão de Afirmar (1981)
apresenta uma
coletânea de
quarenta e oito artigos com temáticas variadas, já publicados na imprensa, conforme
o autor. No entanto, não nos ficam claros os momentos, nem os veículos utilizados
nas publicações anteriores.
52
A obra como um todo não trata especificamente do seu pensar na
educação, no entanto, veio contribuir para que pudéssemos entender melhor as
bases gerais do pensamento do padre educador, elaborando uma leitura mais larga
de suas reflexões, visto que os temas demonstram a vasta leitura do autor.
Os artigos apresentados na obra abordam as mais diversas temáticas,
alguns com assuntos complementares e outros com direcionamento próprio.
Formulamos o quadro dois (Q2) que os relaciona na ordem estabelecida na
publicação, conforme segue:
Ordem do Sumário
Título do Artigo
1.
* Religião e Coração Humano
2.
* Pentecostes
3.
Carta Aberta a um Futuro Noviço
4.
* Cristianismo e Mundo Moderno
5.
* Deus no Mundo Moderno
6.
* Equilíbrio Sobrenatural
7.
Humanismo
8.
* Santo Tomás de Aquino
9.
* Eternidade e Tempo
10.
Problema da Vida
11.
* A Eternidade no Tempo
12.
* Uma Mensagem Oportuna
13.
* O Mistério do Homem
53
Ordem do Sumário
Título do Artigo
14.
A Longa Solidão - I
15.
A Longa Solidão – II
16.
A Longa Solidão III
17.
* Reflexões sobre a Inutilidade da Filosofia
18.
Diálogo em Filosofia
19.
* O Mundo Hodierno
20.
Existência e Existencialismo
21.
O Existencialismo e nosso Século
22.
Sartre e seu Existencialismo
23.
Uma Resposta de Deus
24.
Deus e os Homens
25.
Leon Bloy10 e o Mistério da Vida
26.
Giovani Papini11
27.
A Tragédia do Pensamento Moderno
28.
Claudel e sua Conversão
29.
Notas Sobre a Estética
30.
Por uma Economia Humana
31.
Limites da Técnica
10
11
Escritor e romancista francês devoto a Igreja (1846-1917).
(1881 – 1956) Escritor italiano das obras: “O Juízo Final”, “Memórias de Deus” e “Santo Agostinho”.
54
Ordem do Sumário
Título do Artigo
32.
* Maritain e seus Inimigos Gratuitos
33.
Bérgson – Pensamentos e Coração
34.
Congar e a Reforma da Igreja
35.
O Pastor Angélico
36.
Pausa para Meditação
37.
Ascese Oriental
38.
Um Curso de Teologia
39.
Carta a um Jovem
40.
* Perilo Gomes
41.
* Tristão de Ataíde em Recife
42.
A Rosa Acontecida
43.
O que Faltou a Machado
44.
A Missão do Sacerdote
45.
De Plenitude Christi
46.
Recordando
47.
No Congresso de Vocação Sacerdotais de Maceió
48.
Prece ao Senhor
Tomando como princípio a diversificação das temáticas tratadas, elegemos os
conteúdos de alguns dos artigos12 publicados na obra, destacando os pontos que
12
Os artigos que serão abordados estão sinalizados (*) no quadro apresentado.
55
entendemos sedimentar seu pensar quando trata da educação em Na Missão de
Educar (1961), e em Alocuções (1989).
No artigo nominado “Religião e Coração Humano”, Teófanes aborda a
inquietação de Sto. Agostinho sobre a existência humana ou de como conduzi–la,
afirmando com convicção que só a religião traz sentido a vida.
O cerne da questão envolve a angústia do homem em se deparar com o
não entendimento da razão de sua existência, na reflexão propiciada pela
inteligência, principalmente quando é desassociada da mensagem cristã.
Barros (1981, p.15) aborda;
„Que fazer da vida?‟, eis o grande, o magno, o fundamental problema,
de cuja solução depende a de muitos outros. Afinal é nos concedida
uma seqüência de dias entre dois mistérios: o antes e o depois.
Gravitamos entre duas incógnitas. É forçoso que se angustie o
coração humano quando a inteligência reflete sobre estes assuntos.
Para o homem alheio à mensagem cristã deve ser grande a tortura
íntima que o acabrunha. Viver sem saber para que vive é de verdade
um suplício.
As afirmações nos reportam a indução
esclarecer a razão da existência humana,
de associação religiosa para
no intuito de apresentar uma explicação
para se atingir o bem supremo, e minimizar a inquietação do homem quanto a este
entendimento. Lembrando Maritain (1968, p.37): “o evangelho devia elevar a
perfeição humana a um nível superior – verdadeiramente divino“. A crença na busca
deste caminho pelo homem apresenta-se como uma bandeira na consolidação da
Igreja na vida deste indivíduo, abrangendo o contexto social que o envolve,
significando um forte elemento de oposição a defesa do laicado pelos liberais.
Barros reafirma em “Pentecostes” que o espírito de Deus é responsável
pela humanização do homem, sendo um contraponto entre o mundo material que
prioriza os bens, e o mundo espiritual que propicia justiça e fraternidade, tendo como
conseqüência o acesso aos bens da terra.
Segundo Barros (1981, p. 18) :
Estão responsabilizados os cristãos por um mundo melhor de justiça e
fraternidade universal, em que bens da terra não sejam privilégio de
poucos. E quanta fome, quanto sofrimento, quanta amargura por esse
mundo afora, quanta diferença e quanto conformismo !
56
Os que têm o conhecimento, isto é, a graça de conhecer a Deus, devem
disseminar este conhecimento e contribuir para que a sociedade torne-se melhor
através do amor de Deus, no sentido dos valores terrenos serem suplantados .
O autor faz referência a Maritain quando trata da importância de o homem
progredir, somente sendo possível pela busca da proximidade com Deus, atribuindo
a Pentecostes a missão de transformar o homem em uma obra “divinamente
humana”. A revelação de Deus ao homem tratado por Tomás de Aquino e por
Maritain prevalece e propicia o desenvolvimento deste homem.
“Cristianismo e Mundo Moderno” e “Deus no Mundo Moderno”, tratam do
afastamento do Mundo Moderno do que é divino, melhor dizendo, apontam que os
elementos da modernidade afastam o homem de Deus, e o distancia das
possibilidades de vivenciar o evangelho. É exemplo disso:
Este mundo moderno efervescente e trepidante, que vive ensurdecido
pelo silvo das sirenas, pelo ronco dos aviões, este mundo do arranhacéu, da bomba atômica, das realizações ciclopes, do rádio e da
televisão, será que este mundo possa cristianizar-se, amoldar-se às
normas do Evangelho de Jesus Cristo? (BARROS, 1981, p.23).
Indagação que demonstra convergência com a preocupação da Ação
Católica no Brasil, sob a liderança de Dom Leme, em recristianizar o país,
especificamente no que se refere ao fortalecimento e consolidação
da religião
católica no cenário nacional. Segundo Rocha (2004, p. 143),
Desde 1916, com a manifestação de D. Sebastião Leme, na
Arquidiocese de Olinda, que há a tentativa de uma agregação dos
católicos para a intervenção política e cultural no cenário nacional. O
intuito de participação católica promovida por D. Leme é o de resgatar
a influência católica sobre a nação e o Estado brasileiro, de acordo
com o argumento de que o catolicismo é a religião hegemônica da
cultura nacional. Portanto, o resgate de um lugar que lhe seria devido.
A República laica os afastou da influência sobre o Estado.
No entanto, Padre Teófanes acredita ser possível a retomada da busca de
Deus pelo homem, devido a sua necessidade de suprir as angústias quanto à
finalidade de sua existência, e por apresentar características valorosas que
propiciam a reaproximação, como: heroísmo, abnegação e capacidade de sacrifício.
Apoia-se em Maritain e Santo Tomaz para fortalecer a perspectiva da
razão de ser da existência humana e da concepção cristã da cultura, pois, segundo
57
ele, “o homem existe para contemplar a verdade [...]. É pela inteligência que o
homem caminha em demanda de sua plenitude”( BARROS, 1981, p.24).
A concepção cristã, para Maritain, somente se faz possível por meio do
resgate de valores pouco prestigiados na modernidade, pois, conforme afirma
Santos (1999, p.31) em fragmento já anteriormente citado em 2.1, “Maritain
propunha uma revolução espiritual interior e profunda que faria novamente renascer
na civilização ocidental os valores esquecidos da antiga tradição greco-romanojudeu-cristã.”
O artigo intitulado ”Equilíbrio Sobrenatural” aborda a existência de uma
ordem no mundo da sobrenatureza, o qual maravilha mais ainda do que a ordem
da natureza. A inteligência humana não pode compreendê-la humanamente, porque
é ímpar, segundo Barros (1981, p. 29): “ Deus escolheu coisas tolas segundo o
mundo para confundir os sábios, e as coisas fracas segundo o mundo para confundir
os fortes [...] . Se não penetrarmos bem no mistério cristão, nunca aprenderemos
seu verdadeiro sentido.”
Padre Teófanes dedica um artigo a Santo Tomás de Aquino, configurandose um tributo ao filósofo e frade dominicano do século XIII, cuja importância para o
catolicismo deveu-se ao trânsito feito do Cristianismo medieval para o moderno. Pois
segundo o padre educador o legado de Sto. Tomás representa um universo em
constante necessidade de estudos, como afirma:
Mas por mais que já se tenha dito de Sto. Tomás sempre resta muito
a dizer. Ele é principalmente o farol de todas as gerações que
investigam a verdade. O que mais admira em seu método é o
profundo respeito que tem pelas opiniões alheias. [...] Costumava
discutir nas universidades, nos lugares públicos, com toda a
serenidade respeitando o adversário e conduzindo-o do erro à
verdade (BARROS, 1981, p.33). .
O respeito ao adversário e a sua condução para o caminho da verdade
caracteriza-se dentro da lógica tomista-dialética. Ainda em Barros (1981,p.34):
Nenhum filósofo viveu mais profundamente a verdade que ensinou do
que este grande Santo. . A sua profunda ciência era devida, como ele
próprio declarou certa feita, a sua vida de oração. Ele revelou que
adquirira a sua ciência não pela indústria humana mas pelo mérito da
oração. [...]
Que os intelectuais de todos os tempos procurem conhecer de perto
Tomás de Aquino . Que meditem sua vida e sua admirável obra. Que
58
verifiquem assim a existência de uma grandeza superior a tudo quanto
parece grande aos olhos dos homens: a grandeza da alma que cresce
para Deus.
A reflexão sobre a ideia de mutabilidade do tempo e a noção de
eternidade é desenvolvida nos artigos “Eternidade e Tempo” e “A Eternidade no
Tempo”. Na tentativa de estabelecer uma relação coerente entre a questão tempo
na atualidade, com sua característica de mudança, e a representação da eternidade.
Barros (1989, p.35) afirma:
Mas o pensador cristão se apresenta com uma tremenda
responsabilidade, no mundo de hoje. Falar de Eternidade no tempo é
realmente missão muito séria. O tempo está perpetuamente a fluir, a
correr. Comprometer-se com o vir a ser é trair o Eterno; recusar a
mutabilidade, por outro lado, é atraiçoar a realidade.
E é na representação do eterno que Padre Teófanes localiza o papel da
Igreja e a perenidade da sua existência, que vai além da vida humana. “Ela está
acima das instituições humanas, acima de tudo quanto é contingente e
momentâneo. Prende-se à eternidade de Deus. Não são seus membros que a
constituem; Ela é quem constitui seus membros e os vivifica.”(BARROS, 1989, p.35)
Tomando o carnaval como um convite à reflexão, critica o vazio de
propósito divino do homem moderno:
A folia carnavalesca convida o homem a meditar um pouco sobre a
inserção da eternidade no tempo. É difícil compreender que num
século que se caracteriza pelo esplendor da cultura, num século
verdadeiramente grandioso por suas realizações possam tantas
criaturas racionais entregar-se ao tempo, à caducidade das coisas que
passam à volúpia do momento sem sequer penetrar um pouquinho
dentro de si mesmas para sentir o germe da eternidade de que são
portadoras. Entretanto deixam esvair-se o tempo e como o tempo a
própria vida com seu caudal de energias (BARROS, 1989, p. 39).
Em “Uma Mensagem Oportuna” Barros reflete sobre o comportamento do
homem moderno com sua diversidade de atividades, principalmente as de caráter
profissional, que o afasta do sentido de sua própria existência, criticando os
propósitos liberais baseados na concepção laica e utilitária, conforme desenvolve: .
O homem moderno mergulha por demais em seus negócios no
turbilhão da vida e esquece de viver. As coisas o absorvem. Arrasta
sua existência muitas vezes superficialmente. Perde a capacidade de
aprofundar a vida. E com isto torna-se algoz de si mesmo. Fica
perpetrando constantemente um crime de lesa-personalidade.
59
Trabalha para viver e vive para trabalhar. Este terrível círculo vicioso
exaure a vida de muita gente que nunca tem tempo para penetrar no
âmago da própria existência e muito menos para entrar em harmonia
com beleza do Cosmo, alimentando o espírito com a mensagem das
coisas ( BARROS, 1989, p. 43).
Este indivíduo ora tratado deve ser condenado pelo seu caráter laico e
utilitário, defendido pelo pensamento liberal, mas que se contrapõe às necessidades
essenciais. De acordo com o pensamento católico, está na proximidade do divino,
propiciado pelo evangelho para o entendimento da razão da existência humana. O
cerne desta questão se estabelece como um debate constante entre os liberais e
católicos, apesar de os autores críticos dizerem que a oposição é maior com o
comunismo. Valendo ressaltar que para a Igreja a linha do comunismo é tão
desproposital que não favorece embates frequentes.
Segundo Cury (1984, p.36),
Condena-se o absolutismo de classe. Este movimento é considerado a
própria “invasão dos novos bárbaros” já que faz profissão de fé no
ateísmo e persegue tudo o que se relaciona com o espiritual. O
comunismo é o epílogo natural do liberalismo desenfreado. O
comunismo confessa seu materialismo e naturalismo, deles se glorifica
como sendo conquistas do socialismo científico.(grifos no original)
Ao fazer um paralelo com o significado da obra O Pequeno Príncipe, de
Saint Exupéry, disserta sobre o valor das pequenas coisas da vida e a preocupação
com a agitação e superficialidade da modernidade, causando um distanciamento
das coisas do espírito. Para Cury (1984, p.27), “Dentro deste mundo em crise, onde
tudo se desmorona, desde a Economia até a Moral, a Igreja se tem como única força
organizada e estável existente sobre a terra, capaz de reimpor, pela sua disciplina, a
ordem sobre a crise generalizada”. Estado de coisas promovido pela atração da
superficialidade ao homem, que favoreceu uma necessidade de fortalecimento do
papel da Igreja a partir da década de 1920.
O artigo “O Mistério do Homem” expõe a reflexão sobre a existência
humana. Lembra o autor:
O mistério da existência humana é o maior de todos do universo
criado. Ninguém porá isto em dúvida. Por que e para que existimos?
Como se explica termos sido lançados na existência, com a luz de
uma consciência, sem consulta prévia, forçados a aceitar esta
existência tal como se nos apresenta ? (BARROS, 1981, p.45)
60
Apesar de em “O Mundo Hodierno” afirmar que o século XX é uma era de
mudanças de paradigmas, atenta para a concórdia universal como o único caminho
viável, já pregado pela Igreja:
Nenhum século encerra maiores possibilidades do que o atual.
Estamos verdadeiramente no limiar de idade nova. Cairão por terra
velhos preconceitos. Os homens não serão tão loucos que se decidam
por um suicídio atômico. Logo não haverá outra saída senão uma
concórdia universal, sem barreiras ideológicas, um agigantado de
todos pelo bem de todos. O Santo Padre João XXIII já clamou por esta
união, começando pelos que crêem em Cristo. Surgirão novos tempos.
Confiemos em Deus.( BARROS, 1981,p.64)
Em “Reflexões sobre a Inutilidade da Filosofia”, promove um momento de
ponderação quanto ao comportamento do jovem na atualidade e suas crenças.
Os moços de hoje, entretanto, parece terem feito bem diferente. São
muito mais vibráveis. Não os impressiona mais a beleza das frases
feitas, nem a poesia vaporosa de espumas flutuantes. O moço de hoje
se angustia ante os problemas de vida ou problemas de
convivência.[...] querem viver e interpretar a realidade.[...]
Amam acima de tudo a Verdade e eu vejo na efervescência do espírito
da juventude contemporânea uma advertência a nós, mestres. Temos
de estar à altura daquilo que esperam de nós, para sermos capazes
de nutrir-lhes o espírito com o pábulo da Verdade. Tristes de nós,
mestres, se não compreendermos o sentido das palpitações do
coração da juventude de hoje, se formos intransigentes, trancados,
exclusivistas, unilaterais. Então, os moços que em nós confiarem
haverão de decepcionar-se conosco, indo essa decepção aumentar
consideravelmente a angústia que os atormenta.[...]
O futuro de nossa civilização seguirá o rumo que eles lhe imprimirem.
E cabe-nos em tudo isto a maior das responsabilidades: Não
pequemos por omissão ( BARROS, 1981,p.59 – 60).
Diante das características que permeiam a juventude sob o olhar do Padre
Teófanes, consolida-se o valor do ensino humanista para a instrução deste jovem,
pois, de acordo com Maritain (1968, p.108):
Se buscamos caracterizar o objetivo geral da instrução no período
das humanidades ou da educação do colégio(college), poderíamos
dizer que êsse objetivo é menos a aquisição da ciência ou da arte do
que a apreensão de seu significado e a compreensão da verdade ou
da beleza que transmitem.
Em “Maritain e seus Inimigos Gratuitos”, apresenta–se em defesa do
filósofo francês, desenvolvendo um enfrentamento entre suas ideias e uma
61
publicação da folha carioca “ A Marcha”13, encaminhada para ele por um anônimo
assinalando um artigo denominado “O Papa condena a atitude de prelados e
sacerdotes que transigem com o Socialismo” . Segundo Barros (1981) consta que no
contexto brasileiro faz-se uma comparação do maritainismo com a tendência
colaboracionista, com aspectos de satanaz, e Teófanes afirma que é uma inverdade
visto que Maritain recebeu do Papa Pio XII deferências, fazendo uma alusão aos
ataques violentos e infundados sofridos por Tomás de Aquino.
Registrando ainda:
Aqui fica o meu protesto em nome dos amigos de Jacques Maritain em
Alagoas. Não caluniem por favor nosso grande Mestre. Não nos
chamem de colaboracionistas nem de simpatizantes de comunismo.
Somos tão anticomunistas como qualquer outro cristão sincero. Mas
também somos anticapitalistas, antifacistas e contrário a tudo quanto
for infenso ao nome cristão. (BARROS, 1981,p.105)
Em artigo intitulado “Perilo Gomes”, o autor homenageia-o, além de associá-lo
a Jackson Figueiredo, já morto, pela proximidade de ambos.
Ainda nos tempos do Seminário fui abalado com a notícia da morte do
maior vulto do laicato católico nacional: Jackson de Figueiredo.
Somente depois da trágica morte deste batalhador gigante, lendo o
depoimento de seus amigos é que vim a conhecê–lo e a admirá-lo.
Pus-me então em contacto espiritual com aqueles homens renascidos
para a Fé graças à ação de Jackson, os quais levaram avante a
revista “A Ordem” e o Centro D. Vital. O catolicismo brasileiro se
diluía.[...]
Compreendeu sua missão: apostolar inteligências para a Verdade.
Enveredou para o estudo dos grandes problemas sociais. Tinha de
estar na época. Brindou-nos com o livro “O Liberalismo”, que é um
bem acabado estudo das conseqüências advindas para o mundo
coevo do individualismo filosófico e social (BARROS, 1981, p.129).
No artigo dedicado a “Tristão de Ataíde em Recife”, Barros objetivou publicizar
a estada de Alceu Amoroso Lima em Recife durante o quinquagésimo aniversário da
Tribuna, órgão católico da Arquidiocese de Olinda e Recife. Tratando da palestra
ministrada por Tristão de Ataíde, que dissertava sobre a imprensa sob a tutela da
doutrina Católica, visto que foi adiante pela iniciativa de Dom Vital e posteriormente
13
Jornal anticomunista ligado ao Integralismo ( 1953-1957).
62
manteve suas atividades com um grupo de seminaristas. Segundo Barros (1981,
p.131):
O Dr. Alceu lembrou a época em que a “A Tribuna” iniciou
corajosamente sua faina, fase medíocre para a história da Igreja
brasileira, período em que a burguesia vivia satisfeita, tranqüila,
conformada, em que os escritores escreviam trabalhos de fôlego sobre
assuntos triviais como as nuvens, o lenço, etc. Já Dom Vital,
antecipando-se em sua época, dera o seu altivo brado de
inconformismo contra os erros e confusões dos tempos. Entretanto
fora apenas o bispo „imprudente‟. Mas sua clarinada conclamou outros
para a luta.
Apesar da variabilidade de temáticas, é possível identificar assuntos
recorrentes ou complementares entre os artigos, ou indagações do homem e a
proximidade de Deus para a busca da luz e o entendimento da existência humana.
3.2 NA MISSÃO DE EDUCAR
A obra Na Missão de Educar - Discursos de Paraninfo, publicada em 1961
com 283 páginas, é dedicada aos ex-alunos do Colégio Guido, objeto de grande
parte do seu relato no livro, seguido de uma coletânea de discursos proferidos em
momentos festivos no colégio, na Faculdade de Filosofia e nas escolas secundárias
fundadas durante ações da Campanha Nacional de Educandários Gratuitos.
Nessa publicação, a finalidade da produção é declarada pelo Padre
Teófanes: “Nele quero contar-lhe a história do nosso querido Guido. Também
publico os meus discursos de paraninfo.[...] faço chegar escritos os últimos
conselhos que ministrei” (BARROS, 1961?) .
O livro abrange inicialmente o contexto que envolve o Colégio Guido
desde a sua fundação, por iniciativa de Teófanes, juntamente com seu tio
Monsenhor Luiz Barbosa, em 1939, até o final da década de 1950, com
detalhamento de diversas solenidades ocorridas no colégio: formaturas das turmas
concluintes, primeiras eucaristias, desfiles comemorativos, entre outras.
63
A obra é iniciada com um pequeno relato sobre a vida do menino Guido de
Fontgalland (1913-1925), cujo nome foi utilizado para denominar o colégio.
Adjetivado por Padre Teófanes, como um “anjo na terra”, o que não nos permite
entender com clareza o motivo da escolha do nome de uma criança francesa para
nomear o colégio. Podemos considerar a hipótese de significar a representação de
uma criança modelo para os alunos, sendo um bom nome para uma escola de
instrução de meninos, visto ser considerado por ele como “modelo da infância e da
adolescência” (BARROS, 1961).
Efetivou também o registro do termo de fundação do colégio, das
listagens dos nomes de alunos fundadores, que totalizaram em número de noventa,
historia o processo de requerimento de inspeção preliminar do Ministério da
Educação para o Colégio Guido funcionar nas instalações em que permaneceu até
sua desativação, traçando como marco o início das aulas do ginásio em 15 de Março
de 1940, representando a ampliação de vagas para o ensino secundário.
Em se tratando de uma instituição privada, vale ressaltar que nesta
ampliação de vagas configurava-se a possibilidade de atender a camada privilegiada
da população que contava com recursos financeiros disponíveis para fazer face à
educação formal de seus filhos. Norteada pela perspectiva da pedagogia tradicional,
defendida pela Igreja Católica, em que cabia primeiro à família a autonomia pela
formação educacional de seus filhos, seguida nesta mesma ordem da Igreja e do
Estado.
Pois conforme afirma Verçosa ( 2001,p.128), na década que antecede, “ a
Educação era ainda bastante restritiva, com o setor público estadual oferecendo a
população, além das escolas isoladas, apenas 5 grupos escolares, mais o Liceu e a
Escola Normal”.
A obra registra os nomes dos alunos concluintes de cada turma, como
também dos professores que as regiam, faz alusão aos desfiles públicos de que o
colégio participou, fazendo referência a sua banda marcial, que se apresentava,
além de Maceió, em algumas cidades do interior a exemplo de São José da Lage,
Viçosa, Rio Largo entre outras.
Há relatos das solenidades de primeira comunhão que ocorriam a cada
ano, ato que denominava: “a visita do Deus eucarístico ao coração das crianças do
64
Guido”. Era reforço à religiosidade aliada à educação, em busca da verdade que
pelos preceitos católicos só poderia acontecer com a revelação divina.
O livro aborda as atividades culturais e sociais quando disserta sobre os
grêmios e suas organizações, o grupo de teatro Anchieta, tendo como fundador Élio
de Lemos França14, e as festas de formaturas, sempre como eventos de destaque
que reuniam representantes da elite alagoana como o governador Arnon de Melo,
que presidiu a solenidade de despedida da turma de 1951.
Optou-se em apresentar em dois quadros demonstrativos alguns marcos
abordados na obra, com as codificações de Q3( quadro três), Q4 (quadro quatro). O
Q3, o primeiro a ser apresentado, traz o registro de eventos importantes no
surgimento e desenvolvimento do Colégio Guido de Fontgalland, desde o início das
atividades até a publicação da obra em referência.
Q3- Colégio Guido
Eventos
Início do funcionamento na Rua Boa Vista, 248 – Centro –
Maceió
Cronologia
06/02/1939
Dez / 1939
Requerimento ao Ministério da Educação para a inspeção
preliminar do novo ginásio Guido de Fontgallant
Exames de admissão – Novo prédio
Fev. / 1940
Início das aulas do ginásio
15/03/1940
Obtenção da autorização de funcionamento sob regime de
inspeção preliminar do Ginásio Guido de Fontgalland
10/04/1940
18/12/1943
Conclusão da primeira turma ginasial
14
Aluno e posteriormente secretário da Diretoria do Colégio Guido, falecido em 1954, quando acompanhava
uma excursão do colégio para Paulo Afonso-Bahia e caiu na Cachoeira que leva o nome da cidade.
65
Eventos
Cronologia
A autorização para o funcionamento do Curso de Colégio – Dec.
nº 15.276
04/04/1944
Início do curso noturno masculino
1944
Publicação da Revista Mocidade
30/05/1946
Início do curso noturno – primeira turma feminina
1947
É pertinente salientar que o ano de 1944 marcou o início da oferta do
curso noturno masculino, bem como em 1947, o da turma noturna feminina,
caracterizando-se ações pioneiras em Alagoas, visto ser o Ginásio Guido de
Fontgallant o primeiro a ofertar o ensino noturno, conforme Barros (1961?). Ao final
da década de 1940, vale ressaltar que o Guido deixa de ser um colégio
essencialmente masculino, passando a ofertar turmas femininas e posteriormente
mistas.
O autor cita na obra alguns professores que fizeram parte do corpo
docente do colégio, até hoje lembrados, mesmo porque foram homenageados,
atribuindo seus nomes a escolas públicas existentes na atualidade, a exemplo do
Prof. Mário Broad e Prof. Rosalvo Lobo. Comenta também as missas celebradas
pelo Monsenhor Barbosa, seu tio muito citado, pelo fato de estar constantemente ao
seu lado e ter apoiado suas iniciativas.
Padre Teófanes registra a instalação do Centro Acadêmico Jackson de
Figueiredo,
falando sobre a vida do patrono. Sergipano, tinha a presença de
Alagoas em sua formação, em razão de, conforme informa Barros (1961?, p.213),
ter seu curso de humanidades no Liceu Alagoano.
Seu relato laudatório demonstra a sintonia e a admiração por um dos
representantes do pensamento conservador católico da época. Convertido ao
catolicismo, Jacques Maritain despertou para a filosofia, um dos alicerces da
formação de Padre Teófanes, sendo interessante ressaltar a fala deste em relação
ao patrono do centro acadêmico: “vai para o Rio de Janeiro cavar a vida. A grande e
murmurejante metrópole que lhe fala à alma o faz amadurecer dentro dela o germe
divino da filosofia” (1961?, p.214).
66
Dentro da percepção do estudo da filosofia, Padre Teófanes promovia
uma maior aproximação ao divino, com base nos preceitos católicos, da busca da
verdade e da razão da existência humana, caminho percorrido pelo padre educador
por ser um religioso, amante e estudioso da Filosofia.
Padre Teófanes
define Figueiredo como um inconformista, quanto ao
estado de coisas que se apresentavam na sociedade brasileira:
Jackson não se conforma com um estado de coisas em que a
sociedade humana não correspondesse a seu fim, a sua razão de ser:
o bem comum. Ele bem via que esse bem comum, razão de ser da
ordem social, era uma grande utopia, pois o que ele procurava era os
bem de uns poucos, o bem de grupos em detrimentos da miséria
coletiva.
É pena não estar Jackson ainda vivo. Precisamos muito de homens da
têmpera de Jackson, inamoldáveis, retilíneos, a serviço da verdade e
da Justiça, para que se instaure uma nova ordem social neste pobre
país. (BARROS, 1961?, p.221)
Esta
afirmação
atesta
sua
consonância
com
o
movimento
de
fortalecimento da Igreja Católica no país, compactuado por Jackson de Figueiredo
sob a batuta de Dom Leme. Segundo Chrispim (2007, p. 1, grifo nosso),
Quando D. Leme foi nomeado bispo auxiliar do Rio de Janeiro,
transferiu-se para essa cidade, em 1921. Foi naquele momento, que
encontrou Jackson de Figueiredo, que se converteria no seu principal
colaborador na reconquista da inteligência brasileira, até sua morte,
em 1928.
Foi do encontro dessas duas personalidades, que a "reação católica"
irrompeu no cenário nacional. O período que compreende a década de
20 até meados da década de 40 foi marcado por um intenso trabalho
da Igreja, que teve como núcleo irradiador, o Centro D. Vital do Rio de
Janeiro. Com o decorrer do tempo, o movimento se ramificou em
campos cada vez mais diversificados com a criação de
suborganizações de leigos, todas elas ajustadas e estruturadas por D.
Leme, que se constituiu no principal mentor da reação até sua morte,
em 1942.
Ainda retratando a mobilização da Igreja neste período, atesta Nagle
(apud DAROS e PEREIRA, [s/d] , p.2):
Nesse período, os educadores tiveram suas trajetórias regidas pelo
princípio de dissensão entre a iniciativa pública e as instâncias
concorrentes do Estado, dentre as quais se destaca o poder
„decadente‟ e ainda influente da Igreja Católica. A preocupação
67
precípua da Igreja, nessa época, era a cristianização da inteligência
brasileira. A intelectualidade do laicato católico reunia-se em torno de
um grupo específico, do qual se destacavam Jackson Figueiredo e
Alceu de Amoroso Lima, „na mobilização dos espíritos para o combate
das idéias e ações indiferentes ou hostis à Igreja‟.
Além dos eventos alusivos à história do Colégio Guido de Fontgallant, a
obra Na Missão de Educar (1961?) pode ser considerada uma coletânea dos
discursos proferidos pelo Padre Teófanes como paraninfo das turmas concluintes do
colégio, o que se configurava numa oportunidade de apresentar seu olhar sobre o
contexto da educação. Apresenta também o registro de algumas alocuções como
paraninfo das turmas concluintes dos ginásios instaurados pela Campanha Nacional
dos Educandários Gratuitos, que teve início com a implantação do Ginásio Santana,
de Santana do Ipanema.
Segundo informa Barros (1961?, p.260), ”O educandário pioneiro foi o
Ginásio Santana, de Santana do Ipanema. Com as bênçãos de um sacerdote santo,
cujo nome tão cedo será esquecido no sertão alagoano, o Padre Bulhões, [...]” .
Ação também caracterizada pela articulação com outros representantes, a exemplo
do padre citado.
Padre Teófanes foi o primeiro presidente da Campanha Nacional dos
Educandários Gratuitos até 31 de Maio de 1962. Ele registra também a fundação da
CNEG em 15 de Outubro de 1943 e do Conselho Estadual de Alagoas da
campanha, na década de 60.
Em seguida apresentaremos o Q4 ( quadro quatro) trazendo a sequência
nominal dos discursos proferidos pelo Padre Teófanes e publicados na obra em
questão Na Missão de Educar (1961?).
Q4- Alocuções como Paraninfo
Título
Solenidade
Cronologia
A Mocidade e o Mundo Conclusão da primeira turma–Colégio 1943
Hodierno
Guido
68
Título
Solenidade
Cronologia
Sermão Congratulatório:
Conclusão da segunda turma-Colégio 1944
Alegria de Viver
Guido
Palavras de Despedida
Conclusão de duas turmas do ginásio 1946
– Colégio Guido
Dever Esforço União Saber Conclusão
da
turma
do
Curso 1947
Ginasial – Colégio Guido
Sinfonia da Natureza
Conclusão de turma do Colégio Guido
1949
Dignos de um Futuro
Conclusão dos Colegiais do Colégio
1950
Guido - Considerada a turma
Rebelde
Sursum Corda
Discurso pronunciado na sessão
1953
solene da instalação do Conselho
Estadual de Alagoas da Campanha
Nacional de Educandários Gratuitos
Nossos Primeiros Louros
Conclusão de turma do Ginásio São Dez.1953
José, de São José da Lage
Um
Nosso
que
se Conclusão de turma do Colégio Guido 1954
Imortalizou
– turma que tinha como aluno Elio
Lemos
Vossa Missão
Discurso aos Bacharéis da Faculdade
1957
de Filosofia
Na Hora da Despedida
Servi a Verdade
Conclusão de turma do Colégio Guido
Aos
Primeiros
Bacharéis
da
1959
-
Faculdade de Filosofia de Alagoas
Existência Autêntica
Segunda Turma de Bacharéis da
Faculdade de Filosofia
-
69
Os discursos proferidos e apresentados pelo padre educador na obra
trazem temas dos mais variados: a necessidade da formação católica, a escola
como espaço protetor dos perigos do mundo e da crueldade do homem, que precisa
entender o motivo de sua existência. A busca da revelação divina já presente no
íntimo do indivíduo, a pregação de uma democracia cristã e as características da
juventude. Vários aspectos são recorrentes nas alocuções: as lembranças de que os
alunos chegaram ao colégio de calças curtas, bem pequenos, a alusão à sua
responsabilidade, pelo fato de os pais dos alunos confiarem seus filhos ao Padre e
ao grupo de professores do colégio, reafirmando sempre que o casarão em que
funcionava o Colégio Guido era como a segunda casa dos jovens. A exaltação ao
casarão que abrigava o colégio, as saudades que os jovens irão sentir ao sair, e a
reciprocidade deste sentimento por parte dos que fazem o colégio, destacando a
amizade dos mestres para com os alunos, apesar das exigências. Finalizando
sempre com suas bênçãos aos concluintes.
A alocução que foge um pouco às temáticas citadas, “Um Nosso que se
Imortalizou”, foi proferida à turma concluinte do curso ginasial de 1954, pois tratava
do grupo de concluintes de que participara Elio de Lemos França, aluno falecido
aos 16 anos, durante a excursão de uma turma de ginásio que acompanhara à
Cachoeira de Paulo Afonso, onde caiu. Relata a alegria dos jovens ao saírem para
a excursão e a tristeza do retorno, fazendo uma homenagem ao jovem Elio, com a
apresentação de sua biografia.
Os discursos voltados para as turmas da Faculdade de Filosofia
apresentam conteúdo mais denso e voltado para as temáticas próprias da Filosofia,
focadas principalmente na essência da existência humana.
Compondo a obra em referência, além dos discursos apresentados às
turmas de concluintes do Colégio Guido e da Faculdade de Filosofia, constam o
discurso pronunciado na sessão solene da instalação do Conselho Estadual de
Alagoas da Campanha Nacional de Educandários Gratuitos em 1953, quatro anos
após o início do trabalho da Campanha no estado, intitulado Sursum Corda, e uma
série de outros, pronunciados para turmas de concluintes dos Educandários da
Campanha.
Denomina o século XX como irrequieto, já falava dos quadros de vida
sociais alicerçados na iniquidade e na injustiça (BARROS, 1961, p.143),
70
caracterizando o mundo moderno como perverso, onde o utilitarismo promove uma
educação afastada das orientações divinas, sobrepondo-se ao cristianismo,
propiciando o afastamento do homem de Deus, o que o distancia da explicação e da
missão da sua existência, contrariando a intencionalidade da Igreja que buscava a
harmonia. Isso causava a existência de um paralelo, de um lado o materialismo
exacerbado e do outro o cristianismo. Segundo Andreotti ( 2005,p.1517),
O mundo moderno, principalmente as teorias materialistas e os
movimentos anticlericais, colocou dois problemas: a finitude humana,
negando a transcendência, e as mudanças no conceito de tempo. O
homem apropriou-se do tempo como mercadoria e objeto de pesquisa
científica, que, na especulação acerca da procedência do universo,
nega a sua origem divina.
A obra como um todo nos permite perceber a visão e proposições do Pe.
Teófanes Augusto de Barros sobre a educação, com boa parte do seu pensamento
consolidado em Jacques Maritain, voltado principalmente para a formação da
juventude no âmbito educacional, aspecto que será objeto de análise posterior.
3.3 ALOCUÇÕES
Padre Teófanes informa nesta breve passagem o conteúdo desta
publicação, em fragmento de sua dedicatória: “Trata-se de falas minhas em diversas
circunstâncias, cujo conteúdo talvez seja proveitoso a pessoa que ama a verdade e
a luz”. No entanto, apresenta-se com o domínio da verdade e da luz, que por
hipótese pode representar o fato de ser um representante da Igreja Católica, e
defender a busca por Cristo como o caminho da verdade. As temáticas
apresentadas nos vários discursos coletados e publicados na obra contribuíram com
o desenvolvimento de nosso estudo por trazerem elementos focados no âmbito da
educação.
71
O prefácio da obra, intitulado “De Deus e do Mundo”, redigido por João
15
Azevedo , então Secretário de Ensino de 2º grau do Ministério da Educação e
egresso do Colégio Guido de Fontgalland, faz a seguinte referência:
Sua obra é esse permanente serviço. Para ele, o homem não é maior
que Deus, como afirmava o poeta Olavo Bilac, mas todas suas forças
físicas e intelectuais são dedicadas a levar o mundo (o homem) até
Deus. Quer seja extasiado com a natureza, nos seus versos, quer seja
defendendo os direitos humanos e a busca da real democracia,
apregoada pelos ensinamentos papais, de sua Igreja (AZEVEDO apud
BARROS, 1989, p.3).
A publicação apresenta-se com características semelhantes a sua primeira
obra em 1961 – Na Missão de Educar, uma coletânea de discursos em diversos
momentos solenes
vivenciados pelo Padre educador. Segue quadro cinco (Q5)
contendo a listagem dos discursos proferidos:
Ordem do Sumário
Discursos
1.
Em sua posse no Instituto Histórico de Alagoas
2.
Na Academia Alagoana de Letras
3.
Comenda
Desembargador
Mário
Guimarães
–
Conferido pela Prefeitura Municipal de Maceió
4.
.Universidade Federal de Alagoas – UFAL
5.
Discurso na UFAL
6.
Seminários ocorridos na Faculdade de Filosofia
7.
No CESMAC – Turma concluinte do curso de
Educação Artística
8.
15
Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Maceió
Foi reitor da Universidade Federal de Alagoas no início da década de 1980.
72
Ordem do Sumário
Discursos
9.
Os Direitos do Homem
10.
Discurso de patrono da turma de equivalência da
faculdade de Direito de Maceió
11.
Discurso de paraninfo da primeira turma de psicólogos
do Instituto de Psicologia de Maceió, do CESMAC
12.
Discurso
de
patrono
feito
aos
concluintes
da
Faculdade de Administração e Ciências do Cesmac
13.
A Filosofia e a Demanda do Homem a sua plenitude –
Conferência proferida por ocasião do encerramento do
Simpósio de Antropologia Filosófica – O Homem como
é e como deve ser
14.
Em Riacho Doce
15.
Faculdades do Interior
16.
Discurso pronunciado em semana de estudos sociais
promovida pela juventude de Arapiraca
17.
No exterior – Discurso na Sociedade Internacional de
Meditação
O conteúdo da obra é revelador do poder de infiltração de Padre Teófanes
nas instituições mais prestigiadas de Alagoas, desde universidades, faculdades e
colégios, até associações científicas, como o Instituto Histórico de Alagoas e a
Academia Alagoana de Letras. E transparece uma tendência por cargos que
expressavam prestígio na sociedade alagoana, ainda que atribuísse a esta atitude a
vontade divina.
Como os conteúdos apresentados nos discursos acima nominados,
grande parte será utilizado na análise do pensamento e proposições do padre
73
educador no âmbito da educação, a partir dos eixos temáticos eleitos por nós.
Salientaremos alguns aspectos trabalhados na obra para não estabelecermos
duplicidade na condução do texto.
Destacaremos seu discurso de posse como sócio no Instituto Histórico de
Alagoas, cadeira que ocupou em 1 de dezembro de 1969, a vaga surgida após o
falecimento do seu tio Monsenhor Luiz Barbosa, apresentando seu discurso
intitulado: “ A Atualidade do Eterno”.
Em “A Atualidade de Eterno”, Teófanes explicita a satisfação em ocupar a
cadeira, visto ter a educação como sua missão divina junto à Igreja. Converte o lugar
ocupado como um “chamado divino” e as substituições que têm caráter laico, num
espaço de exercício deste chamado. Ele afirma (1989, p.9, grifo nosso):
Considero-me felicíssimo, senhores, em ter atendido ao chamamento
divino que me fez ministro de Cristo. E para cumprir a missão que
recebi de Deus, venho consagrando toda minha existência à
educação, o que considero um novo carisma de meu presbitado.
Ocupou a cadeira de seu tio Monsenhor Luiz Barbosa, o qual reverenciou
em sua alocução, fazendo uma breve retrospectiva biográfica. O Monsenhor fez-se
sacerdote no ano de nascimento de Teófanes –1912. Junto com os padres Antonio
Valente e Franklin de Lima, fundou o “Semeador”, um dos primeiros diários católicos
do Brasil, responsável pela coluna “Conmentando”.
Detém–se em abordar a Missão dos Institutos Históricos e da
dinamicidade do tempo e da “nova ciência” denominada futurologia, a reflexão sobre
o futuro, nos anos 2000. Segundo Barros (1989, p.10) “A missão dos institutos
históricos consiste em fazer valer no presente e em todos os tempos a perpétua
atualidade do eterno”.
Novamente o autor recorre a Jacques de Maritain para refletir sobre o
novo, e afirma que “dentro de condições existenciais há o antigo e o novo, mas
transpondo-se os limites da existência, o que conta é o eterno, que é perpetuamente
atual” (BARROS, 1989, p.12).
O mesmo texto traz à tona uma reflexão sobre tempo e eternidade: “O que
conta é o eterno, o que transcende ao tempo. Os institutos históricos são
mensageiros da eternidade no decorrer dos tempos” (BARROS, 1989). Nele é feita
74
uma ponderação sobre como instituições deste tipo convivem com a agilidade do
passar dos tempos.
Na Universidade Federal de Alagoas – UFAL, proferiu discurso em outubro
de 1967, como Diretor da Faculdade de Educação, por ocasião da visita à Maceió,
do então Ministro da Educação e Cultura Tarso de Morais Dutra. “O Mestre em
Nossos Tempos” foi o discurso de Paraninfo na Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras.
No CESMAC – Turma concluinte do curso de Educação Artística –
“Educar para a Arte “ – 1977.2., Padre Teófanes faz alusão à responsabilidade de
educar o adolescente:
A alma adolescente é generosa e aberta. É vibrátil e por natureza
sonhadora. Sereis responsáveis pela formação de corações que
havereis de plenificar enchendo-os de bom gosto e amor ao que é
belo. Cumpri vossa missão com ardor e generosidade e fareis
maravilhas. Vossa presença em classe polarizará vossos alunos e
irradiará alegria e ideal. Estais à altura da missão que vos espera.
Fascinados pela Beleza, empolgados pelo ideal havereis de ser por
toda a vossa vida de menestréis de Deus.( BARROS, 1989, p. 90)
Pactuando, de certa forma, com a visão de adolescência estabelecida por
Maritain (1968, p.106);
[...]a razão natural que vai surgindo com o seu frescor e audácia, com
suas primeiras ambições cintilantes, é o céu mental do adolescente. É
com o raciocínio que o adolescente se exalta, se enleva. Há aqui um
impulso natural que deve ser considerado em benefício da educação,
ao mesmo tempo que estimulando e disciplinando a razão.
Três aspectos devem ser destacados: 1. responsabilidade na educação
do adolescente, pelo fato de ser uma fase de transição e preparação do adulto ; 2.
necessidade do entendimento do universo da adolescência para aproveitar melhor
suas características na missão de educar; 3. comparativo do docente a um
menestrel de Deus, partindo do princípio de que a educação atinge seus resultados
aliada a fé, e o professor passa a ser seu mensageiro.
Em Discurso de Paraninfo na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de
Maceió, dirigiu-se aos primeiros licenciados da Faculdade de Filosofia, nos cursos
de Letras, Educação Moral e Cívica, Pedagogia e Educação Artística.
75
Configura-se inicialmente um desabafo, em que alega que muitos não
acreditam na consolidação do CESMAC, no entanto não fica claro na sua exposição
quais as forças contrárias, pois diante da sua fala atestamos uma característica de
articulação junto às forças políticas da época que contribuíram na consolidação de
duas ideias empreendedoras, visto que, ações como esta eram fortalecidas pelo
cenário nacional. Conforme Carvalho (apud DAROS e PEREIRA, ( [s/d], p. 2), “[...] a
intelectualidade católica [...] formulou parâmetros educacionais baseados nos
princípios de uma educação não pública e religiosa.
Uma hipótese que se apresenta como justificativa de sua alegação, foi
publicado no Informativo CESMAC (1984, p.2, grifo nosso), no artigo intitulado
“Obstáculos que Surgiram”, abordando a história da instituição:
O processo esbarrou na Câmara de Ensino Superior do CFE16·. Houve
entendimentos junto ao Ministro Jarbas Passarinho pelo Governador
Afrânio Lages, pelo Secretário da Educação Jayme Lustosa de Altavila
e por outros interessados amigos da causa. Nenhuma decisão surgiu.
Finalmente em boa hora o Senador Arnon de Mello patrocinou a causa
e da Tribuna do Senado Federal reclamou uma solução imediata a
bem da justiça de Alagoas. Clamores do grande parlamentar alagoano
foram ouvidos, de modo que o processo continuou sua tramitação,
sendo o objeto do parecer nº 2327 / 74, em que o colendo Conselho
afirmou que a autorização para o funcionamento das escolas não
havia atendido as exigências da Lei Federal nº 5540 / 68, que
determinava fossem escolas criadas por Estados ou Municípios
organizados com fundações.
Outro aspecto que também merece ser destacado é a abordagem da
técnica que configura importante como meio para se atingir a realização do homem.
Segundo Barros (1989, p.97),
Tudo o que se pode auferir das maravilhas das técnicas e dos
encantos da vida pode ser bom e útil ao homem desde que sejam
meios para sua própria realização cada vez mais enriquecedora de
seu próprio ser [...]. A alma do homem moderno foi devotada pela
máquina.
Um homem em busca da explicação da existência, e que se angustia
sobre esta temática. Críticas ao Existencialismo17, angústia pela tese da ausência de
apoio ou completude divina. Segundo Barros (1989, p.96, grifo nosso):
16
17
Conselho Federal de Educação.
Corrente de pensamento que tinha Sartre como um dos principais representantes.
76
Tornou-se um angustiado, um sofredor. Leia-se a obra dos filósofos
que melhor representam o pensamento atual, os existencialistas da
linha de Sartre e de Camus e sinta-se como o pensamento deles é
perpassado pela angústia, pela náusea em face do absurdo de viver.
[...] É que existe uma razão de ser para a vida humana. É a demanda
à plenitude.[...] O homem foi feito diferente, incompleto com a missão
de completar-se.[...] É a confusão entre o ter e o ser. Não é a plenitude
do ter que deve ser a meta última do ser humano. É a plenitude do
ser.
O homem visto como um ser que precisa se completar é tema recorrente
em sua produção; a incompletude do ser, que somente é possível de completar-se
diante da proximidade com Deus para se buscar o caminho da verdade que permite
um esclarecimento sobre a razão da existência humana.
Em “Os Direitos do Homem”, discurso proferido na colação de grau da
primeira turma de bacharéis da Faculdade de Direito de Maceió18, disserta sobre a
alimentação do intelecto pelo conhecimento. “Nós próprios nos sentimos outros cada
vez que assimilamos novos conhecimentos. E esta demanda não acaba nunca,
porque a realidade não se esgota, a ciência não termina.” (BARROS, 1989, p.. 107).
Ao tempo mesmo tempo, trata dos direitos humanos fazendo uma relação indivíduo
e estado, analisando–a na concepção do mundo capitalista e do mundo totalitário.
Aborda Barros (1989, p.105) que no mundo capitalista o indivíduo tem importância
para a sociedade, enquanto que no mundo totalitário a coletividade sobrepõe-se ao
indivíduo.
Em Alocuções, as temáticas tratadas nos discursos apresentados são
situacionais, direcionados conforme o público ouvinte, no entanto, Padre Teófanes
não perde de vista o foco de suas proposições no âmbito educacional: a defesa da
privatização da educação, a educação pela fé, a docência como missão sacerdotal,
a formação da juventude na construção de uma sociedade melhor, entre outros, que
serão analisados a seguir, como aspectos centrais e alguns de forma transversal.
18
Uma das faculdades que integravam o Centro de Estudos Superiores de Maceió – CESMAC.
77
3.4 O PENSAMENTO E AS PROPOSIÇÕES DO PADRE TEÓFANES NA
EDUCAÇÃO EM ALAGOAS – UMA ANÁLISE DOS ELEMENTOS DESTACADOS
Para que possamos sistematizar uma
análise pormenorizada sobre o
pensamento e proposições do Padre Teófanes
na educação, estabelecemos e
priorizamos eixos temáticos identificados no estudo de sua produção. São eles:
1.educação secundária, 2.a educação do adolescente, 3.a educação pela fé católica
e, 4.a questão da “neutralidade” da Igreja na condução da educação privatista.
Dessa forma será possível determos nosso olhar em cada um destes temas
clarificando a percepção do padre educador.
3.4.1 Educação Secundária
A problemática que envolveu o ensino secundário nas primeiras décadas
do século XX deu-se para garantir a continuidade dos estudos pela população, cujo
número crescia nos grandes centros urbanos, gerando a necessidade de sua
expansão. No contexto da educação em Alagoas, este aspecto é referendada por
Verçosa (2001, p. 128), quando afirma que na década de 1930 a educação era
restritiva, pois tanto o setor público quanto as escolas privadas atendiam uma
pequena quantidade de crianças e jovens, diante do número de crianças e jovens
em idade escolar na época. Este nível de ensino configura-se o elo entre o ensino
fundamental, como hoje é denominado, e o ensino superior. O ensino secundário
compreendia o curso de ginásio, atual 2º ciclo do ensino fundamental e o curso de
colégio, hoje denominado ensino médio.
De acordo com que aborda Clarisse Nunes ( 2000,p.46),
As principais características da expansão do ensino secundário foram,
segundo Geraldo Bastos Silva, um acentuado crescimento horizontal,
observado pelo simples aumento do número de estabelecimentos, e
um significativo crescimento vertical, isto é, a considerável ampliação
de matrícula por estabelecimentos, acarretando em algumas situações
a superlotação e a criação de novos turnos. Em suma, a expansão
desse ensino se fez pelo estabelecimento de ginásios nas localidades
onde, anteriormente, o ensino secundário era inexistente; pelo
78
aumento de matrícula nas mesmas unidades escolares e pela criação
de novos ginásios em locais onde já havia estabelecimentos de ensino
secundário.
Ainda sobre a expansão do ensino secundário no Brasil, afirma Silva
(apud NUNES, 2000, p.45):
Para Geraldo Bastos Silva, outros fatores ligados aos anteriores
estariam também acarretando a expansão do curso secundário no
país: o crescimento demográfico, as exigências de maior
escolarização motivadas pelo desenvolvimento brasileiro da
industrialização, particularmente sobre a área urbana, e problemas de
crescimento e articulação do ensino primário, que acabariam por
reverberar no ensino médio.
Padre Teófanes demonstrava em sua fala a preocupação de disseminação
desse nível de ensino, retratando o fato de a juventude ser o ponto central da Igreja
na época, pelo menos por dois motivos: 1. representar uma fase conturbada e
precisada de orientação para preparação do adulto do futuro; 2. a oferta do ensino
secundário, preferência dada pela Igreja desde épocas remotas.
Constatou-se em sua produção o reflexo dessa preocupação, centrada na
educação secundária, consolidada pela implantação e funcionamento do Colégio
Guido de Fontgalland, bem como da sua participação como presidente da
Campanha Nacional dos Educandários Gratuitos em Alagoas, compactuando com
um foco nacional em disseminar este nível de ensino e com o olhar voltado para a
juventude, ao tempo que partilha das ideias de Maritain (1968) quanto à
adolescência, sobre as quais já nos referimos.
Em Alagoas, a ampliação da rede secundária de ensino, deu–se
principalmente no interior do Estado, no antigo nível ginasial, através da CNEG19,
enquanto que em Maceió havia a concentração no nível colegial, prevalecendo a
oferta na iniciativa privada. Padre Teófanes conduziu a campanha no Estado, como
presidente, desde o período de fundação, em 1943, até 1962.
Ele cita a dificuldade, no Estado, da adesão de outras pessoas à CNEG,
por motivos diversos, desde o entendimento da dificuldade de manutenção dos
ginásios nos municípios, até a falta de predisposição no trabalho voluntário. Trata da
impossibilidade dos que trabalham durante o dia de ter acesso aos estudos, pelo
19
Campanha Nacional dos Educandários Gratuitos, denominada posteriormente de Campanha
Nacional de Escolas da Comunidade (CNEC).
79
horário de oferta como pelas dificuldades financeiras, e as oportunidades de solução
desta impossibilidade geradas pela campanha.
Embora este não se configurasse como o único impedimento ao acesso,
faz-se necessário citar também o exame de admissão que de acordo com Graça
(apud NUNES, 2000, p.45) “[...] foi por algumas décadas a linha divisória decisiva
entre a escola primária e a escola secundária. Funcionou como um rito de passagem
cercado de significados e simbolismos, carregado de conflitos para os adolescentes
ainda incapazes de lidar com fracassos”.
Externalizava o educador o fato de que a juventude significava o futuro e
que este futuro teria que ser traçado a partir da educação formal de nível secundário
que desse conta do conhecimento geral para a formação do indivíduo e que o
aproximasse da realidade do mundo
fora da escola. O ensino secundário era
tratado por Padre Teófanes como o nível de ensino responsável pela consolidação
do caráter deste jovem.
Associava fortemente a educação formal deste nível à formação dos
jovens, adolescentes, caracterizando-o como “a educação para a formação do
adolescente”, responsável pela construção do indivíduo adulto e formador do seu
destino.
Segundo Barros (1989,p.51):
O ensino médio não é um mero ensino de transição para o curso
superior. Ele tem uma finalidade própria. A educação de nível médio é
dada em via de regra à adolescência, à faixa etária em que se decide
a sua vida humana, a idade que marca o ser humano e deita as raízes
do seu destino.
Ampliando a responsabilidade das escolas na condução do futuro dos
jovens, que se estabelece a partir da conclusão dos anos escolares, e da escolha de
sua profissão, no entanto ele não expõe o princípio norteador da preocupação que
rege principalmente as escolas dirigidas por religiosos católicos, apesar de se
apresentar premente a intencionalidade de condução de espaços escolares, como
sinônimo de controle da sociedade pelas diretrizes católicas. Aspecto externalizado
no movimento de recristianização do Brasil, já citado, liderado por Dom Leme.
80
Padre Teófanes aborda a sistematização dos conteúdos do Ensino
Secundário, e sua defesa consistia em que os conteúdos deveriam caracterizar um
direcionamento que propiciasse maior integração com a realidade social. Na sua
concepção, pela condução e especificidade dos conteúdos, o jovem apresentaria
condições de estabelecer uma relação com as questões sociais que permeiam a
sociedade onde está inserido, propiciando uma preparação mais adequada para a
vida pós-escola, conforme explicita:
Tivemos até o presente um tipo de ensino médio que pretendia formar
o homem ministrando-lhe conhecimentos gerais, necessários e
imprescindíveis para o enriquecimento de sua personalidade, mas
que, no final, o largava na fase decisiva da vida completamente
desajustado, sem qualquer articulação com a realidade social. E o
ensino médio assim estruturado tinha de tornar-se simples estrada real
para a escola superior, a não ser em seus ramos especificamente
técnicos, como o comercial, o industrial, o agrícola e outros quejandos
(BARROS, 1989,p.151).
Tal aspecto é constatado na afirmação de Nunes (2000, p.44):
O ensino secundário continuaria, portanto, até a promulgação da Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1961, um curso de
cultura geral e de cultura humanística, com o mesmo sistema de
provas e exames previsto na legislação anterior, mantendo a
seletividade que seria colocada em xeque pela demanda social,
sobretudo nas décadas de 50 e 60 do século XX.
Um dos discursos publicados em Na Missão de Educar (1981), “Servi a
Verdade”20, trata a missão dos egressos como amantes da verdade e apóstolos da
cultura, na missão futura de docentes do curso secundário, com a responsabilidade
de ser contra o pragmatismo que reflete o pensamento liberal
e na defesa da
autonomia do ensino secundário, não estando sob a mão do estado. Afirma o autor:
Deveis lutar com toda vossa alma, vós, egressos da Faculdade de
Filosofia, contra uma orientação pragmatista que se pretende dar a
nosso ensino secundário, desvirtuando-o de sua verdadeira finalidade,
o que constitui verdadeiro sacrilégio contra os mais sagrados
princípios de uma reta filosofia de educação. Tendes a defender como
patrimônio sagrado a autonomia do ensino secundário, que não é nem
20
Pronunciado aos primeiros bacharéis da Faculdade de Filosofia de Alagoas.
81
pode ser jamais um ensino de passagem mas tem de revestir – se de
todas as características de verdadeira educação secundária. Formar o
ser humano na quadra da adolescência, para que mais se lhe avive no
espírito sua consciência humanística e sua consciência patriótica,... (
BARROS, 1981,p.195)
Barros defende uma educação secundária de dimensão mais larga, que
permita o caminhar do indivíduo como elemento de integração social, ao tempo que
solicita
serem os novos bacharéis em filosofia apóstolos na difusão do ensino
secundário no país, principalmente no interior do estado pela carência na oferta
minimizada pela ação da Campanha Nacional dos Educandários Gratuítos, atual
Campanha Nacional de Escolas da Comunidade. Segundo Queiroz (1962, [s/p]);
Uma das entidades mais sérias deste País é atualmente a Campanha
Nacional de Educandários Gratuitos, reconhecida de utilidade pública
por decreto do Governo, com sede na Capital da República e ação em
todo território nacional. Segundo se diz nos seus estatutos, a
Campanha (que usa a sigla CNEG), "inspirada nos princípios cristãos
da solidariedade humana e tendo em vista que a educação nacional
exige a convergência de ação das forças vivas do País", visa, como
principal finalidade, a fundar e manter educandários gratuitos no
território nacional, e, de modo geral, contribuir para o progresso da
causa do ensino no País. Não admite discriminações religiosas, raciais
ou econômicas, aceita o apoio do poder público, mas principalmente
apela para a iniciativa particular como elemento primordial das suas
realizações.
A necessidade da fé em Deus e o aperfeiçoamento do espírito, conforme o
padre educador, devem estar presentes na missão de instruir a juventude. Segundo
Barros (1961?, p.197), “Traçai às gerações que vos forem entregues rumos seguros,
norteados pela fé cristã [...]”.
No entanto, não podemos dissociar as proposições pertinentes à
educação secundária da educação da juventude, pela própria faixa etária que este
nível de ensino atende, sendo necessário o entendimento do conceito de
adolescência para Padre Teófanes, sob a luz das reflexões de Jacques de Maritain,
abordado a seguir.
82
3.4.2 A Educação do Adolescente
A literatura sobre adolescência está centrada no campo da psicologia e
geralmente conceituando-a como uma fase conflituosa, daí a importância desse
discurso da Igreja para dar diretriz a esta fase. Diretamente ligado ao contexto do
ensino secundário, não pode ser vislumbrado sem a abordagem do universo
adolescente, que se estabelece com um dos focos e das preocupações do padre
educador.
Padre Teófanes baseava-se na crença de que se os jovens com as
características de rebeldia própria da idade fossem bem orientados e assistidos pela
escola, poderiam ser adultos íntegros. Preocupação também concebida pela Igreja
Católica, como citado anteriormente, e partilhada pelo filósofo francês Jacques de
Maritain, quando trata do adolescente, em sua publicação “Rumos da Educação”
(1968). Segundo afirma, “O senso comum e a faculdade de penetração espontânea
da visão natural da inteligência e do raciocínio natural, não ainda tecnicamente
formado, constituem a unidade dinâmica do universo de pensamento do adolescente
[...]” (MARITAIN, 1968, p.107).
Nessa visão, a inteligência e o raciocínio natural, são tratados como
virtudes por graça de Deus, que necessitam ser desenvolvidas e consolidadas pela
escola sob as diretrizes da Igreja.
A valorização da juventude apresenta-se como um dos pontos centrais
nas proposições do Padre Teófanes, em vista de seu grande envolvimento com o
ensino secundário pelas vias já mencionadas, e de este nível de ensino apresentarse, como grande veia da iniciativa privada que atendia geralmente esta faixa etária.
O padre educador faz alusões, inúmeras vezes em sua produção,
a
muitos jovens alunos do Colégio Guido que, segundo ele, destacaram-se por suas
ações e se perpetuaram, a exemplo de Élio Lemos a quem dedicou parte de um
discurso21 denominado “Um Nosso que se Imortalizou”, no qual afirma: “[...] exemplo
grandioso e magnífico de um jovem que viveu apenas para dedicar todas as
21
Discurso de paraninfo à turma concluinte do curso ginasial de 1954, que acompanhou Élio Lemos
na excursão à Cachoeira de Paulo Afonso onde sofreu um acidente e faleceu.
83
energias do seu espírito as grandes causas que redimem a juventude” ( BARROS,
1961?, p.154)
O autor declara uma preocupação na formação deste jovem que perpassa
o ambiente escolar, constatado pelo que expõe em
discurso proferido para os
jovens, intitulado “Em Riacho Doce”, no qual lê-se:
Sois jovens. Vossa vocação são as alturas. Tendes dentro de vossa
alma um potencial de energia que vós próprios ignorais. Não vos
contenteis em ser medíocres; elevai-vos acima de vós próprios.
Procurai ser alguém e não apenas alguma coisa na vida (
BARROS,1989,p.146).
.
O texto demonstra um sentido de aconselhamento na perspectiva da
preparação da juventude para o enfrentamento dos desafios do mundo fora da
escola, considerando um mundo em crise e em perigo por conta do comunismo e da
tese liberal do utilitarismo. A solução apontada pelos católicos, segundo Lima (apud
CURY, 1984, p.40) “é, no seu sentido mais amplo, a restauração de tudo em Cristo,
já que a origem de todos os males foi o esquecimento de Deus”.
O padre educador alagoano caracteriza a alma adolescente como sendo
“generosa e aberta. É vibrátil e por natureza sonhadora. Sereis responsáveis pela
formação de corações que havereis de plenificar enchendo-os de bom gosto e amor
ao que é belo” (BARROS, 1989, p.90).
Padre Teófanes Barros (1961?,p.140) afirma ter desenvolvido
uma
experiência pedagógica inédita no país, caracterizada pela aproximação de
educadores e educandos, salientando a crença da eficácia do amor. Mas, ao mesmo
tempo afirma, nos parecendo antagônico, que “A sequência dos dias que aqui foram
vividos. As aulas, os professores, uns severos, intransigentes [...] outros cheios de
bondade e clemência”, representando um paradoxo que não pudemos investigar,
pelo fato de não encontramos elementos que permitissem o aprofundamento da
análise nesse sentido.
Percebe-se a ênfase nos encantos da juventude, protegida pelo ambiente
do colégio, diante da consideração de que o mundo moderno era lugar inadequado
para a juventude, que ficaria à mercê da perversidade e da violência do mundo fora
do ambiente da escola:
84
Enquanto dentro de vós em pleno dealbar de uma fagueira
juventude, quando são azuis os sonhos e esmeraldinos os ideais,
sentis a volúpia sagrada do viver, enquanto vosso coração é uma
fornalha ardente que crepita, meus bons moços, duro, tremendo é o
contraste com o mundo ambiente em que viveis (BARROS, 1961?,
p.42).
A
intencionalidade
implícita
nas
alocuções
citadas
sugere
uma
autodenominação de condutor de jovens como missão divina, considerando como
um dos elementos a exaltação à juventude.
No “Sermão Congratulatório: alegria de viver”22, faz referência à trajetória,
à vitória dos jovens em transpor uma fase nas suas vidas escolares, comparando a
infância à adolescência. Conforme Maritain (1968, p.106) “o universo do adolescente
representa um estado de transição para o universo do homem”.
No discurso proferido aos concluintes de 1950, denominado “Dignos de
um Futuro”, faz uma retrospectiva da turma, reconhecida por Padre Teófanes
como a turma rebelde, desde o exame de admissão. Explicita, como em outras
oportunidades, o papel de conselheiro, quando diz: Ӄ a palavra que de mim quereis
ouvir. Quero dar-vos a directriz segura que vos levará aos píncaros da glória.
Valorizai vossa personalidade meus caros.” (BARROS, 1961, p.132). Dentro da
mesma linha de condução, considera o colégio como “a casa que formastes vosso
espírito para a vida (BARROS, 1961, p.134).
Padre Teófanes denomina a adolescência de “angustiosa jornada”
(BARROS, 1961?), aborda a razão de ser da vida construída pela fé, proferida por
pais e mestres, e que esses ensinamentos alicercem a possibilidade de se trilhar um
caminho melhor sem cair nas tentações da idade e do mundo. O que só é possível
na proximidade da busca por Deus, incentivada e consolidada no preceito da
educação pela fé.
22
Pronunciado na Igreja do Rosário de Maceió, saudando a segunda turma de concluintes do ginásio
do Colégio Guido em 1944.
85
3.4.3 A Promoção da Educação pela Fé Católica.
Considerando os aspectos referidos na produção do Padre Teófanes, 1.a
consolidação do pensamento à sombra da pregação de Jacques de Maritain; 2. o
fato de ser sacerdote e pregar uma das diretrizes católicas, na crença de que o
caminho do bem só pode ser trilhado na busca da proximidade de Deus refletido no
Catolicismo, permitindo desenvolver a inteligência humana, sendo uma forma de
perceber a revelação divina. O ser humano nasce com a inteligência e a
predisposição ao conhecimento, e a fé católica contribui para que seja revelada .e;
3. a oportunidade que a Igreja Católica propicia, pela oferta de espaços favorecendo
o aprendizado.
A educação pela fé está declarada, tanto na condução da educação para
a juventude nos colégios dirigidos por religiosos brasileiros ou mesmo ordens
religiosas com sedes em outros países, quanto pelo entendimento que o padre
educador alagoano tinha da docência como sacerdócio, muitas vezes, destacada em
sua produção.
Maritain (1968) estabelece a relação da educação com o progresso
espiritual, na revelação da inteligência na busca da proximidade do divino, partindo
do universo individual para o coletivo, tendo o professor como intermediador desta
construção, a educação da comunidade, aliado à possibilidade de o homem refletir
sobre a existência humana, o que somente será possível com a proximidade do
evangelho, fortalecida com a prática da liturgia da Igreja. Nas obras em estudo
Padre Teófanes registra os eventos religiosos, tomados para atender a essa
necessidade, inclusive a existência de uma capela nas dependências do Colégio
Guido, com missas regulares.
Segundo Barros (1989, p. 141):
É pela educação que o homem se plenifica e é o mestre quem
trabalha e o faz integrar-se nesta plenitude. O mestre é quem dá os
últimos retoques no painel que Deus esboçou em cada coração
humano. O Filho de Deus feito homem, Jesus Cristo, recusou ser feito
rei; entretanto aceitou de bom grado ser chamado de mestre .
86
Maritain (1968) alia o programa escolar, a inteligência cristã e o
fortalecimento da vida espiritual. Dos aspectos citados por ele, e abordados na
primeira parte do segundo capítulo, somente não conseguimos identificar, na
produção do padre educador, as questões relativas ao programa escolar; mas
quanto aos demais elementos,
o desenvolvimento da inteligência cristã e o modo
pelo qual o conhecimento religioso e a vida espiritual podem ser fortalecidos
permeiam profundamente suas publicações.
A promoção da educação pela fé católica é a condução da educação
apoiada pelo pensamento de Jacques de Maritain no exterior, e pela Igreja Católica
no Brasil, e seus representantes, a exemplo do Padre Teófanes, no recorte temporal
deste estudo no século XX.
movimento da
Acentuada a partir da década de 1920 com o
Ação Católica na recristianização do país, o âmbito educacional
representava um papel importante de consolidação do movimento, aliada à
possibilidade de formação de intelectuais católicos para garantir a permanência do
fortalecimento da Igreja junto a sociedade.
A crença baseia–se no fato de que a fé em Deus conduz o indivíduo para
o caminho da verdade. A essência do homem, o qual necessita de disciplina, em
que o papel da família, junto com a Igreja, tradicionalmente é passada por gerações,
de pai para filho, pondo–se contrário à repressão das energias e virtudes naturais,
intelectuais e morais, mas aperfeiçoá-las pelo amor de Deus, considerando que esta
liberdade é dádiva divina, que só poderá ser atingida se a essência do homem for
entendida e orientada a seguir o caminho do bem. De acordo com Barros
(1989,p.58), os mestres (professores) tem papel importante na complementação do
homem iniciado por Deus:
A sublimidade da profissão de mestre não está apenas na missão que
eleva acima dos demais homens. Vai mais além. O mestre completa a
obra divina. É também de certo modo criador como Deus. Sim, meus
caros. Não vos admireis de tal. Deus criou completos todos os seres
do Universo, exceto o homem. O único criado incompleto com a
missão de completar-se.
Em todo o contexto dos discursos publicados em Na Missão de Educar
(1961), a influência do pensamento de Jacques Maritain é declarada no que
concerne à instrução e formação do homem dentro de uma visão abrangente, a
instrução pela fé e a democracia cristã. Segundo Maritain (1968, p.32), “Ao
87
afirmarmos que a educação, para ser sólida e completa, deve basear-se na
concepção cristã do homem, é porque julgamos ser esta a verdadeira, e não pelo
fato de estar nossa civilização impregnada dela”. Segundo Cury (1984, p.56),
“Percebe-se que, quanto à realidade pedagógica, o educando é apenas um ideal
relativo e deve ser orientado de acordo com a sua finalidade absoluta e última que é
a elevação espiritual da personalidade para uma união com Deus”.
Em vários momentos na sua produção, o padre educador alagoano
disserta sob a luz desse entendimento, por meio dos fragmentos de seus discursos,
que destacaremos em seguida.
Em “Mocidade e o Mundo Hodierno”23, Padre Teófanes trata dos laços
eternos independente da vida na terra, retoma a formação católica, abominando o
egocentrismo, como causa maior da Segunda Grande Guerra, estando implícito que
se o homem considerasse Deus como centro de todas as coisas as mortes da
humanidade teriam desaparecido, apresenta sua aversão à revolução sem Cristo, e
a tentativa de pregação de uma democracia cristã dentro da linha de condução
explicitada por Maritain. Segundo Barros (1961?, p.43),
A causa última, remota dos conflitos internacionais [...] Reside no
egocentrismo. É a adoração do próprio eu que trouxe esta tremenda
inversão de valores, causadora do atual conflito. Cabe a culpa
principal aos que não souberam educar orientando para uma
concepção finalista da vida humana.
A Igreja oferece–se como a única saída para o mundo em desequilíbrio, e
a educação aliada à fé configura-se o caminho ideal. Conforme Cury (1984, p.54),
A educação é vista como sendo o veículo indispensável para que a
cura do mal intelectual se dê. Sem ela não haverá restauração e os
espíritos continuarão descrentes e agnósticos. A condição “sine qua”
da restauração é a presença de Deus na escola.
O autor apresenta também uma comparação do homem com a natureza,
e, posteriormente, está implícito o poder do homem sobre ela, no trecho:
23
Alocução à primeira turma de concluintes, no Ginásio Guido de Fontgalland, em 18 /12/1943.
88
“transformamos a face da terra com os prodígios de nossa inteligência” (BARROS,
1961?, p. 44), trazendo à tona o poder do conhecimento humano guiado por Deus.
Em “Palavras de Despedida”24 faz referência às responsabilidades que
virão ao saírem do colégio, onde, afirma ele, tiveram uma vida feliz, para enfrentar
um mundo de turbulências, possivelmente considerando o fato de ser uma época de
guerras, afirmando que os homens estavam privilegiando a matéria em detrimento
do espírito. De acordo com Barros (1961?, p.90),
Os homens esvaziaram a vida humana de seu sentido de sublimidade.
Negaram o espírito para afirmar a matéria. Quiseram reduzir a jogo
cego de forças tudo quanto há de belo e digno dentro do coração
humano. Vazio do sobrenatural afastado de Deus, o homem moderno
sentiu em breve a solidão.
Caracterizando uma postura distanciada de Deus, desagregadora da
essência humana, cita uma fala de Pio XII, no que concerne à postura dos líderes
das nações, em não conseguir garantir uma paz duradoura.
Reafirma ainda o educador, neste discurso, ser o Colégio Guido a
segunda casa de todos que por ali passaram, e onde permanece a lembrança de um
período feliz da construção de
indivíduos próximos ao divino pela instrução
recebida. Deve ser uma busca constante, fala recorrente em “Excelsior” 25, que além
de exaltar a língua portuguesa conta uma história para fazer alusão à persistência e
à firmeza de objetivos que devem ser a busca por Deus, utilizando repetidas vezes a
palavra Excelsior, para o alto.
Expressa também, repetidas vezes, a contraposição ao materialismo
exacerbado que distancia o homem de Deus, conforme afirma (1989, p.58) “ O que
eu vos disser é o fruto de longas reflexões sobre a aplicação dos princípios eternos
da Verdade aos tempos que correm ao ritmo de hoje”, trazendo Deus como verdade,
aspecto do qual o homem moderno distanciou-se incentivado pelo capitalismo
materialista. Isso caracterizou uma bandeira de luta da Igreja Católica, entre as
décadas de 1930 e 1960, com muito mais ênfase do que contra o comunismo,
24
25
Discurso do paraninfo aos concluintes do Curso Colegial de 1946.
Discurso do paraninfo aos concluintes da 4ª série ginasial de 1947.
89
configurando uma guerra psicológica de que se ocupava o Estado. Segundo Barros
(1989,p.88)26
Se o mundo de hoje se perde é porque mergulhou na técnica, no
trabalho exaustivo, deixando de viver integralmente os encantos da
Beleza. E se o Belo da Natureza é esfusiante e sublime é porque é a
face visível de uma Beleza oculta, a translucência da Beleza de Deus.
Em “Sinfonia da Natureza”27 destaca a importância na presença de Deus
nas ações desenvolvidas no Colégio Guido. Compara o coração dos jovens a um
santuário, que só pode ser aberto com a chave do ouro que é o amor.
O texto afirma haver no colégio uma “santa simbiose”, entre diretor,
professores e alunos, configurando a maior glória do colégio, mas, conforme
abordamos anteriormente, alguns fragmentos do seu texto são paradoxais nesse
sentido. A exemplo da abordagem feita em “Dever Esforço União Saber”28, no qual
explicita o sacrifício dos professores em ministrar aulas, com a presença dos
ímpetos adolescentes, muitas vezes demonstradas pela indiferença e ingratidão
aos mestres.
Aborda ainda Barros as paradas escolares e as vitórias esportivas,
desígnios e bênçãos de Deus. Enfatiza a presença de Deus na vida de cada um
quando diz que “Deus comporá uma outra sinfonia, que deves interpretar. É a
sinfonia da tua própria vida” (BARROS, 1989, p.128).
No discurso “Servi a Verdade” 29, o padre educador define a Faculdade de
Filosofia como uma escola tipicamente do espírito, quando afirma:
A Faculdade de Filosofia é a verdadeira antítese dessa concepção
pragmatista da vida.
É a Faculdade que ministra a cultura superior desinteressada, dir-se-ia
mesmo inútil, sonhadora, ideal. É a Faculdade que faz procurar a
cultura pela cultura, sem outro interesse a não ser o apostolado da
própria cultura ( BARROS, 1961?,p. 188).
26
Fragmento do discurso intitulado “Educar para a Arte”, à turma concluinte de Educação Artística de
1977, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Maceió.
27
Discurso de paraninfo aos concluintes do ginásio em 1949.
28
Discurso do Pe. Teófanes às turmas diurna e noturna do curso colegial em 1947.
29
Discurso proferido aos Primeiros Bacharéis da Faculdade de Filosofia de Alagoas.
90
Tal postura fica evidenciada na defesa por um ensino humanista em
contraposição ao tecnicismo e ao pragmatismo da época, caracterizando o mundo
moderno, o que não permitia uma reflexão mais aprofundada sobre o sentido da vida
humana. Cita Aristóteles, pactuando com o pensamento de Maritain contra o
utilitarismo e a necessidade de investir na formação moral. Formação esta desejada
pelo público que procura a Faculdade de Filosofia, que o faz em busca do saber e
do cultivo do espírito. O autor faz uma comparação entre o cosmo e o homem, e a
busca de entendimento da existência humana como motivo para efetivar os estudos
na faculdade, que define como uma instituição católica.
“Existência Autêntica”30 trata de
temas
recorrentes aos discursos
anteriormente proferidos. Retoma o tecnicismo e a estandardização do ser humano
como um aspecto negativo, comparando com a fabricação de automóveis, o que nos
reporta ao taylorismo mecanicista do início do séc. XX.
Identifica-se nele a defesa da existência autêntica no sentido cristão e a
escolha da Faculdade no sentido de servir a verdade. Denomina os egressos de
cavalheiros, aconselhando-os imperativamente em prol de Deus e da pátria, quando
diz (BARROS, 1961?, p.204): ”Estais armados cavalheiros. Ide ao combate, por
vosso Deus e por vossa Pátria”, destacando a missão dos futuros docentes de
filosofia, aliando a motivação divina e a necessidade de calçar sua atividade nos
preceitos cristãos e patrióticos.
Barros publicou um trabalho apresentado em um dos congressos31 da
Campanha de Educação dos Adultos do Ministério da Educação, procedendo uma
análise sobre o desenvolvimento da educação. Trata do tema “educação de adultos
e a democracia”32, elemento importante pela defesa traduzida em suas ações
empreendedoras em Alagoas, visando o ensino noturno tanto em nível secundário,
quanto no ensino superior.
O fragmento de texto a seguir caracteriza a finalidade maior da educação
pela fé destacado por Padre Teófanes. Segundo ele, para reconstruir a sociedade
na base da verdade, possível na busca de Deus,
30
Discurso para a segunda turma de bacharéis da Faculdade de Filosofia.
Não foi possível identificar a data de realização deste congresso.
32
Vale lembrar que Paulo Freire era referência do pensamento esquerdista na época.
31
91
Devemos crer num mundo melhor porque este fermento evangélico
que já superou a escravidão e autoritarismo haverá de fazer surgir
uma sociedade estruturada em outras bases, sociedade que
verdadeiramente proporcione o bem comum a todos os seus membros
e não simplesmente a alguns privilegiados. Isto se fará sob o signo de
um cristianismo autêntico e não simplesmente farisaico de um
cristianismo estruturado de acordo com os ditames dos grandes
pontífices do últimos tempos (BARROS, 1989,p.61).
Caracteriza-se uma Igreja Católica que se ocupa das questões do povo e
do bem comum, propiciado pelos seus representantes no âmbito educacional, e no
incentivo e manutenção destes na direção ou propriedade de escolas e instituições
de ensino superior privadas.
3.4.4 A Questão da “Neutralidade” da Igreja na Condução de uma
Educação Privatista.
É importante destacar que no período abordado neste estudo havia um
forte discurso de esquerda pela educação pública, contrapondo-se ao interesse da
Igreja na privatização. Tal discurso se caracterizava, somado ao lucro33, pela
necessidade de ampliação e manutenção de espaços de consolidação de poder na
educação, inclusive empenhando-se na fundação de entidades responsáveis para a
preservação dos espaços de aprendizado, conforme afirma Neves (2002, p.179):
A criação de entidades representativas dos interesses específicos das
escolas privadas no Brasil, tanto confessionais como laicas,
acompanhou o movimento de socialização da participação política que
se processou no país, no período populista do desenvolvimentismo,
iniciado após a queda da ditadura Vargas.
No setor das escolas confessionais, duas entidades foram criadas: a
Associação de Educação Católica do Brasil (AEC), em 24/11/1945,
cuja atuação passou a incidir sobre a educação básica, e a
Associação Brasileira de Escolas Superiores Católicas (Abesc), nos
anos iniciais da década de 1950, fruto da expansão da atuação
católica nesse nível de ensino.
33
Embora em momento algum esteja exposto nas falas.
92
Essas iniciativas não se apresentavam de forma isolada, mas compondo
um “projeto” nacional, se assim podemos estabelecer, de garantia da inserção
pragmática da Igreja no contexto social, e na busca do controle social pela
articulação política, denominada de não partidária.
A formação de cada jovem nas diretrizes da pedagogia tradicional
difundida pela Igreja Católica se apresenta como uma rede de disseminação, cada
educando representa um elemento multiplicador. Esse movimento acontece tanto no
ensino secundário quanto, e principalmente, em cursos superiores de formação de
professores, a exemplo do curso de Filosofia.
Ao mesmo tempo, apresenta-se também como uma forma de garantir a
priorização das agências educativas estabelecidas pela proposições conservadoras
da Igreja Católica: família, Igreja e o Estado, nessa ordem, preservando à família a
liberdade de escolha quanto à educação dos seus filhos.
Padre Teófanes posicionava-se, declaradamente, a favor da privatização
da educação, com base na concepção de que havia quantitativamente um melhor
atendimento à necessidade de escolarização dos jovens, principalmente quando se
tratava do Nordeste brasileiro. Defendia, norteado pelos princípios estabelecidos no
pensamento católico conservador empreendedor,
a privatização do ensino em
qualquer nível, considerando a garantia da ampliação de oferta e das melhores
condições de ensino. Destaca o padre educador:
A Escola particular educa atualmente mais de 70% de adolescentes
nordestinos e quer ajudar os poderes públicos, cujas escolas não
podem abrigar a todos os que dela necessitam. Mas para isso precisa
do apoio, do estímulo, da ajuda daqueles a quem o povo confia a
missão de governar . Escola média e Faculdades de Filosofia devem
constituir um todo orgânico e inseparável, entre o grande mister de
valorização do homem, de ajuda do mesmo em sua manda à plenitude
do ser. (BARROS,1989, p.53)
Mesmo sua abordagem estando centrada no Nordeste, por ser um sujeito
ativo na educação de Alagoas, a concepção de iniciativas deste tipo transcende esta
região brasileira. De acordo com Chrispim (2007,p.1), não pode passar
desapercebida,
[...] a fundação das Faculdades Católicas, que posteriormente
originariam a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, em
1941. Este traduz algumas das idéias que justificam e impulsionam a
93
criação de uma instituição forte em seus princípios. Entendendo que
foi evidente o interesse central vinculado a atuação da Igreja na esfera
da educação superior com expressivos desdobramentos políticos e
ideológicos.
Entre as décadas de 1930 e 1960, constataram-se incentivos do Estado
para a instalação e manutenção de instituições privadas nos diversos níveis de
ensino, e muitos desses estabelecimentos tinham como mantenedoras organizações
católicas. Segundo publicado no Jornal das Comunitárias em 1998 (apud NEVES,
2002, p.153),
As fontes públicas de financiamento das IES privadas sempre foram e
ainda são muito importantes, ainda que nem sempre visíveis e
facilmente mensuráveis. Segundo Norberto Rauch, reitor da PUC-RS,
em matéria publicada no informativo da Abruc, “A PUC- Rio, PUC-SP
e a PUC-RS [...] e outras universidades privadas, durante as décadas
de 1940 a 1970, contavam com imunidades, diversas formas de
isenção e substanciais subvenções públicas, que chegavam a
representar mais de 50% dos seus orçamentos”.
Além da defesa do ensino privado, a Igreja exigia a colaboração do Estado
no financiamento da ação de privatização da educação. Esta disputa esteve
presente na LDB/61, conforme atesta Saviani (2007,p.308):
Enquanto os debates em torno da LDB se concentravam na
organização do ensino, polarizando–se entre os defensores da escola
pública e da escola particular, a problemática do desenvolvimento
nacional trazia novas exigências para a educação.
O padre educador alagoano comungava com o pensamento pelo qual, a
exemplo das universidades, as escolas particulares que ofertavam outros níveis de
ensino também deveriam ser subsidiadas pelo Estado, objetivando a manutenção
desses espaços em prol da sociedade. Atesta que:
A escola média brasileira, e em especial a Escola Particular, atravessa
em nosso Nordeste a maior das crises, que faz periclitar sua própria
subsistência, pois a braços com a mais importante obra a ser realizada
em nosso País, se vê sem meios, sem estímulos, sem encontrar
solução para os problemas que a afligem (BARROS, 1989,p.52).
A exemplo deste quadro de dificuldades, Padre Teófanes
situação da Sociedade Colégio Guido, afirmando:
justifica a
94
De 1952 a 1961, mantido pela Sociedade Colégio Guido de
Fontgalland, com incríveis sacrifícios, ainda assim, com as minguadas
verbas que recebíamos do Governo Federal e com muitos parcos
recursos próprios conseguimos construir quase todo este edifício que
o era no abrigar. E, mais ainda, demos a Alagoas e ao Brasil centenas
de mestres que começaram de logo um sensível trabalho de
renovação de métodos em nossos educandários.” (1989, p.53, grifo
nosso)
Essa realidade trouxe como consequência as dificuldades enfrentadas
pelos professores no Colégio Guido quanto ao número de alunos em sala de aula ou
à exiguidade de professores pela demanda de discentes, e a impossibilidade de
remuneração adequada, configurando–se uma postura apelativa pela verba pública.
Afirma ainda:
E acresce que aqui não temos problemas dos excedentes porque
abrimos nossa porta de par em par a todos quanto nos procuram e
merecem nosso convívio e nossos professores jamais se recusaram a
ensinar turmas numerosas ou a duplicar seu trabalho com classes
desdobradas, muitas vezes sem qualquer remuneração extraordinária.
São mestres dedicados e idealistas. E eu encho-me de orgulho em
comandá-los há já 16 anos. (1989, p.54, grifo nosso)
Fortalece-se a percepção da docência, como sacerdócio, retratado no
relato da ausência de remuneração, configurando–se trabalho voluntário. Por outro
lado, apresenta benefícios pelo recebimento de verbas públicas ou convênios, para
manutenção dos cursos ofertados e da missão de formação de professores para
atender a necessidade do Estado, apesar de se referir à formação como
adestramento. De acordo com Barros (1989, p.54)
Mais ainda, como se isto não bastasse, estamos mantendo há já 3 (
três) anos cursos intensivos de preparação para professores do
primeiro ciclo, beneficiando assim os educandários do interior de
Alagoas e de Sergipe, estados que já receberam mais de 200 mestres
adestrados em nossa Casa. Mantemos também cursos de
aperfeiçoamento em período de férias, o que tem melhorado de um
modo sensível o ensino médio em Alagoas, tudo isso em Convênio
com a Diretoria do Ensino Secundário. (Grifo nosso)
A defesa de um ensino superior para a elite também permeava o pensar
do padre educador,
em contraposição a um contexto de transformação da
sociedade como um todo pela educação, comungando com a Teoria Positivista, que
95
propõe não perder tempo com aqueles que não foram destinados a “boa colocação”.
Podemos constatar estes elementos, quando afirma:
Mas o ensino superior, meus senhores, tem de ser ensino de elite para
os bem dotados. Não é direito de todos, como o ensino de segundo
grau. O Papa João XXIII em sua grande encíclica Pacem in Terris,
numa bem formulada declaração dos direitos do homem, reconheceu
necessidade de um esforço para garantir o acesso aos estudos
superiores àqueles cuja capacidade o permite (BARROS, 1989, p.151grifos nossos)
Barros denuncia o não atendimento aos preceitos constitucionais no que
tange aos percentuais das verbas dos impostos que deveriam ser direcionados à
educação, e defende remuneração justa aos professores, externalizando que o
investimento público nos colégios privados seria mais vantajoso, quando diz: ”A
ajuda à iniciativa privada seria muito mais eficiente que o ensino oficial. O particular,
forçosamente, zela pela qualidade do ensino que ministra, porque tem que
concorrer” (BARROS, 1961,p.231) de certa forma pactuando com a perspectiva
neoliberal.
O autor retrata no seu pensar e nas suas proposições a adesão ao
pensamento conservador empreendedor católico que não defendia o ensino público
e obrigatório, mas à privatização do ensino e a autonomia da família em decidir
sobre a educação formal de seus filhos, privilegiando uma educação elitista. Além de
garantir a manutenção da presença da Igreja em espaços de consolidação da
religião católica na sociedade brasileira.
96
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As proposições conservadoras e empreendedoras da Igreja Católica
brasileira no âmbito educacional encontram no Padre Teófanes um de seus
discípulos, o que se justifica por três motivos: 1.pelas suas características
empreendedoras, retratadas nas ações abordadas no contexto deste estudo; 2. por
suas crenças no papel da Igreja Católica estarem em sintonia com as diretrizes
conservadoras defendidas em âmbito nacional no recorte temporal analisado na
pesquisa, envolvendo a democracia cristã, o cristianismo para o povo e a
necessidade de ampliação dos espaços para fortalecimento da Igreja; 3. por suas
crenças na condução da educação, principalmente em nível secundário e superior,
estarem em acordo com as orientações defendidas
pela Igreja Católica,
compreendendo a educação pela fé, a educação não obrigatória e a educação
privatista, atendendo à priorização da concepção das agências educativas defendida
pela Igreja.
As agências educativas compreendiam três instâncias: a Família, a Igreja
e o Estado, considerando esta ordem de prioridade, na responsabilidade em suprir
a criança e a juventude de educação formal, em um momento em que a correlação
de forças entre Católicos e Liberais era uma realidade no debate pela definição de
políticas públicas para a educação brasileira, lastreada pela contraposição da
pedagogia tradicional conservadora católica e as ideias de uma educação laica,
pública e obrigatória defendida pelos liberais.
O desenvolvimento deste estudo tornou possível compreender como as
orientações educacionais da Igreja Católica foram se efetivando em todo o território
nacional, principalmente com a inserção de religiosos no comando e na fundação de
instituições
de
ensino
em
diversos
níveis,
declaradamente
católicas
ou
confessionais, a exemplo da fundação das Pontíficias Universidades Católicas,
como a de São Paulo34, do Rio de Janeiro35 e do Rio Grande do Sul36. Como
34
“A PUC-SP foi fundada em 1946, a partir da união da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
São Bento (fundada em 1908) e da Faculdade Paulista de Direito [...] No início do ano seguinte, o
Papa Pio XII concedeu à Universidade Católica o título de Pontifícia e nomeou como primeiro grãochanceler da instituição o cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota. Também arcebispo de
São Paulo, o cardeal Mota foi fundador e um dos principais idealizadores da PUC-SP”
(www.pucsp.br)
97
também na criação e instalação de colégios e faculdades para atender a demanda
das cidades, como a iniciativa de Dom José Maurício da Rocha37 em Bragantina,
entre outros. Iniciativas nas quais não houve possibilidade de aprofundamento pela
exiguidade do tempo estabelecido para o desenvolvimento desta pesquisa.
Em Alagoas tivemos a figura de Padre Teófanes, que pactuando com o
pensamento conservador empreendedor católico, foi responsável pela fundação de
colégios secundários e instituições de nível superior, conforme já detalhado no
desenvolvimento do trabalho.
Nessas circunstâncias, nossa intenção não era elaborar nem um discurso
condenador, tampouco exaltador da figura do padre. Portanto a redação desta
dissertação está marcada por uma tentativa de compreensão do pensamento do
educador alagoano.
As diretrizes norteadoras do pensamento do Padre Teófanes em relação a
educação não podem, apesar de suas características pessoais, serem dissociadas
do contexto reforçado pelo papel da Igreja Católica na educação brasileira, em
sincronia com o movimento orientado pelas intencionalidades de Dom Leme e seus
principais seguidores: Jackson de Figueiredo e Alceu Amoroso Lima. O papel do
Padre Teófanes nos aparece como fortalecedor em Alagoas das proposições
conservadoras e empreendedoras da Igreja Católica em âmbito nacional,
apresentando-se fiel à necessidade de manutenção das diretrizes estabelecidas pela
organização eclesiástica.
Entendemos que Padre Teófanes pode ser considerado mais um elemento
dessa rede de fortalecimento da Igreja, na amplitude territorial de Alagoas. Tal
aspecto nos gera um questionamento: as ações deliberadas pelo padre educador
alagoano encontrariam respaldo para realização efetiva se não houvesse uma
mobilização de forças, em instâncias de poder
35
hierarquicamente superiores às
“A PUC-RIO foi fundada em 1941 por D. Sebastião Leme e pelo Pe. Leonel Franca, S.J., e
reconhecida oficialmente pelo Decreto 8.681, de 15/01/1946. Por Decreto da Congregação dos
Seminários, de 20/01/1947, a Universidade recebeu o título de Pontifícia”( www.puc-rio.br)
36
“Pelo Decreto nº 25.794, de 9 de novembro de 1948, do presidente Eurico Gaspar Dutra, as
faculdades passaram a constituir a Universidade Católica do Rio Grande do Sul, a primeira criada
pelos Irmãos Maristas no mundo”( www3.pucrs.br)
37
“No decorrer de sua caminhada intelectual, Dom José idealizou e fundou o colégio São Luís.
Conseguiu a doação do terreno para que o colégio Sagrado Coração de Jesus se instalasse em
Bragança, e também participou da estruturação da escola Estadual Cásper Líbero, entre
outros”(CHRISPIM, 2007, p.5).
98
locais? Interrogativa gerada no caminhar desta pesquisa, para a qual não houve
possibilidade de resposta na trajetória deste estudo.
Sua produção bibliográfica é muito rica em nuances do seu pensamento, e
de forma geral, ele demonstra estar atualizado no debate que cercava a Igreja à
época. Destacamos, inicialmente, a publicação Na Missão de Afirmar (1981), em que
traz como aspecto central a reflexão e o questionamento sobre a razão da existência
humana, não trazendo elementos focados na educação.
Ele esclarece a sua postura e seu pensar no âmbito educacional, nas
obras: Na Missão de Educar (1961?) e Alocuções (1989), objetos de nossa análise
pormenorizada. Nas produções estudadas, pelos discursos publicizados, podemos
atestar que o pensamento norteador presente nas abordagens feitas por Padre
Teófanes tem lastro consolidado em Jacques de Maritain. Além de ser importante
reafirmar que Jackson de Figueiredo e Alceu Amoroso são referências relevantes na
constituição de suas publicações.
Apesar de variabilidade de temáticas desenvolvidas nas obras, e sendo
possível identificar assuntos recorrentes ou complementares, não identificamos um
aprofundamento dos temas abordados. São obras de exaltação de seu trabalho e
das suas ações empreendedoras, bem como a exposição dos vínculos com o
pensamento católico mais geral.
A valorização da juventude, ponto central da Igreja da época, apresentase como um dos pontos de grande destaque nas proposições do Padre Teófanes,
em vista de seu amplo envolvimento com o ensino secundário.
Externalizava o fato de que a juventude significava o futuro e que este
futuro teria que ser traçado a partir da educação formal de nível secundário que
desse conta do conhecimento geral para a formação do indivíduo projetado para a
fase adulta e que se aproximasse da realidade do mundo fora da escola. O ensino
secundário era tratado por Padre Teófanes como o nível de ensino responsável pela
consolidação do caráter desse jovem.
Associava fortemente a educação formal desse nível com a formação dos
jovens adolescentes, denominando-a como a “educação para a formação do
adolescente”, responsável pela caracterização do adulto e formador do seu destino
na sociedade.
99
A promoção da educação pela fé católica é uma crença disseminada por
Padre Teófanes, permeando suas proposições no âmbito educacional.
desenvolvimento da
O
inteligência humana e a construção e consolidação do
conhecimento, para o educador alagoano, era possível pela revelação divina. O ser
humano nasce com a inteligência e a predisposição ao conhecimento, e a fé católica
contribui para que seja revelada, promovendo a busca da verdade pela aproximação
de Deus.
Outro aspecto recorrente nos posicionamentos registrados nas obras é a
defesa do interesse da Igreja na privatização do ensino, entendendo e declarando
que a iniciativa privada apresentava melhores condições na oferta da educação para
a sociedade.
Entendemos não ter sido possível dar conta de todos os aprofundamentos
que gostaríamos de ter feito em nossa pesquisa, tais como: obter uma visão mais
alargada sobre a relação Igreja e Liberais, bem como Igreja e comunismo; e ampliar
a percepção em relação ao universo de outros padres educadores brasileiros no
séc.XX com propostas empreendedoras.
O presente estudo, pautado em investigar as ideias do Pe. Teófanes
Augusto de Araújo Barros referentes à educação por meio de suas produções
bibliográficas,
e em elaborar uma leitura mais larga em âmbito nacional e
internacional de suas reflexões e proposições no âmbito educacional permitiu-nos
trilhar um caminho de esclarecimentos, descobertas e novos questionamentos.
O estudo em questão inaugura uma ampla possibilidade de surgirem
outros objetos de estudo, considerando o universo do padre educador, por este
caracterizar-se muito largo e importante na construção histórica da trajetória da
educação em Alagoas.
100
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Catalogação na fonte
Universidade Federal de Alagoas
Biblioteca Central
Divisão de Tratamento Técnico
Bibliotecário: Marcelino de Carvalho Freitas Neto
S253i
.
Satírio, Patrícia Borsato.
O ideário educacional católico do século XX na produção bibliográfica do Padre
Teófanes (1930-1960) / Patrícia Borsato Satírio, 2010.
102 f.: tabs.
Orientadora: Maria das Graças Loiola Madeira.
Dissertação (mestrado em Educação Brasileira) – Universidade Federal de
Alagoas. Centro de Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação
Brasileira. Maceió, 2010.
Bibliografia: f. 100-102.
1. Barros, Teófanes de, 1912-2001. 2. Igreja e educação. 3. Ensino religioso Alagoas. I. Título.
CDU: 372.828.2(813.5)”19”
